“Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.” Até mesmo quem não era nascido em 1969 já deve ter ouvido inúmeras vezes essa frase, dita pelo astronauta norte-americano Neil Armstrong ao pisar pela primeira vez na superfície lunar. Era 20 de julho e o momento histórico foi acompanhado pela televisão por milhões de pessoas em todo o mundo. Quatro dias antes, Armstrong, Edwin “Buzz” Aldrin e Michael Collins haviam embarcado na missão Apollo 11, no Cabo Canaveral, na Flórida. Ao fincarem a bandeira dos Estados Unidos na Lua, os astronautas coroavam a vitória dos EUA na corrida espacial travada com a União Soviética durante a Guerra Fria e que estendia até o espaço a disputa pelo poder na Terra entre as duas maiores potências mundiais na época.

Naquele domingo de verão no Hemisfério Norte, há exatos 50 anos, Armstrong, Aldrin e Collins não apenas chegavam ao ápice da missão, mas completavam o desafio e cumpriam a promessa feita pelo presidente John F. Kennedy oito anos antes, de chegar à Lua até o final daquela década. O então presidente Richard Nixon definiu o evento como “a maior realização da história da humanidade” e as imagens vistas por todo o planeta na primeira transmissão televisiva global fizeram com que o mundo sonhasse com conquistas ainda maiores no projeto de exploração do Cosmo.

A chegada do homem à Lua deixou uma herança científica, política e cultural incalculável. “A Apollo 11 certamente foi uma missão de grande ousadia não por falta ou pouco conhecimento sobre o espaço à época, mas pelo aspecto inédito de ter tocado o solo lunar pela primeira vez. Tem os aspectos de missão tripulada, de pouso, de retorno, então tem vários desafios que não haviam sido enfrentados até então”, analisou o cientista Renato Borges, especialista do IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers), organização técnico-profissional dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade. A missão espacial, ressalta Borges, colocou à prova uma série de conhecimentos teóricos ainda não validados na época e conhecimentos tecnológicos já adquiridos e que estavam em processo de consolidação.

Para a ciência, afirma o cientista, os ganhos com a Apollo 11 são vários. Desde aspectos em relação ao estudo da Lua, com amostras de poeira e rochas coletadas do solo lunar e trazidas à Terra, até questões relacionadas ao comportamento do homem em missões do tipo e questões tecnológicas, com as manobras orbitais. “Isso certifica uma série de componentes, de dispositivos tecnológicos que tinham sido desenvolvidos à época para esse tipo de missão”, avaliou Borges. Além de ser a primeira missão bem sucedida que levou o homem à Lua, a expedição abriu uma nova porta para o conhecimento. “Foi um passo importantíssimo para o início de uma nova era de exploração espacial, de exploração em espaço profundo. A gente agora está olhando não somente para a Lua, mas para os planetas próximos que tenham as características que poderiam ser exploradas em prol da raça humana.”

A partir da conquista dos três tripulantes da Apollo 11, foi possível começar a pensar na construção de uma colônia para o homem na Lua. “Eu diria que o aspecto tecnológico hoje torna isso possível, torna isso palpável e é exatamente essa a grande meta que o homem estabeleceu em relação à missão lunar”, destacou o cientista.

Coordenador de astronáutica do Gedal (Grupo de Estudo e Divulgação de Astronomia de Londrina), Luzardo Júnior já esteve dez vezes na Nasa. Em três delas, atuou como guia, incumbido de apresentar a agência espacial americana a turistas brasileiros. Ele reconhece que desde 1969 não houve um boom nos projetos espaciais, não houve uma aceleração tão veloz como nas décadas de 1950 e 1960, durante a Guerra Fria, mas frisou que as grandes heranças daquela época ficaram e foram sendo trabalhadas. Com 11 centros espaciais e 600 mil funcionários trabalhando na agência atualmente, 200 mil a mais do que na época da Apollo 11, há grandes projetos em andamento.

Um deles é o projeto Artemis, que deverá enviar a primeira mulher à Lua e prevê também a construção de uma base fixa no satélite. “Montar uma colônia permanente para ficar lá por mais tempo, com uma base de apoio, talvez. O ganho de ter uma base na Lua seria ter um local para reposição de suprimentos, relançamento e, a grosso modo, até abastecimento. Tudo isso poderia acontecer”, ressaltou Luzardo.

Para os mais aventureiros, o turismo espacial que já é feito em voos suborbitais por empresas particulares, pode ser aprimorado. “Para a Lua vai ser possível. Não sei quando, mas vai. Estão barateando bastante o lançamento”, afirmou o coordenador do Gedal. Como comparação, Luzardo cita a missão Apollo 11 que custou aos EUA US$ 24 bilhões e foi um investimento criticado por muitos norte-americanos. Hoje, os custos com a decolagem de um foguete ficam na casa dos US$ 200 milhões. “Tem muitos milionários interessados. Tem até cadastro para pessoas irem a Marte com viagem só de ida porque não tem base de lançamento no planeta para mandá-las de volta.

Confira a animação especial da agência France-Presse sobre o tema:

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