Uma das maiores usinas hidrelétricas do planeta está envelhecendo e muitos de seus equipamentos devem passar por processo de modernização, uma vez que a vida útil deles, de 30 anos, já foi superada e tem perto de 38 anos. A Binacional Itaipu iniciou suas operações em 1984 e tem uma potência instalada de 14 mil megawatts. Fornece 85% da energia consumida no Paraguai e em torno de 10% da energia consumida no Brasil.

O processo de modernização de Itaipu deve durar 14 anos
O processo de modernização de Itaipu deve durar 14 anos | Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional

Rogério Piccoli, gerente-executivo do comitê gestor do plano de atualização tecnológica, ressaltou que o objeto principal desse plano é a atualização da usina propriamente dita, de todos os sistemas de proteção, do controle centralizado da usina e dos sistemas de monitoramento relacionados às 20 unidades geradoras e da subestação isolada a gás, dos serviços auxiliares da usina, das comportas do vertedouro e da barragem, além de toda a fiação de força e controle desses dispositivos e do sistema de medição e faturamento da usina.

“Desde que a usina de Itaipu começou a funcionar, em 1984, são as mesmas máquinas que garantem a produção de energia. A gente está falando dos sistemas elétricos e eletrônicos que controlam, protegem e monitoram essas máquinas”, explica.

Piccoli ressalta que os equipamentos nunca passaram por um plano abrangente de atualização. “Foram realizadas algumas intervenções pontuais, mas nada parecido com o que vai ser feito agora, que é realmente colocar [a usina] em um outro nível tecnológico. A usina ficará em um nível totalmente digital.” Serão substituídos cabos de cobre por fibra óptica e serão atualizados 2 mil painéis que, após a digitalização, serão capazes de informar a situação de cada turbina, determinando quando as manutenções são necessárias.

MAIOR INVESTIMENTO

Esse será, segundo Piccoli, o maior investimento na usina desde que Itaipu foi construída. A assinatura do contrato com o Consórcio Modernização de Itaipu, que é formado por empresas brasileiras e paraguaias e vencedor da licitação binacional, ocorreu no dia 11 de março deste ano, com valores em reais e guaranis (moeda paraguaia), conforme a taxa de câmbio da véspera da apresentação das propostas. Na época (abril de 2021), os US$ 649 milhões equivaliam a R$ 3,7 bilhões.

Questionado se esse investimento terá reflexo na conta de luz do usuário, ele garantiu que não vai ter esse impacto. “Não tem nada disso previsto. Esse dinheiro é distribuído ao longo dos 14 anos em que esse processo de modernização será realizado e faz parte dos cursos de exploração da Itaipu, assim como qualquer outro projeto que a gente executa”, declarou Piccoli.

A usina hidrelétrica fornece 85% da energia consumida no Paraguai e em torno de 10% da consumida no Brasil
A usina hidrelétrica fornece 85% da energia consumida no Paraguai e em torno de 10% da consumida no Brasil | Foto: Rubens Fraulini/Itaipu Binacional

Outros contratos ainda serão assinados para a atualização da Subestação da Margem Direita; a construção de almoxarifados; a implantação de centros de integração de sistemas e capacitação; e o fornecimento de serviços de apoio de engenharia. Esses projetos estão em fase de licitação ou especificação de edital e poderão elevar os investimentos totais a US$ 900 milhões.

O processo de modernização deve durar 14 anos. O certame foi dividido em três lotes independentes e os vencedores devem formar um consórcio binacional. Integram o consórcio vencedor, agora denominado CMI (Consórcio Modernização de Itaipu), duas empresas brasileiras (GE Energias Renováveis e Grid Solutions Transmissão de Energia) e duas paraguaias (Tecnoedil e CIE) .

Para se ter ideia da dimensão do projeto, serão removidos 10 toneladas de tubos elétricos de aço e 50 toneladas de bandejas de aço. “A gente conseguiu passar um bom tempo da vida útil do equipamento atual, mas chega aquela hora em que começa a ficar muito complexo o processo de manutenção. A gente começa a ter mais dificuldade para encontrar peças sobressalentes quando precisa delas e esse trabalho não vale muito a pena, então é melhor modernizar todo o sistema para eliminar esse problema.”

MAIS SENSORES

Os novos equipamentos devem fornecer muito mais informações. “Você tem mais sensores instalados e a informação vem de forma muito mais rápida e mais completa para as nossas equipes de operação e manutenção.” A troca de sistemas será altamente complexa. “Será como trocar o pneu de um carro de Fórmula 1 em movimento”, comparou.

As turbinas e geradores não vão ser substituídos neste momento. “Os componentes eletromecânicos principais possuem vida útil teórica em torno de 50 anos, e pelo nosso monitoramento, o estado de conservação ainda é excelente e a estimativa hoje é de que eles durem mais de 30 anos, pelo menos, sem necessidade de substituição.

PLANEJAMENTO

O diretor técnico executivo de Itaipu, David Krug, menciona que a modernização da usina é resultado de um amplo planejamento, que começou no início dos anos 2000 e passou por várias fases. Segundo ele, o investimento é necessário porque muitos equipamentos ainda são analógicos ou tecnologicamente defasados, operando há quase 40 anos. Em alguns casos, o fabricante não existe mais, impossibilitando a reposição de peças.

“Quando eu atualizo a usina, elimino essa questão da sobressalência [de peças]”, diz. “O grande ganho é esse: eu trago a usina para uma nova situação de tecnologia e de eficiência dos processos de operação e manutenção.”

Para o presidente e CEO da Divisão da GE Hydro para a América Latina, “esta atualização tecnológica, com o que há de mais moderno no mercado, proporcionará maior segurança e contribuirá para garantir a continuidade de alta disponibilidade na operação, marco da usina em todo mundo, além de uma manutenção ainda mais eficiente”.

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