Na contramão dos agricultores convencionais está Bruno Pascuetto, 30, paisagista e técnico ambiental que está atuando na produção de agrofloresta em uma propriedade de Cambé. Ele transformou 2.000 m² de uma área pouco produtiva da Fazenda Alto Alegre em terreno para o cultivo de orgânicos em sistema agroecológico.

Bruno Pascuetto, 30, aposta no sistema de agrofloresta em uma propriedade em Cambé
Bruno Pascuetto, 30, aposta no sistema de agrofloresta em uma propriedade em Cambé | Foto: Gustavo Carneiro

“Faz um ano que estou tocando o projeto, aprendendo o clima, os defensivos naturais, cada espécie de planta, aprendendo sobre pragas, épocas de plantação e colheita, tudo na prática e sempre estudando”, afirma.

Como o trabalho ainda está se iniciando, o técnico afirma que o momento é de investimento para conseguir tirar renda do espaço. “No meu ponto de vista, toda propriedade maior, como sítio ou fazenda, tem um pedaço abandonado que daria para fazer algo. Com trabalho eu acredito que possa tirar um resultado legal”, defende.

SISTEMA

Como o espaço destinado a esse sistema de agricultura fica próximo ao cultivo de grãos em sistema convencional, Pascuetto explica que é necessário fazer cerca viva para evitar que os agrotóxicos invadam o limite.

A barragem natural faz a proteção para a sintropia, em que uma cultura orgânica ajuda a outra, promovendo diversidade de cultivo em um mesmo espaço, obedecendo tempo e comportamento de cada espécie. ”Com 30 dias tira a rúcula, 60 o repolho, 120 o brócolis, assim vai. É uma vantagem. Um pomar de laranja, com 50 mil pés, por exemplo, quanto tempo vai ficar com a terra vazia até tirar alguma coisa?”, questiona.

Pascuetto afirma que no Brasil já há produção em escala nesse sistema que não agride o meio ambiente nem a saúde humana. Para ele, essa é uma alternativa aos sistemas convencionais e que pode ser também aplicado nos espaços abandonados das propriedades, onde há morros e lamas. “Com a agrofloresta dá para produzir em qualquer lugar, você só precisa estudar para escolher a cultura que vai dar para plantar ali”, afirma.

DESAFIOS

Sem maquinários desenvolvidos, o sistema exige mão de obra, algo cada vez mais difícil no campo. O comércio também é um desafio. “O produto acaba sendo mais caro, porque tem que pagar por mais mão de obra, mas tem gente que não vai se importar em pagar mais, é menos agrotóxico e menos remédio para tomar”, argumenta. Para ele, a maior vantagem é a saúde, beleza do lugar e o trabalho manual, com maior contato com a natureza.

Com a experiência, o técnico estuda quais culturas estão se desenvolvendo e avalia a comercialização de pimentas. A intenção é fechar parcerias para cada cultivo, possibilitando a entrega de manjericão, orégano, salsinha, que também estão se desenvolvendo. “A ideia é criar uma indústria rural de alimentos”, planeja. Ele explica que qualquer cultivo pode ser implantado nesse modelo e que tudo depende da experiência e estudo contínuo, já que estão lidando com diversas culturas em um ambiente diverso e livre de agrotóxicos.

CAMINHOS

Mas esse é só um dos modelos que podem ser implantados na busca por uma agricultura sustentável. Maurício Ventura, professor do departamento de agronomia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), explica que dentro da agricultura convencional existem estratégias para minimizar o uso de defensivos, diminuindo a exposição e a possibilidade de intoxicação. O professor também pratica a agricultura orgânica atendendo aproximadamente cem agricultores certificados ou em processo de certificação na região.

A ideia é que a longo prazo as duas agriculturas se desenvolvam no mesmo objetivo até que se tornem uma. “Nós temos que aumentar a eficiência da produtividade do trabalho no orgânico e tornar a convencional mais ambientalmente favorável para que, no horizonte de alguns anos, as duas se fundam para se tornarem uma só”, argumenta.

A proposta vai contra a fala do deputado federal Pedro Lupion (DEM-PR), que, na audiência pública na Câmara dos Deputados realizada recentemente, afirmou que “sem defensivos agrícolas, não existe a mínima possibilidade de produzirmos o que conseguimos no País.”

O professor apresenta que algumas propriedades de orgânicos já são mais eficientes em produtividade com relação à agricultura convencional. Ele também afirma que o produtor que economizar em agrotóxico terá mais investimento para aumentar sua produtividade.

Como exemplo, Ventura cita a fazenda ecológica São Francisco, no interior de São Paulo, que produz mais de 15 mil hectares de cana-de-açúcar orgânica. “É possível produzir da mesma maneira ou até superior da convencional. Nós temos que investir em pesquisa. Hoje ainda falta capacitação, treinamento, mas é possível chegar lá”, argumenta.

Segundo ele, a produção alternativa já é competitiva no mercado. “Nós fizemos um estudo de sete anos comparando rentabilidade. A produção de orgânicos foi apenas 4% menor, só que em rentabilidade foi muito maior”, afirma explicando que, de maneira geral, o custo de produção sem agrotóxicos é menor e possui valor comercial maior.

Na região de Londrina, a produção de olerícolas livre de substâncias tóxicas já consegue competir em um mercado em expansão. “Qualquer consumidor que você perguntar vai preferir orgânico, como ainda tem um percentual pequeno de agricultores que apostam nisso, há logística mais cara de distribuição no supermercado, mas a medida que vai ganhando escala, essa produção fica mais perto do centro do consumidor, vai abaixar o custo e vai aumentar demais a oportunidade do produtor orgânico”, afirma.

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