A executiva de RH (Recursos Humanos) Patrícia Santos, fundadora da EmpregueAfro, consultoria focada na diversidade étnico-racial, afirma que em apenas 4,6% das 500 maiores empresas do País há mulheres em cargos executivos. E quando se faz o recorte para mulheres negras executivas, o percentual é ainda menor. "Hoje, há 32% de mulheres executivas, mas apenas 0,4% são negras. Para nós, vencer a barreira do machismo e do racismo é muito mais difícil. Temos que enfrentar o preconceito duas vezes", diz.

A consultora esteve em Londrina dia 20 de março, ministrando palestra sobre Empregabilidade e Diversidade. "Falar sobre empregabilidade é importante para lembrar ao profissional negro que existem pessoas que querem incluí-lo no mercado de trabalho e dar oportunidade e deixar um recado às empresas que a população negra e parda é a maior parte da população economicamente ativa e as empresas devem ter em seus quadros funcionários negros para que tenham um alcance maior de clientes", afirma.

Segundo ela, os profissionais afrodescendente não têm dificuldades para se colocar no mercado de trabalho em cargos operacionais como linhas de produção, recepção, limpeza. A grande dificuldade é atingir os cargos de liderança e executivos. Para a consultora, o racismo estrutural no País impende que os profissionais cresçam e também mostra o despreparo das empresas na questão de diversidade e inclusão.

"Temos apenas 12% das 150 maiores empresas com algum trabalho de inclusão de mulheres e negros. Ainda é preciso muito engajamento para que os quadros das empresas possam refletir o que é a sociedade brasileira", afirma.

Ela enfatiza que as empresas precisam investir em treinamentos, palestras, rodas de conversas para falar sobre diversidade e inclusão étnico-racial e, a partir desse engajamento, implementar ações de políticas de inclusão.

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

A consultora fará palestra em oito cidades brasileiras, patrocinadas pela multinacional Monsanto, que tem um programa de estágio na área do agronegócio para jovens talentos negros. "Há menos de 1% de negros trabalhando no agronegócio", afirma.

Há quatro anos, a Monsanto tem um programa de estágio corporativo, mas há um ano reforçou o foco na contratação de jovens talentos negros. Para isso, fez um posicionamento da marca. "O negro não se vê como participante da sociedade. Ele não se sente capaz de participar de uma multinacional", comenta Aline Cintra, líder de aquisição de talentos da Monsanto para a América do Sul.

Esse posicionamento envolveu parcerias da empresa com instituições como a EmpregueAfro e a aproximação com universidades para conversar com a população negra. "Antes dessa iniciativa o número de candidatos inscritos que se caraterizavam com negros e pardos era marginal e apenas 5% dos participantes eram aprovados. No último processo seletivo, 20% dos 10 mil inscritos eram negros e pardos e 28% dos aprovados ingressaram na Monsanto", conta Cintra.

Para atingir esses percentuais, a corporação fez concessões como: aceitar o inglês intermediária ao invés do fluente, tirar o filtro de universidade e de idade. Também implementou uma nova política para os estagiários, com investimento no aprendizado do idioma durante o estágio.

A Monsanto também adotou um programa de monitoria para trabalhar as questões de autoestima e relacionamento. "O negro tem necessidade de autoafirmação e isso é um obstáculo no relacionamento de network. Queremos com a monitoria prepará-los para ingressar na Monsanto como funcionários ou que eles vislumbrem novas empresas", afirma a líder.

A multinacional fez um trabalho interno de conscientização sobre a inclusão com as lideranças. "Diversidade e inclusão são coisas diferentes. Ter diversidade na empresa é fácil. A inclusão é mais difícil e importante, pois é ela que determina a diversidade", diz Suellen Camargo, analista de RH da Monsanto. (A.M.P)