Histórias de superação, novos propósitos de vida e quilômetros de dedicação: esta é a rotina dos integrantes do grupo Eu10 Corridas
Histórias de superação, novos propósitos de vida e quilômetros de dedicação: esta é a rotina dos integrantes do grupo Eu10 Corridas | Foto: Gustavo Carneiro


A cada quilômetro vencido, uma nova vitória é conquistada. O desafio e a realização pessoal acompanham diariamente os corredores amadores. Faça chuva ou sol, com tênis no pé, um novo objetivo é alcançado todos os dias. Este é o caso de Dulcínie Trigueiros, que está pronta para encarar a Corrida de São Silvestre, na segunda-feira (31), em São Paulo. Aos 54 anos, ela mantém uma rotina rígida de treinos há dois anos numa verdadeira história de superação. Em 2009, enquanto dirigia uma moto, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Naquela época, vivia sob forte estresse e com os efeitos da pressão alta. As consequências foram muitas: 45 dias de internação e nove meses de uma difícil recuperação. A funcionária pública precisou reaprender a andar. Usou cadeira de rodas, andador, fez incontáveis sessões de fisioterapia, perdeu parte da capacidade visual, além de enfrentar uma séria depressão. O conselho de um amigo e os primeiros dias de treino mudaram definitivamente sua realidade. "Eu me sentia sozinha, triste e, quando comecei a correr, me senti acolhida. Vi minha realidade mudar, perdi 50 quilos desde a doença e hoje busco vencer meus próprios desafios. Quero correr os 15 quilômetros da São Silvestre no menor tempo que conseguir", afirma Trigueiros.

O esforço da funcionária pública é reconhecido por seu treinador, o professor de educação física José Eugênio Zaninelli, responsável pelo grupo Eu10 Corridas. Ele lembra das primeiras tentativas da aluna em vencer as sequelas deixadas pelo AVC. "Ela mal conseguia andar com equilíbrio. Caiu por várias vezes, mas foi perseverante, treinou e hoje busca reduzir o tempo nos treinos. A corrida é possível para todas as idades. Eu mesmo tenho um aluno de 89 anos", lembra Zaninelli. Em suas turmas há muitos exemplos de superação, como de um atleta amador que encara sua esquizofrenia a cada passada nas ruas. Alexandre Tanaka, 45, foi levado pela irmã há três anos. Hoje coleciona medalhas de participação e comemora a melhora em sua condição física e mental. "Sou outra pessoa, além dos problemas causados pela doença, era sedentário. Hoje reduzi o uso de remédios e não tenho tido mais crises. Além disso, construí novas amizades", comemora Tanaka.

Para os corredores amadores, as dificuldades do cotidiano não são desculpas para reduzir a rotina de treinos. A zeladora Maristela Santos, 38, enfrenta a jornada de trabalho, cuida da casa, de duas filhas e ainda treina diariamente. Há cinco meses pesava 91 quilos e sofria de problemas digestivos. Com a introdução dos exercícios em seu dia a dia, passou a pesar 57 quilos e sentir-se muito mais vital. Em sua primeira competição, em abril, chegou em segundo lugar. Desde então conquistou mais seis pódios e agora vai encarar a São Silvestre. "Começar a correr foi uma vontade própria e, assim que comecei a sentir os primeiros resultados, passei a amar. Hoje, vou ao trabalho correndo e meu marido de carro. São quatro quilômetros de ida e outros quatro para a volta", explica a moradora de Tamarana. O serralheiro de Londrina, Osvaldo Barbosa, 57, também encara as pistas depois de dar expediente em canteiros de obras. "Sempre gostei de caminhar. Acordo às 4h30, trabalho das 7h30 às 17h30, e quando saio coloco o meu tênis e vou treinar. Mas também, quando chego em casa, vou direto dormir", conta Barbosa, que já competiu em percursos de 21 quilômetros.

Começar a correr não requer muito preparo, mas um pouco de precaução. Os candidatos a praticante devem procurar um médico antes de mais nada para ver as condições cardiovasculares e, depois de liberados, procurar um profissional de educação física. O acompanhamento é fundamental, especialmente se for vinculado à Associação de Treinadores de Corrida. Outra preocupação diz respeito aos equipamentos. O tênis é uma ferramenta importantíssima. "Os estudos científicos não apontam nenhuma solução para os tipos de pisadas, por isso o mais importante é encontrar um modelo confortável. Outro fato importante é intercalar os modelos, isso faz reduzir as lesões, porque a forma de pisar muda de modelo para modelo. Eles distribuem a carga de forma diferente", aconselha Fabiano Braun, Diretor Técnico da Floripa Runners e presidente da comissão de Fiscalização do Conselho Federal de Educação Física, em Santa Catarina. O especialista ainda alerta para a importância de escolher roupas próprias, que ajudem a ventilação e a circulação, assim como o uso de um monitor cardíaco.

Estimativas dão conta de que o número de corredores amadores no Brasil chegue a 8 milhões de pessoas. Uma pesquisa do Ministério dos Esportes, datada de 2013, aponta que 45,9% da população é formada por sedentários, enquanto 28,5% fazem alguma atividade física e 25,6% são praticantes de algum esporte. Na mesma pesquisa, a corrida é apontada como primeiro esporte de 2,8% dos 8.902 entrevistados. Os dados foram ponderados com base em uma projeção da população brasileira por região, gênero e grupos de idade, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O faturamento do setor também cresce. "O faturamento das organizadoras de provas e do comércio de material esportivo e de suplementos voltados à atividade cresce em um ritmo de 45% ao ano, conforme estimativas mais recentes", conclui Braun, que, como um bom amante de corrida, nesta época, se prepara para se juntar aos mais de 30 mil inscritos que disputam os próprios limites para completar a São Silvestre. Que cada uma vença a si mesmo.

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