PR é laboratório de transgênicos
PUBLICAÇÃO
sábado, 17 de março de 2001
Denise Angelo De Ponta Grossa
Das 68 áreas já autorizadas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para plantio de soja transgênica no Brasil, 28 estão localizadas no Paraná. Isso representa aproximadamente 41% do número total de áreas liberadas para estudo desde 1997. Na cultura do milho, o Estado também aparece entre os preferidos para o desenvolvimento de pesquisas. Das 792 áreas liberadas, 178 ficam em terras paranaenses, o que equivale a cerca de 22%.
Ponta Grossa é o município campeão em áreas liberadas aos estudos da soja. Desde 97, já foram desenvolvidos oito campos experimentais na cidade. Em seguida vem Londrina, que já abrigou seis áreas de soja transgênica, Rolândia, com cinco áreas e Cascavel com quatro. Os campos experimentais de soja estão presentes ainda em Palotina, Toledo, Santa Tereza do Oeste, Campo Mourão e Jataizinho. Em compensação, a pesquisa do milho está totalmente espalhada pelo Estado. A CTNBio liberou áreas em 27 municípios.
São cinco empresas que estudam a soja transgênica no Paraná e sete fazem pesquisas de milho geneticamente modificado. Apesar de bastante numerosas, as pesquisas estudam basicamente os mesmos itens: a resistência da soja modificada aos insetos, ao glifosate e a resistência aos herbicidas do grupo imidazolinonas.
Quando uma empresa estuda a resistência da soja ao glifosate e aos herbicidas, ela adota uma linha de pesquisa de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) com resistência a produtos químicos. São os chamados transgênicos de origem química, cuja pesquisa predomina na soja.
Já quando a pesquisa quer descobrir a resistência do produto aos insetos da ordem lepidóptera (borboletas e lagartas), significa que aquele produto sofreu uma mudança genética capaz de matar a lagarta que a come. Esse evento é de ordem biológica e se concentra na pesquisa do milho, embora também esteja presente nas pesquisas do soja.
Segundo o chefe do Setor de Comércio e Uso de Agrotóxicos da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, também responsável pela área de transgênicos, Alvir Jacob, é justamente esses estudos, de ordem biológica, que despertam maior preocupação nos grupos de controle do desenvolvimento da pesquisa no País. A grande questão brasileira está centrada nisso. Descobrir qual o impacto que a utilização de uma tecnologia dessa natureza ocasionaria na biodiversidade de cada região, revela. Esse é, segundo Jacob, o maior impasse entre as duas correntes que discutem a liberação dos transgênicos, uma contra e outra a favor.
O representante do Ministério da Agricultura na CTNBio, Paulo Luiz Valério Borges, explica que ainda não existe uma análise sobre os dados apresentados pelas empresas com relação ao impacto ambiental das pesquisas. Ao concluir a experiência, as empresas nos encaminham um relatório, mas ainda não fizemos uma tabulação desses dados, informa.
Segundo ele, a análise do impacto ambiental ainda é difícil de ser feita porque as áreas liberadas para as pesquisas são pequenas, em média meio hectare, o que pode mascarar o real impacto sobre a biodiversidade.
A outra grande discussão sobre os transgênicos envolve a segurança alimentar. Como ainda não existem estudos conclusivos a respeito, Jacob acredita que o melhor caminho é a cautela. Não podemos nos precipitar porque somos o continente com maior potencial de incorporação de áreas agricultáveis do mundo e podemos ter a liderança na produção mundial de alimentos, desde que pesquisas desse porte sejam feitas com responsabilidade, considera.
Jacob diz que é natural o fato do Paraná concentrar as pesquisas de OGM no País. Estamos falando de uma região que ocupa uma posição de vanguarda na produção de tecnologias para as lavouras de soja e milho. A opinião é compartilhada por Paulo Borges, do Ministério da Agricultura.
Jacob ressalta ainda outro aspecto importante na hora da escolha das empresas pelo Paraná. Quando os transgênicos forem liberados comercialmente no País, o Paraná será um dos principais mercados para essa tecnologia, considera. Para Borges, o fato do governo do Rio Grande do Sul ter proibido até mesmo áreas experimentais de transgênicos, também deslocou as pesquisas para cá.