Foram 19 horas que marcaram a história religiosa do Paraná. A visita do papa João Paulo II a Curitiba –responsável pela maior concentração humana já vista no Estado– completou 21 anos na semana passada. O papa permaneceu no Paraná entre as 16h30 de 5 de julho de 1980, um sábado, até as 11h30 do dia 6, durante a primeira de suas três visitas ao Brasil.
O tempo foi suficiente para que cerca de 1,5 milhão de pessoas se reunissem na cidade para ouví-lo ou vê-lo. Era uma massa humana equivalente a 20% da população paranaense de então (7,6 milhões).
Para isso, foram necessárias apenas três aparições públicas: o trajeto de 17 quilômetros entre o Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), e o Centro da Capital; um encontro com imigrantes, no Estádio Couto Pereira; e uma missa ao ar livre, cujo altar foi montado em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, no bairro Centro Cívico.
Essa última celebração, realizada no domingo pela manhã, reuniu uma multidão calculada em cerca de 1 milhão de pessoas. O tapete humano se estendia por quase um quilômetro, até a Catedral Metropolitana de Curitiba, na Praça Tiradentes. O papa abençoou os fiéis em cinco línguas: português, italiano, polonês, ucraniano e alemão.
Apesar de ser a menor em termos de público, a celebração mais marcante do papa em solo paranaense foi o encontro com imigrantes –principalmente os poloneses, seus conterrâneos. Das 70 mil pessoas que superlotaram o Couto Pereira, no maior público que o estádio já abrigou, 30 mil eram dessa nacionalidade.
Segundo registros dos jornais, entre as 12 cidades brasileiras visitadas, esse foi o encontro em que João Paulo II demonstrou maior alegria e entusiasmo. Enquanto grupos folclóricos poloneses apresentavam danças e canções típicas, ele sorriu muito, bateu palmas, cantou e até acompanhou o ritmo batendo os pés.
‘‘Ele estava realmente muito feliz. Parecia se sentir em casa com a colônia polonesa’’, relembra o arcebispo de Curitiba, Dom Pedro Fedalto, hoje com 74 anos. O Paraná tem a maior comunidade polonesa do Brasil. O arcebispo foi a pessoa que teve contato mais próximo com o pontífice em Curitiba. Recebeu-o no aeroporto, hospedou-o em sua casa e recebeu dele o convite para elevar o cálice com vinho na missa dominical.
‘‘O papa me perguntava sobre o povo. Como vivia, como era sua f钒, revelou Dom Fedalto em entrevista à Folha. O arcebispo, que estava na mesma função na época da visita, ajudou João Paulo II a elaborar uma frase sobre o povo catarinense, registrada depois na Ata Apostólica Sede, publicação oficial do Vaticano, editada mensalmente, e que registra todas as atividades do pontífice. A frase afirma que os catarinenses são um povo religioso e fértil em vocações.
João Paulo II foi o primeiro papa a visitar o Brasil. Esteve no Paraná apenas na primeira missão. Na segunda, em 1991, desembarcou em nove capitais –geralmente as que não havia visitado em 1980. A última visita foi em 1997, quando permaneceu três dias no Rio de Janeiro.
O 21º aniversário da visita de João Paulo II a Curitiba será comemorada hoje, pela comunidade polonesa, no Bosque do Papa. A área verde, no bairro Centro Cívico, foi inaugurada para lembrar a ocasião. Tem uma capela dedicada à Virgem Negra de Czestochowa, padroeira da Polônia, e casas típicas, construídas com troncos de araucária. Uma delas foi transferida para o local depois de ser visitada pelo papa no Couto Pereira.
A programação de hoje começa às 14 horas. Haverá exposição de fotos, apresentação de grupos folclóricos, quermesse de produtos típicos e leitura da biografia de João Paulo II.
Com material de arquivo da Agência Estado