A paisagem de transição entre o segundo e o terceiro planaltos paranaenses está fazendo Apucarana se movimentar para abocanhar um naco da receita do turismo regional, modalidade mais promissora do segmento para os próximos anos.

A paisagem da transição entre o segundo e o terceiro planaltos paranaenses está fazendo Apucarana se movimentar para abocanhar um naco da receita do turismo regional
A paisagem da transição entre o segundo e o terceiro planaltos paranaenses está fazendo Apucarana se movimentar para abocanhar um naco da receita do turismo regional | Foto: Cristiana Vermelho/Divulgação

O município está se preparando para popularizar a marca Serra de Apucarana entre os operadores de turismo regional e os usuários das mídias sociais. O apoio do poder público ao projeto está garantido na atual gestão municipal por um motivo muito simples, o prefeito é o maior entusiasta da ideia e padrinho da futura rota turística.

“Nossa região é o encontro de tipos diferentes de vegetação, onde podemos encontrar uma peroba e uma araucária próximas, gigantes de florestas diferentes. A transição dos planaltos é uma grande atração, o que é possível entender olhando a paisagem em amplitude”, lembra Sebastião Ferreira Martins Junior, o Junior da Femac, eleito em 2020.

Até agora, o poder público deu três passos concretos para fomentar a vinda de turistas. A primeira foi a identificação do destino com a instalação de placas nas rodovias BR-369 e PR-170. A segunda foi uma melhoria feita pelo Departamento de Estradas de Rodagem no pavimento da chamada Rodovia do Milho, que seria o eixo principal do novo selo turístico, mais precisamente um trecho de seis quilômetros a caminho de Cambira. E a terceira ainda em processo de negociação com a Copel é a distribuição da eletricidade no sistema trifásico, que suporta unidades consumidoras de grande porte.

O projeto de desenvolvimento turístico, que deve ter apoio do governo estadual, pretende aproveitar instalações já existentes para estimular outros investimentos. Por enquanto, uma casa de vinho que vem causando sensação entre os apreciadores da bebida é o carro-chefe da rota. Mas há outras opções no trecho, como pesqueiros, pomares com visitação e chácaras de lazer. Em breve, um café colonial com vista panorâmica deve ser inaugurado.

“Roteiro vai explodir”

São propriedades que chamam atenção pelos ativos naturais típicos de outras regiões serranas - o silêncio e a tranquilidade da zona rural, o vento fresco e a vista deslumbrante a partir de um espigão - e que fizeram ciclistas, peregrinos, caminhoneiros, praticantes de esportes radicais, outros viajantes alternativos (que chegam no local até mesmo conduzindo motorhomes) e, principalmente, famílias em carros de passeio, a divulgarem a região no tradicional método boca a boca. “Com um plano de divulgação bem estruturado, este roteiro vai explodir”, aposta o prefeito, argumentando, sobretudo, que a localização é privilegiada, num ponto quase equidistante entre as duas mais populosas cidades do interior paranaense, Londrina e Maringá.

“Nossa região é o encontro de tipos diferentes de vegetação, onde podemos encontrar uma peroba e uma araucária próximas, são gigantes de florestas diferentes", ressalta o prefeito Junior da Femac
“Nossa região é o encontro de tipos diferentes de vegetação, onde podemos encontrar uma peroba e uma araucária próximas, são gigantes de florestas diferentes", ressalta o prefeito Junior da Femac | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Andreia Rinaldo, superintendente do Departamento de Turismo da prefeitura, acredita que Apucarana pode se consolidar no turismo regional nos próximos anos justamente porque os especialistas preveem que o ciclo pós-pandêmico será caracterizado por viagens mais curtas e frequentes. “Neste contexto, teremos um excelente produto para oferecer.” A gestora acredita que a resistência de parte dos contribuintes para investimentos públicos em turismo nas cidades com pouca tradição nesse segmento só é rompida quando os bons resultados começam a aparecer, com a geração de renda e empregos. “Estamos trabalhando para que a cidade entenda este processo”.

Pioneirismo e inspiração

Com as vantagens e desvantagens do pioneirismo, a Casa Carnasciali, uma vinícola que já está na terceira safra após um longo processo de preparação, é uma grande inspiração para futuros investidores. Com referências à atmosfera de alguns châteaux franceses, onde a cultura do vinho é celebrada ao ar livre junto a paisagens marcantes, com degustação coletiva de rótulos festejados, bistrô dedicado a alta gastronomia, onde também estão disponíveis chalés para pernoite ou boxes equipados para paradas mais longas de motorhomes, a vinícola tem impressionado muita gente e causando espanto nas redes sociais por sua localização.

“Temos interesse que o roteiro se consolide e que outros investidores passem a produzir uvas para vinhos finos neste mesmo terroir. Isso vai fortalecer também nossos rótulos e criar um ambiente de cooperação muito saudável”, avalia o empreendedor Rogério Carnasciali. Até agora, o rótulo mais promissor da casa é o branco Chardonnay varietal, mas há bons sinais nos rosés e nos espumantes das primeiras safras. Na propriedade de poucos alqueires, são plantados três tipos de uva - as outras são Pinot Noir e Syrah.

No momento, os grandes gargalos da operação deste pequeno complexo voltado a um consumidor sofisticado é o padrão da energia elétrica, ainda aguardando a conversão para o sistema trifásico, a qualidade da internet e a largura da rodovia, que provoca dificuldades para manobras dos motorhomes que acessam a propriedade. “Há também muita dificuldade no acesso ao crédito, um problema que resolvemos após muitas decepções”, alerta Cristina, esposa que é muito ativa no projeto, lembrando um obstáculo recorrente para o setor produtivo do País.