Seja em residências de alvenaria nas sedes, propriedades rurais maiores ou pequenos sítios com casas de madeira sem nenhum luxo, o que se pode ter certeza é que, com a pandemia de Covid-19, todos experimentaram dias em que o já habitual isolamento social foi elevado a um novo patamar. Nesta semana, a prosa e o carteado já não faziam mais parte da rotina dos idosos de Paiquerê. E não há quem diga que “espantar” os mais “teimosos” da praça da avenida Victório Libardi foi uma tarefa fácil. A "carta na manga" dos coordenadores distritais teve que ser usada mais de uma vez, foi acionar a Guarda Municipal.

Imagem ilustrativa da imagem Ficar em casa: desafio para idosos e jovens
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo FOLHA

Não há como negar que podem ter sido em reuniões assim, contrárias ao decreto do prefeito Marcelo Belinati (PP) e da vontade do secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, que nasceu o que se pode chamar de “fake news” da zona rural. O boato, diziam, é que uma moradora de uma vila rural próxima à sede do distrito teria sido contaminada com a Covid-19. A preocupação só acabou quando Belinati e Machado esclareceram que não havia ninguém com a suspeita da doença no distrito. Entretanto, um certo pânico já havia se instalado dentro e fora dos grupos de WhatsApp, o que rendeu mais um bom "causo" para Paiquerê.

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Aos mais jovens, o desafio tem sido encarar a vida de estudante. Com as aulas suspensas desde o início de abril, a preocupação com a aprendizagem na zona rural aumentou já que nem todos possuem o mesmos recursos humanos e tecnológicos para acompanharem o conteúdo por meio de aplicativos de celular, televisão e outras mídias sem nenhum prejuízo.

É o caso de Vinicius Wesley Lopes Macedo, 13. O jovem conta que não possui computador em casa, em Irerê, e que está "se virando" para conseguir acompanhar as aulas. Nas horas vagas, nutre o sonho de ser lateral do Flamengo e explora a zona rural com sua bicicleta. Para a mãe, a zeladora Maria Lopes Macedo, 40, resta o desejo de que tudo volte ao normal. "Na escola o professor ta corrigindo, sempre atento, agora em casa ele pode fazer hoje, amanhã, depois, é meio livre demais", diz.

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Assim como ele, outros cerca de 560 alunos da Escola Estadual Professor Altair Aparecido Carneiro estudam no distrito e agora, podem continuar acessando o conteúdo em um sistema lançado em um aplicativo do governo do Paraná. Há, ainda, outros cerca de 400 alunos dos Ensinos Fundamental I e II da Escola Municipal Armando Rosário Castelo e cerca de 70 crianças da creche do distrito também foram apresentados ao que se denomina de "home schooling" bem longe daqui.

Porém, quem está sentindo em casa as dificuldades dos professores em sala são mesmo os pais. Enquanto retornava do mercado com os filhos Michel, 6, e Murilo, 12, a auxiliar administrativo da escola estadual, Jacilde de Siqueira Silva, 45, confessou que não tem sido fácil "segurar" o ímpeto natural dos filhos por tantos dias seguidos em casa, longe da velha rotina em grupo. "É diferente ensinar o filho da gente do que os dos outros, ele dispersa, até acho bom que volte logo, por esse ponto de vista. Mas estamos dando conta na medida do possível", avalia.

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Enquanto Murilo acompanha o conteúdo pela televisão em um canal aberto, Michel recebe vídeos dos professores via WhatsApp. Para a mãe, uma "vantagem" de se acompanhar de perto a educação foi poder ajudar nas pequenas dificuldades. "Em casa ele melhorou muito a questão da coordenação motora. Porque antes gente acompanhava mais na hora da tarefa só", desabafa.

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Amigo do jovem Vinícius, Murilo Macari Gamaliel, 14, disse estar mais tranquilo com a nova realidade. "Eu faço no computador e tô pesquisando", diz. Estudante do Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera, no Conjunto Cafezal, zona sul de Londrina, o jovem fã do astro do Chicago Bulls, Michael Jordan, demonstrou estar mais despreocupado e até confiante em encarar as tarefas. As notas, "estão na média", garante.

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Para os alunos da rede municipal de educação de Londrina, o ano letivo retornou no dia 15 de abril. Já os da rede estadual retomaram as aulas em casa mais cedo, no início do mês. Enquanto lá em cima, especialistas, entidades e o Ministério da Educação vivem em "queda de braço" também sobre o tema da educação em casa, quem vive no "Brasil profundo" perpassa todos os obstáculos do abismo social escancarados no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) ou nas vestibulares de todo o Brasil.

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