Doenças que eram consideradas controladas ressurgem com o mesmo estigma de quando –há décadas ou séculos atrás– eram responsáveis por dizimar grande parte da população: o preconceito. ‘‘Existe uma dificuldade grande em lidar com a desinformação das pessoas comuns e até de profissionais’’, alerta a auxiliar administrativa Francisca Barros da Silva Biscoiski, 45, de Curitiba, vítima de hanseníase. Ela conta que, quando percebeu a doença, há 24 anos, tentou suicídio porque um médico disse que ela não tinha chances de sobreviver.
Natural do Amazonas, Francisca chegou à capital paranaense aos 15 anos, e aos 21, os primeiros sintomas da doença começaram a aparecer, em forma de manchas brancas na pele. ‘‘O médico que consultei disse que era doença venérea e fiquei um ano fazendo tratamento para a doença errada’’, lamenta.
Como as manchas não desapareciam, ela procurou outros médicos, até que o diagnóstico correto fosse realizado. ‘‘Tive ajuda de muitas pessoas e até mesmo de profissionais que encontrei. Essa força também ajuda no tratamento.’’
Em dois anos, Francisca estava completamente curada, mas a demora no diagnótico e no tratamento correto a deixou com sequelas nas mãos e nos pés. Para ela, a dificuldade maior em todo esse processo não foi lidar com a doença em si, mas com os profissionais que não acreditavam na cura.
O lavador de carros aposentado J.A.B.S, 44 anos, de Londrina, conhece bem os efeitos da discriminação. Contaminado pela hanseníase há cinco anos, ele foi abandonado pela família e parou de trabalhar por falta de condições físicas. ‘‘Quando a doença é descoberta e tratada no começo, a cura é 100%. Comigo isso não aconteceu porque o primeiro diagnóstico deu negativo e a certeza só veio dois anos depois’’, conta.
O atraso no início do tratamento atrofiou os dedos das mãos de J.A.B.S., provocou a perda dos movimentos na mão direita e a amputação de quase todos os dedos dos pés. Além disso, ele sente muitas dores no corpo porque a doença afeta diretamente os nervos. ‘‘A dor é constante e os remédios só amenizam um pouco’’, explicou.
O trabalhador rural Elias da Silva, 40 anos, de Londrina, é outra vítima da doença. Desempregado há cerca de sete anos, ele acompanha a transformação da mão esquerda em garra. ‘‘Não consigo trabalhar. O mal-estar é muito grande e o medo das pessoas também’’. Segundo ele, a sequela é resultado da interrupção do tratamento durante a época em que morou em Mato Grosso.
A dona-de-casa S.H.C, 34 anos, teve mais sorte. Ela descobriu a doença logo no início e está curada há dois anos e meio. Mesmo assim, não escapou do preconceito. Lembra que a sogra queria que ela separasse seus pratos e talhares dos filhos.
Para quem tem dúvidas sobre a hanseníase, a Secretaria de Estado da Saúde tem um departamento específico para controle e prevenção da doença. O telefone da Coordenação Estadual do Programa de Prevenção à Hanseníase é (0xx41) 330-4551.