Em Londrina e na capital inglesa, Londres, os sentimentos que unem a família Teixeira são mistos de luto e admiração pela monarca inglesa, Elizabeth II, que morreu na última quinta-feira (8) no Castelo de Balmoral, na Escócia.

Na manhã desta sexta-feira (9), Fabiano Teixeira conversava em chamadas de vídeo com as irmãs Carina e Daniela, que vivem na Inglaterra há cerca de 20 anos. Elas seguiram os passos do irmão que mudou para Londres, no final da década de 1990, e hoje, grande parte da família de pé-vermelhos vive na capital, onde Elizabeth II reinou soberana por 70 anos, a monarca mais longeva da história britânica.

Por telefone, Daniela mostrava as ruas londrinas, enquanto caminhava em direção ao Palácio de Buckingham, no dia de luto pela rainha que amanheceu com sol, mas logo a garoa inglesa apareceu e deixou o céu cinza, em um tom mais propício aos corações dos súditos enlutados.

“Toda a cidade está muito triste. O povo inglês é muito patriota e eles choram quando falam da Rainha Elizabeth. Apesar de todo mundo já esperar por essa notícia, por conta dos 96 anos de idade, todos estão chocados na Inglaterra”, comentou a londrinense, que se uniu aos turistas e ingleses em frente ao portão da sede da família real para as homenagens.

Do outro lado do Oceano Atlântico, Fabiano Teixeira e a esposa Dora Horvath recordavam durante a entrevista à FOLHA, os anos que viveram e se conheceram em Londres. Em 2011, o casal se mudou para Londrina, mas os laços com a Inglaterra permanecem intactos até hoje. Diretores da FD English, eles ensinam inglês com métodos práticos, baseado na vivência, e preparam profissionais e empresários para a comunicação com fluência.

Orgulhoso do trabalho, Teixeira mostra os livros que contam a história de Londrina, em edições de aniversários do município produzidos pela Prefeitura, que foram traduzidos pela empresa. Em inglês, os livros relatam a colonização da região pela Companhia de Terras Norte do Paraná e contam como foi a fundação do município, em 10 de dezembro de 1934, batizado como Londrina, a pequena Londres, em homenagem ao grande centro do reinado britânico.

Húngara, Dora se formou em administração na Escola Inglesa Oxford Brookes e se mudou para a Inglaterra no início dos anos 2000. Ela destacou a solidez da monarquia britânica, independente de quem ocupa o trono. “É uma religião”, comparou ao lembrar o afeto e a devoção do povo inglês pela família real. Além disso, Dora também ressaltou o papel do monarca inglês como figura central, que conecta os 15 países da Commonwealth, a Comunidade Britânica de Nações, entre eles, Canadá e Austrália.

A ÚLTIMA MORADA

Antropóloga, cientista política e formada em Arqueologia no Reino Unido, a catarinense Anelise Kaminski tem o perfil “Vida na Escócia” no Instagram com mais de 15 mil seguidores. Pelas redes sociais, ela conta as histórias da ilha, principalmente do país conhecido pelas Terras Altas, castelos e belezas selvagens.

Assim como a Rainha Elizabeth, a brasileira se apaixonou pela Escócia e se mudou para o Reino Unido. Em entrevista à FOLHA, Anelise relatou que a família da rainha tem origem escocesa e que, na infância, Elizabeth passava as férias no Norte com os avôs maternos, antes de entrar na sucessão real com a abdicação do trono por parte do tio, o Rei Edward 8º.

“Existem cartinhas que ela escrevia para os avôs, agradecendo as férias de verão na Escócia. Ela assinava: com amor Lilibeth”, informou. “Ela sempre teve uma ligação muito forte com a Escócia e um caso de amor com o Castelo de Balmoral, que fica nas Terras Altas, uma região muito bonita com natureza e rios”, acrescentOU.

A arqueóloga lembra que a Rainha Elizabeth dizia que Balmoral – onde a monarca faleceu – era o lugar que ela podia ser ela mesma. “Tem uma história que a rainha estava fazendo uma caminhada nas trilhas, vestida do jeito dela, sem os trajes reais, acompanhada de apenas um segurança, quando um grupo de turistas parou para pedir informações e não percebeu que era Elizabeth II. Um dos turistas perguntou se ela morava perto e ela afirmou que sim. Em seguida, perguntaram se ela já tinha visto a rainha. Ela respondeu que não, mas que o cavalheiro que estava com ela, sim”, contou.

EDIFÍCIO

Inaugurado no centro de Londrina no final da década de 1970, o elegante edifício Queen Elizabeth foi batizado em homenagem à rainha do Reino Unido com a permissão da coroa britânica.

O Queen Elizabeth, no centro de Londrina, foi o primeiro 
edifício da cidade com um apartamento por andar
O Queen Elizabeth, no centro de Londrina, foi o primeiro edifício da cidade com um apartamento por andar | Foto: Roberto Custódio

Uma das primeiras moradoras do prédio, a aposentada Iula Guimarães Costa, recorda que uma carta foi enviada para representantes da família real para que fosse autorizado que o prédio tivesse o nome da Rainha Elizabeth. “Não me lembro se o pedido foi para o Palácio em Londres ou para Embaixada, mas houve um retorno positivo para que o prédio se chamasse Queen Elizabeth”, confirmou a moradora do edifício há mais de 40 anos.

“É um motivo de orgulho morar em um prédio que tem o nome dela, que entrou para a história como uma das mulheres mais importantes do mundo”, afirmou.

Dona Iula também ressaltou que o apartamento, onde vive com o marido, foi mantido por quatro décadas de maneira original, como na edificação da construtora Brasília. “Do 14º andar, a gente via o aeroporto e o Estádio do Café. Foi o primeiro prédio da cidade com um apartamento por andar. O edifício faz parte da história de Londrina”, disse com satisfação.

PINTURA

Com pincelas e muita técnica, a artista paranaense Jacelyne Wulczak teve um encontro casual com Elizabeth II nos últimos meses de vida da monarca. Inspirada em uma imagem da série do Netflix “The Crown”, a pintora de Foz de Iguaçu fez um retrato em aquarela da rainha inglesa, mas não tinha ideia do destino daqueles traços com delicada pintura.

”Vou emoldurar, pois esse agradecimento não tem preço”, afirmou Jacelyne Wulczak
”Vou emoldurar, pois esse agradecimento não tem preço”, afirmou Jacelyne Wulczak | Foto: Acervo Pessoal

Por conta das comemorações do Jubileu de 70 anos de reinado, Jacelyne tirou o retrato da gaveta e compartilhou a arte com o mundo. Em abril deste ano, ela pesquisou o endereço do Palácio de Buckingham na internet, embalou o papel A3 (30x40cm) e enviou a obra de arte para a casa real.

“Eu perdi o comprovante para verificar se a correspondência chegou no destino final. Mas, no dia 15 do mês passado (agosto) me ligaram no trabalho para avisar que havia sido entregue uma correspondência de Londres. Quando me falaram que tinha o símbolo da coroa, eu não acreditei e queria chegar logo no final do expediente para voltar para casa”, lembrou a servidora pública, artista nas horas vagas.

Surpresa, ela abriu a correspondência e encontrou um cartão da Rainha Elizabeth 2ª com agradecimentos pela homenagem. “Deve ter sido uma das últimas correspondências dela para o Brasil. Vou emoldurar, pois esse agradecimento não tem preço”, afirmou.

A artista ficou ainda mais tocada com toda a história depois que descobriu que Príncipe Charles, agora, Rei Charles III, é um aquarelista. “Fiquei ainda mais surpresa com essa coincidência. Recebi essa informação depois de toda a repercussão que a minha pintura teve. Sempre gostei muito de retrato e realismo, mas como aquarelista comecei há quatro anos. É uma técnica difícil, pois não permite erros.”

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