Maurício Borges
Enviado a Ortigueira
As 107 famílias de caingangues que vivem na Reserva de Queimadas, no município de Ortigueira (115 km ao sul de Apucarana), têm terra suficiente para plantar, mas faltam insumos e equipamentos para poder cultivar lavouras. O cacique Ernesto Francisco, 31 anos, reclama mais ajuda da Funai e do governo, lembrando que as mais de 500 pessoas da reserva passam constantemente por dificuldades.
‘‘Temos médico apenas uma vez por mês na reserva e são muito comuns problemas respiratórios e de diarréia com as crianças’’, conta o cacique, reclamando também que sempre falta remédio para tratamento das doenças.
Na opinião de Ernesto Francisco, nestes 500 anos de Brasil não há o que comemorar no Dia do Índio. ‘‘Nós vamos fazer a nossa tradicional confraternização, mas sem esquecer dos problemas que enfrentamos todos os dias por falta da ajuda do governo’’, garante.
Conforme relatam líderes da reserva, atualmente as famílias cultivam apenas 12 alqueires de lavouras de milho, feijão e arroz. ‘‘Dispomos de dois tratores pequenos e alguns implementos, mas falta dinheiro para combustível, sementes, adubos e outros insumos’’, argumenta Ernesto Francisco.
Queimadas que já dispunha de 80 alqueires de área, acaba de ganhar em definitivo uma ação que durou mais de uma década na justiça, anexando à reserva mais 395 alqueires de terras. Os índios ainda não tomaram posse da área – a próxima etapa do governo federal é fazer a negociação das benfeitorias realizadas nas propriedades que estão sendo desapropriadas – mas como são pastagens, eles pensam em explorar a criação de bovinos e ovinos. ‘‘Pelo menos para comer’’, adianta o cacique.
Outro problema que ele e outros líderes da reserva apontam é a falta de moradias mais dignas para cerca da metade das famílias. ‘‘Muitos ainda moram em ranchos cobertos de sapé e convivem com o risco frequente de incêndio’’, afirma José Castorino Jorge.
Olívio Pires lembra que perdeu tudo que tinha, incluindo sacas de arroz e feijão, além de utensílios e instrumentos de trabalho. ‘‘Procurei ajuda com autoridades, mas não consegui, o jeito foi levantar outro rancho’’, conta ele.
As casas de alvenaria que existem na reserva foram construídas há alguns anos com a ajuda do Estado e da Funai. Em Ortigueira, os caigangues também têm água tratada e energia elétrica, pagas pela Funai.
Mesmo com este quadro de adversidades, o cacique Ernesto Francisco, que ocupa o cargo há dois anos, garante que o Dia do Índio será lembrado na reserva. ‘‘Estamos preparando uma festa no sistema do índio, com danças e nossos cantos, para consagrar nossa cultura’’, revela, acrescentando que espera ajuda de autoridades para oferecer refrigerantes e sanduíches para a comunidade.Dificuldade é conseguir sementes e insumos para a produção. Indígenas também reclamam da infra-estrutura existente no local
Odair StraliottiTRABALHO MANUALNa reserva de Queimadas, índias trabalham artesanalmente na confecção de balaios, que vendem às margens da rodovia. Comunidade reclama da concorrência desleal dos barraqueiros instalados na BR-376, que vendem produtos artesanais adquiridos de outras áreas do país como se fossem produção local