O restaurante no bloco que liga o Cine Teatro Ouro Verde ao Edifício Autolon foi o último dos componentes do conjunto a ser inaugurado. Segundo a professora Juliana Suzuki registrou em seu livro sobre as obras da parceria Artigas-Cascaldi em Londrina, a demora de sete anos entre a abertura do cinema e a do Restaurante e Confeitaria Calloni provocou insatisfação entre os membros da sociedade Autolon, "uma vez que comprometia todo o conjunto arquitetônico".

Por fim, o empreendimento ficou completo com a inauguração do Calloni, em 10 de dezembro de 1959, data em que se comemorou o aniversário de 25 anos de Londrina. Estiveram na abertura o governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha, e o prefeito Milton Ribeiro de Menezes. O local era administrado por Pietro Calloni, que anos antes havia sido um dos fundadores do Londrina Futebol Clube (que depois se tornaria o Londrina Esporte Clube), e seu enteado Carlo Caviglione.

O advogado Reginaldo Roveri, 80 anos, esteve na inauguração e diz que o objetivo desde o início foi demarcar o Calloni como um ponto de encontro da elite londrinense. "Era chique, era moda, era 'society' frequentar o Calloni", lembra. Nascido em São José do Rio Preto (SP), Roveri se mudou com a família para Londrina em 1945. Na época da inauguração do Calloni, ele tinha acabado de se formar em Direito em Curitiba.

"No Calloni, tinha um garçom chamado Serginho. Era muito querido, todo mundo gostava dele. Ele era o meu garçom. Era a época da cuba-libre. Muita gente do meio jurídico frequentava o Calloni: advogados, juízes, promotores. Por ser recém-formado em Direito, eu via mais esse pessoal", relata Roveri.

O alfaiate Antônio Elzídio da Silva, 78, trabalha no Autolon há 54 anos (foi síndico do prédio por 35) e confirma que o Calloni era um espaço para a elite da jovem Londrina. "Não por ser caro, mas pelo estilo, mais chique. Era um restaurante e confeitaria: serviam coquetéis, aperitivos. O pessoal ia lá depois de ver filmes no Ouro Verde. Eu não tinha condições de frequentar. Comprava uma coisinha lá, um sanduíche, e me mandava", explica.

O fundador da Folha de Londrina, João Milanez (1923-2009), fez elogios à comida do Calloni. "Tinha macarrone e pasta fresca. Mas ele fazia de tudo, pratos de todas as nacionalidades. Era o melhor restaurante do Paraná e a decoração era de muito bom gosto", disse Milanez, em depoimento ao jornalista Paulo Ubiratan (1938-2010) que seria incluído no livro "2 Minutos com João Milanez na CBN Londrina" (2008), que compila trechos de entrevistas concedidas pelo empresário na rádio.

Foi uma história curta: o Calloni fechou as portas já em 1964. "Exatamente por ter essa exigência de glamour, a proposta do restaurante foi se esgotando, pois atendia uma parcela muito pequena da população", afirma Juliana Suzuki.

Segundo relatos, o imóvel alternou períodos sem utilização, fez parte de agências bancárias de dois bancos diferentes sediados no Autolon e depois foi usado como vestiário e depósito de uma loja de roupas do edifício. "Sabemos que o bloco ainda está lá, mas não sabemos as condições. A cada troca de proprietário, sem proteção pelo patrimônio, fatalmente acontecem mudanças", aponta Juliana.

O jardim não teve a mesma sorte: após ficar separado do Calçadão por um portão de metal, o belo acesso ao antigo Calloni foi destruído e em seu lugar foi construído um prédio alugado para lojas, pouco depois do tombamento do Ouro Verde. (F.G.)