Um gigantesco multirão de religiosos brasileiros formado por católicos e evangélicos inicia na próxima quarta-feira uma verdadeira cruzada nacional contra as drogas. Na data, a Quarta-Feira de Cinzas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança a Campanha da Fraternidade 2001, que este ano comemora 37 anos. A CF surgiu no ano de 1962, em Natal, no Rio Grande do Norte.
Para levar as mensagens e as propostas da CNBB em relação ao problema, grupos de ajuda, grupos de apoio a familiares e amigos dos dependentes e pastorais estão sendo mobilizados em todo o País. A Igreja relaciona entre os grupos de ajuda o AA (Alcoólicos Anônimos), NA (Narcóticos Anônimos) e NATA (Núcleo de Apoio ao Toxicômano e ao Alcoólatra). Estão entre os grupos de apoio o AL-ANON (para familiares e amigos de alcoólicos), AL-ATEEN (para filhos de alcoólicos - de 13 a 19 anos), Amor-Exigente (para familiares, amigos e educadores), NAR-ANON (para familiares, parentes e amigos de pessoas em recuperação), NAFTA (para familiares de toxicômacos) e NAFTINHA (para crianças).
Quanto às pastorais, a Campanha da Fraternidade informa que todas as pastorais foram convocadas para a luta contra as drogas. ‘‘Dessa articulação, surgiu uma nova pastoral, a Pastoral da Sobriedade. Sobriedade? O que seria? Sobriedade não é uma simples ausência de álcool e drogas. Sobriedade é uma maneira de viver. E a sobriedade é fundamental para todas as pessoas e para todas as categorias sociais’’, explica o texto-base elaborado pela CNBB.
O tema é tão forte e presente na vida de milhares de famílias brasileiras quanto os de anos anteriores, quando desempregados, excluídos e sem-teto, entre outros, foram abordados. Mas enquanto as questões socioeconômicas podem, no máximo, sensibilizar – ou incomodar – o segmento mais privilegiado financeiramente, as drogas têm o poder de entrar em qualquer lar. Ricos, pobres, remediados e miseráveis são alvos dos mantenedores de um negócio que, segundo o texto-base, movimenta cerca de US$ 400 bilhões por ano em todo o mundo.
Com o lema ‘‘Vida sim, drogas não!’’, a Campanha da Fraternidade não tratará apenas das drogas ilícitas como a maconha e a cocaína. As chamadas lícitas, como o fumo e o álcool, e semilícitas (distribuídas somente sob preescrição médica) também serão combatidas. ‘‘Isso porque todas elas são substâncias cujo consumo traz sempre algum tipo de dano à pessoa ou à sociedade e, por essa razão, devem ser de alguma forma combatidas ou controladas’’, argumenta o texto-base.
Para tornar ainda mais clara a dimensão do termo droga na Campanha da Fraternidade, o documento enfatiza: ‘‘Nossa abordagem, resultado de muito estudo, considera como droga os psicotrópicos que, introduzidos no organismo humano, provocam alterações no sistema nervoso central, em particular alterações da percepção, do humor e das sensações, induzindo, ainda que temporariamente, sensações de prazer, de euforia, ou aliviando o medo, a dor, as frustrações, as angústias etc. Essa definição vai além do uso corrente, que só qualifica como droga psicotrópicos proibidos por lei.’’
Quanto à escolha do tema, o secretário-geral da CNBB, dom Raymundo Damasceno Assis, e o secretário-executivo da Campanha da Fraternidade, padre Antônio Donizete Sbarbi, afirmam que o assunto é ‘‘parte da realidade de um sistema de morte, alimentado por um estilo de vida materialista, que vem se alastrando como furacão, a partir do cultivo, comercialização e consumo’’. Os religiosos complementam: ‘‘Junto com as trágicas consequências do uso de drogas, crescem a violência social, a prostituição, os roubos, os assaltos e sequestros, a corrupção política, a corrosão da dimensão ética do trabalho e a guerra entre traficantes, que mantêm exércitos bem armados e bairros dominados’’.