A pandemia até triplicou a geração de volume do lixo hospitalar em Londrina. Esse aumento também representa incremento de custos, já que os serviços de saúde pagam às empresas proporcionalmente conforme a quantidade descartada.

Imagem ilustrativa da imagem Com a pandemia, geração de lixo hospitalar triplica em Londrina
| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Na Santa Casa de Londrina, o volume de lixo infectante descartado subiu de 5 a 7 toneladas por mês para 18 toneladas. Os meses mais críticos foram entre abril e junho deste ano.

“Por semana, na época de pico, descartávamos 1.200 aventais”, contabiliza Edlívia Dias de Mattos, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do hospital. Mesmo não sendo referência para Covid, a Santa Casa chegou a atender simultaneamente 60 pacientes internados com a doença no pico da pandemia.

Além de todo o ônus causado pelas mortes em decorrência da doença, o hospital teve que enfrentar uma alta expressiva no uso de equipamentos de proteção e o consequente descarte maior.

“O nosso lixo infectante triplicou e, com isso, os nossos custos com o descarte também cresceu três vezes, já que pagamos a empresa pelo quilo de resíduo gerado”, destacou. A empresa contratada faz três coletas semanais de lixo infectante na Santa Casa.

HU

Referência para atendimento a pacientes Covid pelo SUS no município e na região, o HU (Hospital Universitário) viu a geração de lixo hospitalar explodir logo após o início da pandemia.

Em 2020, o volume de resíduos infectantes cresceu mais de 70% na comparação com o ano anterior. Neste ano, a projeção é que, até dezembro, o volume atinja quase o triplo do que o registrado em 2019.

A geração de lixo hospitalar saltou de 141,6 toneladas em 2019 para 242,5 toneladas em 2020. Neste ano, a projeção é gerar 390 toneladas de resíduos. “Perto de 60% do lixo hospitalar hoje é relativo à Covid”, contabiliza Thamylle dos Santos Benício, enfermeira da Assessoria da Ambiência e Higiene Hospitalar do HU.

O chefe da Divisão de Serviços Gerais do HU, Gildomar Santos Silva, explicou que o aumento da produção de lixo hospitalar não chegou a demandar novas obras da infraestrutura. “No entanto, houve uma mudança do horário da coleta, que passou a ser feita no período noturno”, pontua.

O excesso de lixo hospitalar é puxado pelos protocolos de segurança contra Covid. Para se ter uma ideia, antes de cada entrada no box do paciente infectado, o profissional de saúde faz uma troca de paramentação. Ao sair, descarta e faz outra troca. Os resíduos são coletados por uma empresa, incinerados e enviados a um aterro sanitário após o processo de tratamento.

O Hospital Evangélico foi procurado e questionado sobre o tema lixo hospitalar, mas não se posicionou até o fechamento desta edição.

RESPONSABILIDADE

A gerente de educação ambiental da Sema (Secretaria Municipal do Ambiente), Mariza Cleonice Pissinati, explica que a responsabilidade pela destinação do lixo hospitalar é sempre do gerador dos resíduos.

Ela destaca que há empresas especializadas e licenciadas para coletar e destinar o lixo hospitalar, mas cada uma tem o seu procedimento.

“Resíduos com característica patogênica ou potencialmente contaminados devem ser tratados para inativar os organismos biológicos. Depois podem ser encaminhados para aterro classe 2 [aquele que não oferece riscos ao meio ambiente e para a saúde].”

Resíduos recicláveis, orgânicos e rejeitos, por sua vez, podem ser destinados como resíduos domiciliares, desde que haja certeza de não estarem contaminados. “No caso de hospitais, isso é difícil”, pontua.

A Sema é responsável por fiscalizar a execução do PGRSS (Plano de Gerenciamento de Resíduos do Serviço de Saúde) nos processos de licenciamento ambiental.

“Porém, a fiscalização mais rigorosa é feita pela Secretaria Municipal de Saúde. Se houver descarte irregular de resíduos do serviço de saúde, a Sema é acionada para averiguação e autuação, se for o caso”, explica.

NACIONAL

A geração de resíduos de serviços de saúde apresentou crescimento de 30% no Brasil em 2020, na comparação com o ano anterior.

Segundo o balanço da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o país apresentou um cenário semelhante ao que aconteceu em outros países, com crescimento na geração de resíduos decorrentes do processo de atendimento à saúde.

Países como Espanha, França e Itália chegaram a registrar crescimento de lixo hospitalar de 300%, 50% e 100%, respectivamente. Na China, o índice chegou a 600%. Já os Estados Unidos registraram no início da pandemia aumento de 40%, com posterior estabilização e atualmente em pequena redução.

“O aumento no número de pacientes internados para tratamento de Covid-19 e a retomada de alguns serviços de saúde e atendimentos hospitalares levou a um crescimento no volume de resíduos de saúde coletados nas diferentes regiões do país”, avalia Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Abrelpe e presidente da ISWA (International Solid Waste Association). Em outubro, a entidade deverá divulgar os dados com os recortes por regiões brasileiras.

7,5 KG POR DIA

O levantamento da entidade ainda mostra que a geração média de lixo hospitalar por pessoa infectada e internada para tratamento de Covid-19 tem sido de 7,5 kg por dia.

“Desde o início da pandemia, as autoridades sanitárias do país e do exterior têm alertado sobre o potencial infectante dos resíduos hospitalares descartados durante o processo de tratamento dos casos de Covid-19, exigindo que os materiais descartados, em sua totalidade, tenham um gerenciamento específico e sejam submetidos a processos de tratamento que neutralizem a carga viral”, conclui.