Imagem ilustrativa da imagem O que será amanhã?
| Foto: Marco Jacobsen

As vozes do samba já decretaram: “Como será amanhã? Responda quem puder”. Os versos de João Sérgio para o samba-enredo “O Amanhã”, popularizado pela voz da cantora Simone narram a angústia humana por conhecer o futuro. Não há ciência que consiga tal fato. Tem quem arrisque para práticas exotéricas, mas o fato é que só vivendo para saber. A experiência acumulada ao longo dos anos, no entanto, permite para alguns a chance do palpite. A chegada de um ano novo traz esperanças de um reinício, mas, também, o alerta dos fatos passados. Neste espírito, a FOLHA mira em 2020. A partir do olhar dos colunistas das áreas de política, economia, emprego, social e comportamento. Cada um em sua área foi convidado a refletir sobre um tema afim tendo como perspectiva o ano novo. O resultado é um apanhado de ideias e visões de mundo que provocam concepções e fazem refletir por novas chances. No melhor espírito dos famosos votos de feliz ano novo.

Abraham Shapiro - Empreendedorismo

Quantas vezes você se viu inspirado e a sua inspiração foi embora dias depois? A humanidade toda já passou por isso. Então, as pessoas retornam a velhos hábitos, à rotina de uma vidinha medíocre, sem empolgação e prosseguem presas na inércia. Incluem-se aí os planos de prosperidade e conquistas do Ano Novo.

Por que é assim? Resposta: metas ambiciosas demais, sem avanço diário. Em lugar de dar pequenos passos até alcançá-las, as pessoas se assustam com a grandeza das metas. Participar da maratona de dez quilômetros parece uma distância astronômica; perder vinte quilos é assustador, assim como implantar um negócio próprio soa impossível.

Posso, sim, desejar intentos gigantes. Mas, geralmente, isso consome grande parte das forças logo de cara. Mas há a possibilidade viável de caminhar passo a passo, como uma criança. Fundamental é ser constante, avançar um pouco a cada dia e jamais parar. A minha tática é mover-me pelo menos 1% hoje além do ponto a que alcancei ontem.

Célia Musilli – Arte e Cultura

Há décadas, a cultura brasileira é tida como diversa. Nos últimos anos, o foco na cultura popular a fez sair de nichos locais para o conhecimento do grande público. Com a ascensão de um governo de direita, em redutos olavistas, surgem discursos com expressões como “alta cultura”, que tendem a destacar um conceito superado e entronizam as artes sob o aspecto da “beleza e da verdade”. Como consequência, nos principais setores da cultura nacional essa narrativa ecoa na forma de preconceito. Caso da Ancine, submetida à censura de filmes que não devem enfocar temáticas que comprometam os “bons costumes.” Assim, a perspectiva sobre a cultura em 2020 é o da transformação da diversidade em nichos de conservadorismo, com cheiro de naftalina. O que remete a tempos obtusos como o da tentativa da proibição do biquíni por Jânio Quadros. Ainda bem que os corpos e o desejo, assim como as artes, tendem a escapar pelos vãos dos dedos em riste.

Domingos Pellegrini – Ideias

Pedem que escreva sobre ideias para 2020. Quem sou eu para isso? Um cidadão que desacreditou de esquerda e nunca acreditou em direita, mas acredita na democracia como construção permanente. Alguém para quem a maioria das pessoas é honesta e trabalhadora, senão os ladrões de todos os tipos nem teriam de quem roubar.

O que pode dizer sobre os problemas socioeconômicos? Alguém que vê o custo do Estado e a omissão dos cidadãos como o maior problema das sociedades? Entretanto, também acredita que o Estado deve continuar crescendo para atender às crescentes demandas sociais - mas com modos, do jeito certo.

Ademais, se algo há a dizer nessa algaravia, é que, vencendo quem vença eleições, os mercados sacolejando e as ruas trepidando, acredito e aposto que tudo ficará sempre melhor se mais gente simplesmente adotar a dupla bom-bom: bom senso e bom gosto, embora isso não seja coisa simples.

Luiz Geraldo Mazza – Política

Da mesma forma que a visão sobre a operação Lava Jato entrou em ciclo de revezes pode-se crer na sua recuperação em 2020, porém, nunca nos mesmos níveis alcançados em 2014, o que acaba contrastando com o apoio ainda de 81% da população brasileira, segundo pesquisa recente. Acredito que as ameaças à cultura e ataques ao ambientalismo persistirão no governo Bolsonaro, o que gerará resistência. No Paraná o alinhamento do governo Ratinho Junior persistirá e um dos aspectos positivos de nossa representação é a linha uniforme de nossa bancada no Senado Federal – formada por Alvaro Dias, Flávio Arns, Oriovisto Guimarães – em uma sincronia antes inexistente na nossa história. O Paraná como economia continuará forte e com o marketing oficial se valendo desses indicadores, o que é válido no sentido da autoestima da população paranaense, posto que nem sempre esteja simétrica ao governo do Palácio Iguaçu.

Marco Rossi - Sociedade

No romance “A vida no céu”, o angolano José Eduardo Agualusa cria uma distopia inusitada: graças aos destemperos políticos e à mediocridade econômica dos abastados, um grande dilúvio arrasa a Terra e as pessoas se veem obrigadas a “viver no céu”, onde a desigualdade social não cessará – pobres ficarão em pequenos balões, enquanto ricos apreciarão o que restou da paisagem a bordo de luxuosos dirigíveis.

A vida em sociedade requer os “pés no chão”. As soluções são as de sempre: educação, bem-estar e cultura, além de uma conduta econômica que enfrente desigualdades e promova solidariedades. A política, em bases éticas e altruístas, é a cereja do bolo. Quando a Sociedade pauta Estado e Mercado, impedindo aberrações corrosivas, dilúvios são evitados. Que em 2020 a sociedade brasileira e mundial supere as agruras do neofascismo e descubra novos caminhos para a democracia, o único céu desejável.

Paulo Briguet – Brasil

Durante as três décadas de governos petistas e tucanos, eu sempre esperei que as coisas mudassem no Ano Novo. Agora, após 12 meses de governo conservador, pela primeira vez eu espero que algumas coisas mudem e outras continuem. Quero que o desemprego continue caindo. Quero que o Moro e o Guedes continuem brilhando. Quero que a economia continue se recuperando. Quero que a confiança no Brasil continue crescendo. Quero que os crimes continuem caindo. Quero que o Nadalim continue lutando pela alfabetização e o Alvim continue lutando pela alta cultura. Quero que a Damares continue enfrentando o mal com o bem. Quero que Deus continue orientando os passos do governo. Em relação às mudanças, eu gostaria que o Maia, o Alcolumbre e o Supremo parassem de atrapalhar o Brasil. Que a esquerda não inventasse a cada semana uma narrativa pinoquiana para derrubar o presidente. E que aqueles que se julgam donatários do Brasil tomem Simancol. Feliz Ano Novo! Que mude o que é sinistro e permaneça o que é direito. Se Deus quiser; e Ele há de querer.

Sylvio do Amaral Schreiner – Comportamento

A saúde mental influencia a qualidade de vida e deveria ser uma prioridade sempre almejada. Muitos sabem cuidar do corpo, mas poucos se atentam para a própria mente. Sem saúde mental fazemos péssimas escolhas que só levam ao sofrimento como, por exemplo, entrar em relacionamentos doentios e cair nas mesmas repetições que só trazem insatisfações. É a qualidade de nossa saúde mental que permite que tenhamos mais prazer. Para aqueles que desejam viver melhor o ano que se inicia, é importante compreender que não se vive isento de dificuldades. Muitos acreditam que só quando estiverem sem problema algum é que estarão bem. Isso não existe. Adversidades fazem parte da nossa existência, mas é como lidamos com elas que importa. É vital nos voltarmos para nós mesmos para que possamos aprender maneiras eficientes para encarar tudo o que nos acontece. Sofrer faz parte, mas como vamos sofrer é que faz toda a diferença em nossa qualidade de vida.

Thiago Nassif – Gente

Em um riquíssimo cenário de personalidades, destacar alguma delas é uma tarefa complicada. Este ano estas pessoas já se destacaram em suas áreas, mas diante da perspectiva de 2020, acredito que ganharão ainda mais notoriedade. O Youtuber Pedro Rezende bateu a marca dos 25 milhões de inscritos em seu canal e é um fenômeno especialmente entre crianças e adolescentes. Ainda na rede, a divertidíssima Mari Bernini ganhou espectadores em todo o Brasil como influencer, no “Bafafá da Mari”. A mãe de Clara e Chico dá show de espontaneidade. Já a arquiteta Juliana Meda é referência com suas criações e, entre outros trabalhos marcantes, emplacou, em 2019, sua segunda participação na concorrida Mostra Artefacto. Na medicina, o cirurgião plástico Walter Zamarian Júnior ganhou ainda mais notoriedade com seus conhecimentos País afora e participa, anualmente, como convidado, de congressos internacionais.

Wellington Moreira – Emprego e Economia

Números do IBGE da semana passada mostram que o desemprego caiu para 11,2%, a menor taxa desde março de 2016. Mesmo assim, há pouco a comemorar quando 11,9 milhões de brasileiros procuram um emprego.

Se formos olhar 2020 em perspectiva, o indicador que talvez mereça atenção de verdade é o recorde revelado na pesquisa: 38,8 milhões trabalham na informalidade. Mas, não pense que o número é resultado apenas da crise econômica. O que está acontecendo no Brasil é uma mudança na estrutura do mercado de trabalho, capitaneada principalmente pela “economia de aplicativos”.

Se, durante algum tempo, trabalhar como motorista do Uber ou freelancer foi a única alternativa de renda, o cenário agora mostra que muita gente pegou gosto e vai continuar nas plataformas digitais, ainda que receba uma oferta do mercado formal.

Nunca aquela máxima “procure trabalho em vez de emprego” foi tão atual. Só que a conta vai chegar no futuro, já que a imensa maioria dessas pessoas não está contribuindo com a Previdência Social. E esse é um problema de todos nós.

CONTINUE LENDO:

- No Brasil, como em Londrina, é viver no paraíso, sem morrer!