Para a socióloga e professora Marivânia Araújo, coordenadora do Neiab (Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros) da Universidade Estadual de Maringá, comemorar o 25 de julho (Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha) é importante pela visibilidade às questões específicas, às dificuldades, problemas e também serve para enaltecer as vitórias, conquistas e projetos desse grupo específico. “A mulher negra tem as suas especialidades e especificidades, um olhar próprio sobre a realidade. Ela também é olhada pela sociedade de forma diferente”, afirma.

Marivânia Araújo, coordenadora do Neiab da UEM:  “Vamos seguir buscando inspiração em mulheres que são nossas contemporâneas"
Marivânia Araújo, coordenadora do Neiab da UEM: “Vamos seguir buscando inspiração em mulheres que são nossas contemporâneas" | Foto: Natalia Luvizeto - CPR-UEM

Para a pesquisadora, existe algo que é comum às mulheres negras da América Latina e do Caribe. “É o fato de sermos mulheres negras com uma história dentro da diáspora Negra. Nossos ancestrais vieram da África e isso é muito importante. Estamos pensando no passado e na diáspora africana dentro da América Latina”, diz.

Outro ponto, analisa, é que mulheres negras em toda a América Latina e Caribe sofrem pelo racismo e pelo machismo. “Falando especificamente dessa região, é importante pensarmos não só nos problemas, mas apontarmos soluções, falar das conquistas e dar visibilidade para as vitórias obtidas depois de muito trabalho e esforço”, explica.

Outro ponto semelhante entre as mulheres negras, continua Marivânia Araújo, é a trajetória de trabalho de transmissão de conhecimento, de cuidado com a sua família, de atenção com o seu entorno. “É comum na história das mulheres negras o zelo com os seus e não só com os familiares, mas também com seus parceiros, com a sua vizinhança. O dia 25 vem para chamar a atenção para vários elementos da história, da tradição e da vivência das mulheres negras na América Latina e no Caribe”, diz.

LEIA TAMBÉM:

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Como cuidar da saúde mental da mulher negra?

DESAFIOS

São muitos os desafios, na análise da professora. Na pandemia (de coronavírus), por exemplo, a maioria das mulheres negras estão enfrentando o desemprego, a pobreza e a fome. “Elas foram as primeiras a serem demitidas e serão as últimas a serem admitidas no mercado trabalho”, pontua.

“Outro desafio é enfrentar e vencer o racismo que faz com que as mulheres negras sejam as maiores vítimas da nossa sociedade com a violência doméstica, o trabalho em situação análoga à escravidão, a falta de acesso à saúde e à educação. Esses fatores são reflexos das opressões existentes em nossa sociedade, do racismo, do machismo e do classicismo. A mulher negra tem o desafio de enfrentar o racismo e convencer as pessoas brancas de que o racismo não é um problema exclusivo do negro e que deve ser resolvido pelas pessoas negras. O racismo é um problema que deve ser resolvido por todos, como sociedade”, completa Araújo.

INSPIRAÇÃO

Só a igualdade promoveria a inserção da mulher negra na sociedade brasileira. “Igualdade de condições, direitos, tratamento e respeito, desde a infância”, afirma. “Esse seria o mundo perfeito, o de igualdade. Onde as pessoas não são julgadas pelo tom de pele”, completa. “Vamos seguir buscando inspiração em mulheres que são nossas contemporâneas como Angela Davis, Lélia González, Ruth de Souza, Djamila Ribeiro, Nina Silva, Maitê Lourenço, Maria Nilza da Silva... Várias mulheres conhecidas ou anônimas que estão diariamente lutando contra as opressões. Só precisamos estar atentos para admirar muitas de nós lutando, agindo e fazendo a diferença na nossa sociedade, todos os dias”, diz Marivânia Araújo.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1