O Parque Estadual da Mata dos Godoy possui 675,70 hectares de floresta subtropical inseridos no bioma da Mata Atlântica
O Parque Estadual da Mata dos Godoy possui 675,70 hectares de floresta subtropical inseridos no bioma da Mata Atlântica



Um projeto da ONG MAE (Meio Ambiente Equilibrado) foi selecionado pelo edital Biodiversidade do Paraná, que é exclusivo para o território paranaense e realizado pela Fundação Grupo Boticário em parceria com a Fundação Araucária. O "Godoy + 1000: seguindo o Caminho das Antas", tem como objetivo ampliar a área do Parque Estadual da Mata dos Godoy, que possui 675,70 hectares de floresta subtropical, e está inserida no bioma Mata Atlântica, com aproximadamente 200 espécies de árvores. Foram destinados R$ 149.828,00 para requalificar territorialmente a região do "Grande Godoy", que fica próxima do parque e possui mais de cinco mil hectares.

O ambientalista Gustavo Góes é o responsável técnico do projeto e afirma que o objeto do trabalho recebeu esse nome porque a Mata dos Godoy é o principal ativo ambiental da região e o "+1000" do nome pode significar duas coisas. Seria uma referência à necessidade de pelo menos mais mil hectares protegidos no entorno da mata e também a necessidade de mais mil pessoas trabalhando para a preservação do entorno. "A gente entende que só a nossa instituição não é suficiente para garantir a conservação dessa região. Esse 'mais mil' tem sentido de proteção de áreas, mas também precisamos de mais atuação da sociedade londrinense", conclama.

Góes explica que o recurso é uma continuação do projeto Caminho das Antas, que também foi contemplado com recursos da Fundação Boticário, em 2014. "Por dois anos a gente esteve trabalhando o território de ocorrência das antas em Londrina. Foram trabalhadas estratégias de conservação para manter tanto as antas como o habitat delas na região. Esse estudo apontou medidas de conservação, inclusive da região do entorno da Mata dos Godoy com o rio Tibagi."

Ele lembra que o projeto do Caminho das Antas fez o mapeamento da qualidade ecológica de 35 fragmentos florestais de toda região. "O foco maior em relação à anta aconteceu por ela ser um grande indicador de qualidade de conservação do habitat, de como está a preservação de todo o ambiente. Isso porque ela é o maior mamífero terrestre do Brasil e se alimenta de inúmeras espécies. O projeto Caminho das Antas foi feito em parceria com a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e identificamos mais de 40 espécies presentes na dieta delas. Como é um animal que se desloca por grandes distâncias, dispersa inúmeras sementes na floresta, por isso é conhecida como jardineira da floresta", detalha.

Outra atuação da ONG é com a opinião pública, para discutir a importância da preservação dos animais e de outras espécies. "Um dos grandes problemas que a gente viu foi a caça ilegal. Vamos trabalhar a educação ambiental para falar desse grande risco para a nossa fauna", planeja.

Góes ressalta que o estudo pode levantar necessidades para a região. "Provavelmente há a necessidade de construção de corredores ecológicos. A gente fez o mapeamento da anta e viu que ela está ali por perto. Já tivemos um indicativo de uma anta atropelada na PR-445, mas esses dados ainda não são suficientes para apontar que tipo de passagem ecológica precisa ser feita. A gente está fazendo esse estudo justamente para embasar a necessidade ou não dessa tecnologia".

POTENCIAL ECONÔMICO
O ambientalista ressalta que o projeto quer dar importância econômica a essas áreas e valorizar a Mata dos Godoy. "Uma unidade de conservação como a Mata dos Godoy tem vários benefícios. Além de gerar recursos econômicos por causa do ICMS ecológico, que são recursos importantes, ele tem potencial turístico e traz um aspecto de identificação para a cidade", defende. Ele explica que quando há uma unidade de conservação efetiva criada e administrada por algum órgão público, ela sofre menos pressões por desmatamento e de caça. "Nossa intenção é que essa expansão da área conservada pode vir pela ampliação do parque ou pela criação de uma reserva particular. A forma como vai ser criada muda pouco, mas o importante é que seja transformada em unidade de conservação para diminuir esse risco e manter essa unidade de conservação que é de extrema importância para a cidade", enfatiza.

O ambientalista lembra que a mata possui uma diversidade de espécies animais e vegetais que não existe nas demais terras da região por conta da agricultura extensiva. O Parque Estadual garante a oferta de sementes de espécies a serem utilizadas na restauração de áreas degradadas, possibilita a preservação da segurança hídrica, contribui com o equilíbrio do clima, protege insetos polinizadores para a agricultura, dentre muitos outros benefícios. "A gente tem a questão científica. Continuamos os estudos com base nos dados obtidos no projeto do Caminho das Antas, que apontou onde estão esse animais. Agora a gente vai iniciar uma pesquisa para fazer um desenho de quantos indivíduos de antas existem para fazer a projeção se esse ambiente é propício para elas sobreviverem aqui nas próximas décadas."

PLANO DE AÇÃO
Ele conta que há a intenção de fazer com os órgãos competentes um plano de ação para conservar essa espécie.
Góes ressaltou que a ONG estudou por três anos a necessidade de proteção efetiva daquela mata. "Lá tem mais de dois mil hectares de floresta que não são áreas públicas e não possuem medidas efetivas de conservação. Trabalhamos a necessidade de conservação dessas áreas há algum tempo e a gente nem sabe se os proprietários de terra da região são contrários ou não a esse projeto", expõe. Segundo ele, a necessidade de ampliação da conservação foi demonstrada no conselho gestor do parque da Mata dos Godoy. "Saímos de lá com o compromisso do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de iniciar as tratativas com agricultores sobre o que fariam com essa área", relata.

"Como entidade da sociedade civil não temos como convencer ninguém sobre a necessidade disso. Nosso papel tem sido subsidiar o poder público com informações para eles fazerem essas tratativas. Esse contato com o poder público pode ser feito por meio de dossiês e relatórios, mas vamos intensificar esse contato com o poder público para que eles tenham as informações necessárias para a tomada de decisões", explica.

A Lei Federal, nº 9958/2000 estabelece a zona de amortecimento como a área no entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades econômicas estão sujeitas a normas e restrições específicas, para minimizar os impactos negativos sobre a unidade. A Justiça de Londrina concedeu uma liminar que proíbe o avanço de construções e empreendimentos industriais sobre a zona de amortecimento, que possui 55 mil hectares ao redor do parque.
"A zona de amortecimento foi introduzida em 2002, com o plano de manejo do parque. O que a gente conseguiu foi impedir a intenção do município de Londrina de tornar aquela área urbana, o que não é permitido por lei federal."