A delegada de Umuarama, Rosimari Silva de Souza, acredita que exista uma grande quadrilha especializada na falsificação de documentos para ‘‘transformar’’ brasileiros em descendentes de japoneses. A organização teria líderes em São Paulo e ramificações em vários estados. Ela também desconfia da participação de cartórios de registro civil na falsificação das certidões.
A delegada começou a investigar a quadrilha em abril, quando cinco pessoas registraram queixa alegando ter sido vítimas do golpe. As vítimas pagaram em média R$ 9 mil para obter os documentos e ir para o Japão trabalhar, mas acabaram presas e deportadas porque o serviço de imigração japonesa descobriu a fraude.
A delegada expediu carta precatória para a polícia de São Paulo ouvir o empresário Bernando Naoki Yoshima, dono da WA Turismo, citado pelas vítimas como um dos integrantes do esquema. Em Umuarama, foram indiciados José Carlos Geraldi e Lauro Yoshyas Morikawa, dono da agência de Turismo Nypon. Geraldi chegou a ser ouvido e negou as acusações. Disse que a Nypon fechou em maio de 99 e que apenas ajudou três pessoas a obter o visto para ir ao Japão como turistas. Ambos estão desaparecidos.
Rosimari também requisitou informações à Vara de Registros Públicos sobre certidões que teriam sido expedidas pelo Cartório de Registro Civil de Umuarama. Nas certidões falsas, os brasileiros que queriam ir trabalhar no Japão ‘‘ganharam’’ avós japoneses ou de descendência japonesa.
Nas certidões recolhidas pela polícia de Umuarama, os registros teriam sido feitos em cartórios de Umuarama, Campo Mourão, Ibiporã, Matelândia, Santos (SP) e Campo Grande (MS). ‘‘Vamos confrontar estes documentos com os registros existentes no cartório para tentar descobrir como as falsificações foram feitas’’.
As vítimas em Umuarama não querem ser identificadas e alegaram desconhecer que o procedimento envolvia falsificação de documentos. O casal D.C. e E.A.C. pagou R$ 9 mil para Nypon e viajou em março de 1999 apenas com visto de turista e a promessa de que lá receberiam o visto permanente. Enquanto estavam no Japão, agenciadores providenciaram três renovações do visto.
Em setembro do ano passado, o casal foi ao serviço de imigração requerer o visto permanente. Os dois foram presos e informados que as certidões e os vistos obtidos anteriormente eram falsificados. Os dois ficaram presos 28 dias até serem deportados. A delegada acredita que o número de pessoas lesadas em Umuarama e outras cidades seja muito grande. Porém, a maioria não vai denunciar porque sabia que o esquema era ilegal.