Utilizar a bicicleta por uma semana para ir e voltar ao trabalho foi o desafio que enfrentei para esta reportagem. Sem traquejo para pedalar no trânsito intenso do Centro, contei com a valiosa ajuda do "bike anjo" Alexandre Ferreira Gregório, integrante de um grupo de voluntários dispostos a apoiar ciclistas iniciantes que pretendem adotar a bicicleta no dia a dia.

Munida de capacete e luvas – considerados equipamentos básicos de segurança –, recebi as primeiras lições práticas para trafegar e me lancei às ruas de Londrina.

Manter-se sempre à direita e sinalizar com as mãos a cada mudança de direção foram as primeiras regras de ouro. Acompanhada por Alexandre, venci o trajeto de três quilômetros entre minha casa e o Centro em 15 minutos, um pouco mais rápido do que enfrentar o trânsito congestionado da manhã à bordo de um carro. Ao final, a maior vantagem foi não ter que procurar um disputado lugar para estacionar.

No trajeto, o único susto veio na Avenida Santos Dumont. Fomos recebidos a buzinadas e comportamentos hostis por alguns motoristas apressados e pouco afeitos a dividir o espaço das ruas com bicicletas. Alexandre, com sua experiência, me avisou que o melhor é ignorar as buzinadas e seguir o trajeto, o que fizemos com tranquilidade. Na rua Pará, a presença de caminhões descarregando mercadorias me inibiu, mas segui as regras e ultrapassei em segurança os veículos.

Na hora de retornar, novo desafio: enfrentar sozinha, sobre duas rodas, o trânsito da cidade. O que parecia difícil acabou sendo uma experiência bastante agradável. Sem ladeiras pelo caminho, aproveitei a sensação boa de pedalar com o vento no rosto.

No dia seguinte, percorri com o bike anjo Alexandre outra opção de trajeto, pela avenida Celso Garcia Cid até a rua Souza Naves. Apesar da via estreita e da maior presença de ônibus, este caminho apresentou vantagens em relação ao anterior, principalmente pelo relevo menos íngreme e pela menor velocidade dos carros, o que pareceu menos ameaçador para uma ciclista iniciante como eu.

A meta de usar a bicicleta por uma semana não foi totalmente atingida por causa da chuva. O contratempo climático, aliás, já indicou a primeira barreira para adoção total do meio de transporte: em dias de chuva, é preciso contar com uma alternativa para se locomover pela cidade.



Outra dúvida era onde deixar a bicicleta enquanto permanecia no trabalho. Sem paraciclos ou bicicletários disponíveis, procurei alguns estacionamentos da região para negociar um espaço. Um deles negou o serviço e outros dois estabelecimentos mostraram-se surpreendidos pela demanda, mas ofereceram guardar meu "veículo" por R$ 30,00 e R$ 40,00 mensais. Apesar do valor corresponder a um terço do preço cobrado para guardar carros, ter que pagar para proteger a bike não pareceu atrativo para quem pensa em usar o meio de transporte para economizar.

Em geral, a experiência mostrou que o uso de bicicletas é absolutamente viável, guardadas limitações de clima e distância. Solucionar a falta de estrutura e equipamentos urbanos para facilitar o deslocamento não motorizado pelas ruas da cidade e realizar ações que incentivem maior tolerância por parte dos motoristas, porém, são necessários para tornar mais viável a adoção das bicicletas no dia a dia.

Na minha rotina, já não uso automóvel para vir ao trabalho há alguns anos, justamente por considerar o modal ineficiente para quem precisa transitar pela região central. Concilio carona e transporte coletivo e, depois da experiência de pedalar até o trabalho, vou incluir a bicicleta no conjunto de meios de transporte que garantem minha mobilidade(C.A.).