Anônimos e essenciais, trabalhadores driblam a pandemia
No Dia do Trabalho, FOLHA relata a rotina de profissionais que não podem parar para o bom funcionamento da cidade e bem-estar da população
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 01 de maio de 2020
No Dia do Trabalho, FOLHA relata a rotina de profissionais que não podem parar para o bom funcionamento da cidade e bem-estar da população
Lucio Flávio Cruz - Grupo Folha
Diante de uma das maiores crises sanitária e social da história da humanidade, em que a pandemia do coronavírus isolou as pessoas, provocou o fechamento de empresas e a perda de milhares de empregos, passar o Dia do Trabalho empregado passou a ser um motivo a mais para comemorar a data, que relembra as lutas históricas dos trabalhadores de todo o mundo em busca de melhores condições.
Neste 1º de Maio, a FOLHA conta a história de profissionais que, mesmo diante das ameaças da Covid-19, não pararam de desempenhar as suas funções, muitas vezes desvalorizadas, mas essenciais para o dia a dia da cidade e dos londrinenses.
A rotina do Marcos Lauro da Costa, 41, começa às 7h20 da manhã e só termina depois das 17h. Ao lado de outros três colegas, ele integra uma das equipes que fazem capina e roçagem em Londrina. "Não paramos nenhum dia durante esta quarentena. Se a gente parar, fica pior. Podemos perder o emprego e aí a coisa complica de vez. A nossa função é manter a cidade limpa", ressalta o morador do Conjunto Panissa, zona oeste de Londrina.
Ficar o dia todo na rua, em vários pontos diferentes, não é motivo de receio em relação a uma contaminação pelo novo coronavírus. Equipado com luvas, máscara e álcool em gel, Costa reclama mesmo é da pouca valorização do trabalho. "Algumas pessoas nos desrespeitam, reclamam e não dão valor para o nosso serviço, que ajuda a manter a cidade em ordem", declara.
Se o mundo cada vez mais tecnológico faz com que as tradicionais cartas de papel sejam cada vez mais raras, a profissão de carteiro continua sendo essencial. É só um boleto de pagamento atrasar ou uma encomenda não chegar para que a reclamação logo venha. "A pandemia está judiando da gente. Eu não parei, mas várias pessoas da minha família estão sem poder trabalhar. E muitos pais de família estão sem emprego", lamenta o carteiro Valdecir Reis, 54, que está há 20 na profissão.
O trabalho do carteiro começa na recepção das cartas, separação dos documentos até a entrega de casa em casa. "Tem alguns que vão a pé para as ruas, eu sempre preferi ir de bicicleta. Pelo menos você não carrega a bolsa nas costas", justifica. "Não tenho como ficar em casa mesmo, então procuro fazer o trabalho sempre com alegria porque assim passa mais rápido."
O Zerão é um dos pontos de lazer mais frequentados de Londrina, mas poucos se atentam aos garis que estão ali o dia todo para manter o espaço limpo. José Francisco Pinto e David Novaes fazem parte da equipe que faz a limpeza diária no local. "Agora está tranquilo porque o Zerão está interditado. Mas já cheguei a recolher 30 sacos de lixo em apenas um dia. A pessoa passa por uma lixeira, mas joga o lixo no chão. Falta consciência", diz José Francisco, morador do Jardim São Jorge, na zona norte.
Novaes está há apenas cinco meses na nova profissão, mas garante que já se acostumou com o dia a dia. "Eu gosto do que eu faço e é bom trabalhar aqui. O meu desejo é que este momento passe rápido e não falte trabalho para ninguém."
Em tempos de crise, a alternativa para muitos trabalhadores é conciliar duas e até três profissões ao mesmo tempo. Esta é uma realidade para a maioria dos motoristas de aplicativos. Ednelson da Costa, 40, trabalha como jardineiro e à noite utiliza a motocicleta para a entrega de comida. "É uma forma de ajudar a pagar as contas no fim do mês", conta o entregador, pai de quatro filhos. "Felizmente, mesmo com a crise, tenho conseguido manter uma média de entregas e, em dias bons, faço umas 15 entre às 18h e a meia-noite."
Com os cuidados de higiene redobrados, Costa não reclama da rotina e acredita que tudo voltará logo ao normal. "A vida tem altos e baixos, mas o importante é estar trabalhando. Oro sempre a Deus para me proteger e guiar e também pelas outras pessoas", afirma.
Em tempos de pandemia, imagens de coveiros utilizando roupas especias em cemitérios de todo o País passaram a ser comuns. Em Londrina não é diferente. A rotina mudou, os procedimentos também. "Em todo sepultamento, independentemente da morte ser por Covid ou não, usamos todos os equipamentos de proteção. Faz parte do protocolo também tomarmos banho antes de irmos embora", relata o coveiro Washigton de Freitas. "O que mais mudou, no entanto, é a velocidade com que temos que fazer o sepultamento agora, já que tem que ser realizado no máximo em duas horas."
Freitas comenta que não há receio de uma possível contaminação já que a profissão sempre foi arriscada, pois é rotina estar em contato com vítimas de várias outras doenças, também infecciosas. Até mesmo com a discriminação, o coveiro garante que já está vacinado. "É uma profissão sempre rejeitada e muitas vezes falamos que somos servidores públicos e não coveiros porque as pessoas ficam com um pé atrás. Mas sempre lidamos com isso e levamos numa boa. Ainda bem que quase ninguém quer este trabalho. Sobra mais serviço para a gente."