Municípios banhados pelos rios Piquiri e Paraná, no Noroeste do Estado, querem recuperar as ruínas de Ciudad Real Del Guahyrá, uma cidade fundada por espanhóis construída no século 16. Além da preocupação com a preservação do patrimônio cultural, a região vê no resgate da cidade histórica mais um forte atrativo para deslanchar o turismo regional.
A cidade está localizada na confluência dos rios Paraná e Piquiri, no município de Terra Roxa. As ruínas ficam na região do Arquipélago de Ilha Grande, o conjunto de ilhas do Rio Paraná transformado em parque nacional em 1997.
Sobre o solo, existem poucos vestígios da cidade histórica que, estima-se, chegou a ter 2 mil habitantes, entre colonizadores e índios. Apenas o relevo guarda marcas da ocupação humana porque as casas foram construídas em terrenos rebaixados. Os escombros foram soterrados ao longo do tempo.
Primeiro arqueólogo a pesquisar Ciudad Real, o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Igor Chymz garante que as ruínas enterradas a aproximadamente três metros de profundidade ainda estão em bom estado de conservação.
Chymz mapeou a área e fez escavações em 1958, 1963 e 1965. Os objetos encontrados estão no museu do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (Cepa) da UFPR. ‘‘Encontramos muitas peças de cerâmica tupi-guarani com traços da influência espanhola’’, diz o arqueólogo.
Segundo Chymz, uma lei federal de 1948 tombou as áreas ocupadas por reduções jesuíticas como patrimônio histórico-cultural. Entretanto, mesmo protegidos por lei, os 120 hectares da Ciudad Real foram titulados e viraram propriedade particular.
A área, ocupada por pastagens, faz parte da Fazenda Curupay, que pertence a uma família de ganhadores da Mega Sena. ‘‘Qualquer atividade aqui, até mesmo o pisoteio do gado, vai alterando e destruindo as ruínas. É preciso isolar e proteger esta área porque contém um patrimônio histórico valioso para ser estudado e explorado por muitas gerações’’, diz o arqueólogo.
Preservar Ciudad Real é uma das prioridades do novo prefeito de Terra Roxa, José Teixeira Filho, com apoio de outros prefeitos da região. Um seminário realizado no município chamou a atenção da sociedade para o sítio arqueológico abandonado.
O município encaminhou projeto à Eco-Paraná, órgão de turismo ecológico do governo do Estado, propondo a inclusão daquele trecho no projeto Costa-Oeste e o desenvolvimento de projetos voltados à preservação, recuperação e exploração turística das ruínas. ‘‘Acho que estamos conseguindo mobilizar um grande número de pessoas para lutar pela preservação de Ciudad real’’, diz Teixeira.
Segundo Igor Chymz, tudo exige tempo e recursos. Primeiro é preciso levantar toda a malha urbana da antiga cidade. ‘‘Fizemos o zoneamento de parte da área, mas ainda não sabemos ao certo como era a cidade completa e onde estão todas as ruínas’’, explica.
Posteriormente, os arqueológos terão de delimitar as áreas a serem escavadas. Uma parte seria escavada e mantida no estado original para estudos e observação. Outras partes da cidade poderiam ser reconstruídas para visitação turística.
O trabalho de escavação é minucioso e demorado. ‘‘Só conseguiremos desenterrar uma pequena parte das ruínas. Escavar tudo é um trabalho para muitas gerações futuras’’. afirma Chymz.