NADA A COMEMORAR...
PUBLICAÇÃO
sábado, 15 de abril de 2000
Alexandre Sanches
De Londrina
Distribuídos em 20 reservas indígenas do Estado, os 9.606 índios paranaenses não têm o que comemorar no 19 de abril, o Dia do Índio. Também não encontram motivos para participar das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil.
Após anos de perseguição e de um constante processo de dizimação iniciado pelos colonizadores e executado posteriormente pelos irmãos brancos, as reservas indígenas estão registrando um crescimento populacional preocupante. Em algumas delas, por exemplo, o casamento de índios com brancos e negros está contribuindo para o aniquilamento de algumas raças. Mas na reserva Apucaraninha, em Tamarana (Norte do Estado), ainda é possível encontrar grandes famílias de índios caingangues puros, que mantêm a tradição da fala, caça, pesca e agricultura.
Um dia os índios circularam livremente pelas terras paranaenses. Com a colonização e a expansão agrícola, muitas destas terras habitadas por silvícolas foram literalmente tomadas pela civilização. Somente com a demarcação das reservas, muitas delas feitas já na década de 90, é que foi possível delimitar a área onde os índios podem caçar, pescar e trabalhar a terra em busca de sua subsistência. Tudo sob a tutela da Fundação Nacional do Índio (Funai), que administra os programas desenvolvidos dentro das terras de domínio da União.
O índio quer sua liberdade, mas também aprendeu a gostar de algumas comodidades e alguns confortos oferecidos pela cidade. O contato com a civilização tem ajudado no surgimento de alguns vícios, como o alcoolismo. Algumas das reservas paranaenses estão próximas de centros urbanos, como a São Jerônimo, que faz divisa com a área área urbana de São Jerônimo da Serra (Norte do Estado).
Há também conflitos fundiários. Brigas recentes envolvendo ex-posseiros da reserva Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra, culminou no assassinato de um dos líderes dos invasores. Na reserva de Pinhalzinho, um reduto Guarani localizado no município de Tomazina, a briga judicial para retirar as famílias de herdeiros de um ex-funcionário do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), hoje Funai, se arrasta por mais de duas décadas.
Recentemente a Funai ganhou na Justiça o direito de áreas de fazendas no município de Ortigueira (Centro-Sul do Estado), que serão anexadas à reserva indígena Queimadas. A área deve sofrer uma ampliação significativa, assim que o governo federal conseguir fechar um acordo com os fazendeiros das áreas em litígio.
Em Mangueirinha (Centro-Sul do Estado), outro briga judicial se arrasta há anos, pelo direito a uma área de terras para ser devolvida à reserva Mangueirinha. A Funai garante que se os índios fossem fazer valer suas reivindicações e direitos por áreas, algumas cidades, como o caso de Tamarana, teriam que ser anexadas às reservas.
Série sobre as reservas indígenas prossegue a partir de amanhã nas páginas da Folha