ONG quer apoio da sociedade para conservar a Mata dos Godoy
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sexta-feira, 06 de abril de 2018
Vítor Ogawa<br>Reportagem Local
Um projeto da ONG MAE (Meio Ambiente Equilibrado) foi selecionado pelo edital Biodiversidade do Paraná, que é exclusivo para o território paranaense e realizado pela Fundação Grupo Boticário em parceria com a Fundação Araucária. O "Godoy + 1000: seguindo o Caminho das Antas", tem como objetivo ampliar a área do Parque Estadual da Mata dos Godoy, que possui 675,70 hectares de floresta subtropical, e está inserida no bioma Mata Atlântica, com aproximadamente 200 espécies de árvores. Foram destinados R$ 149.828,00 para requalificar territorialmente a região do "Grande Godoy", que fica próxima do parque e possui mais de cinco mil hectares.
O ambientalista Gustavo Góes é o responsável técnico do projeto e afirma que o objeto do trabalho recebeu esse nome porque a Mata dos Godoy é o principal ativo ambiental da região e o "+1000" do nome pode significar duas coisas. Seria uma referência à necessidade de pelo menos mais mil hectares protegidos no entorno da mata e também a necessidade de mais mil pessoas trabalhando para a preservação do entorno. "A gente entende que só a nossa instituição não é suficiente para garantir a conservação dessa região. Esse 'mais mil' tem sentido de proteção de áreas, mas também precisamos de mais atuação da sociedade londrinense", conclama.
Góes explica que o recurso é uma continuação do projeto Caminho das Antas, que também foi contemplado com recursos da Fundação Boticário, em 2014. "Por dois anos a gente esteve trabalhando o território de ocorrência das antas em Londrina. Foram trabalhadas estratégias de conservação para manter tanto as antas como o habitat delas na região. Esse estudo apontou medidas de conservação, inclusive da região do entorno da Mata dos Godoy com o rio Tibagi."
Ele lembra que o projeto do Caminho das Antas fez o mapeamento da qualidade ecológica de 35 fragmentos florestais de toda região. "O foco maior em relação à anta aconteceu por ela ser um grande indicador de qualidade de conservação do habitat, de como está a preservação de todo o ambiente. Isso porque ela é o maior mamífero terrestre do Brasil e se alimenta de inúmeras espécies. O projeto Caminho das Antas foi feito em parceria com a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e identificamos mais de 40 espécies presentes na dieta delas. Como é um animal que se desloca por grandes distâncias, dispersa inúmeras sementes na floresta, por isso é conhecida como jardineira da floresta", detalha.
Outra atuação da ONG é com a opinião pública, para discutir a importância da preservação dos animais e de outras espécies. "Um dos grandes problemas que a gente viu foi a caça ilegal. Vamos trabalhar a educação ambiental para falar desse grande risco para a nossa fauna", planeja.
Góes ressalta que o estudo pode levantar necessidades para a região. "Provavelmente há a necessidade de construção de corredores ecológicos. A gente fez o mapeamento da anta e viu que ela está ali por perto. Já tivemos um indicativo de uma anta atropelada na PR-445, mas esses dados ainda não são suficientes para apontar que tipo de passagem ecológica precisa ser feita. A gente está fazendo esse estudo justamente para embasar a necessidade ou não dessa tecnologia".
POTENCIAL ECONÔMICO
O ambientalista ressalta que o projeto quer dar importância econômica a essas áreas e valorizar a Mata dos Godoy. "Uma unidade de conservação como a Mata dos Godoy tem vários benefícios. Além de gerar recursos econômicos por causa do ICMS ecológico, que são recursos importantes, ele tem potencial turístico e traz um aspecto de identificação para a cidade", defende. Ele explica que quando há uma unidade de conservação efetiva criada e administrada por algum órgão público, ela sofre menos pressões por desmatamento e de caça. "Nossa intenção é que essa expansão da área conservada pode vir pela ampliação do parque ou pela criação de uma reserva particular. A forma como vai ser criada muda pouco, mas o importante é que seja transformada em unidade de conservação para diminuir esse risco e manter essa unidade de conservação que é de extrema importância para a cidade", enfatiza.
O ambientalista lembra que a mata possui uma diversidade de espécies animais e vegetais que não existe nas demais terras da região por conta da agricultura extensiva. O Parque Estadual garante a oferta de sementes de espécies a serem utilizadas na restauração de áreas degradadas, possibilita a preservação da segurança hídrica, contribui com o equilíbrio do clima, protege insetos polinizadores para a agricultura, dentre muitos outros benefícios. "A gente tem a questão científica. Continuamos os estudos com base nos dados obtidos no projeto do Caminho das Antas, que apontou onde estão esse animais. Agora a gente vai iniciar uma pesquisa para fazer um desenho de quantos indivíduos de antas existem para fazer a projeção se esse ambiente é propício para elas sobreviverem aqui nas próximas décadas."
PLANO DE AÇÃO
Ele conta que há a intenção de fazer com os órgãos competentes um plano de ação para conservar essa espécie.
Góes ressaltou que a ONG estudou por três anos a necessidade de proteção efetiva daquela mata. "Lá tem mais de dois mil hectares de floresta que não são áreas públicas e não possuem medidas efetivas de conservação. Trabalhamos a necessidade de conservação dessas áreas há algum tempo e a gente nem sabe se os proprietários de terra da região são contrários ou não a esse projeto", expõe. Segundo ele, a necessidade de ampliação da conservação foi demonstrada no conselho gestor do parque da Mata dos Godoy. "Saímos de lá com o compromisso do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de iniciar as tratativas com agricultores sobre o que fariam com essa área", relata.
"Como entidade da sociedade civil não temos como convencer ninguém sobre a necessidade disso. Nosso papel tem sido subsidiar o poder público com informações para eles fazerem essas tratativas. Esse contato com o poder público pode ser feito por meio de dossiês e relatórios, mas vamos intensificar esse contato com o poder público para que eles tenham as informações necessárias para a tomada de decisões", explica.
A Lei Federal, nº 9958/2000 estabelece a zona de amortecimento como a área no entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades econômicas estão sujeitas a normas e restrições específicas, para minimizar os impactos negativos sobre a unidade. A Justiça de Londrina concedeu uma liminar que proíbe o avanço de construções e empreendimentos industriais sobre a zona de amortecimento, que possui 55 mil hectares ao redor do parque.
"A zona de amortecimento foi introduzida em 2002, com o plano de manejo do parque. O que a gente conseguiu foi impedir a intenção do município de Londrina de tornar aquela área urbana, o que não é permitido por lei federal."