Nesta semana, a Prefeitura de Londrina recebeu um total de 9.606 doses da Coronavac, quantidade insuficiente para contemplar todos os profissionais da saúde que fazem parte da primeira fase do Plano Municipal de Imunização. Um novo lote deve chegar nas próximas semanas para dar continuidade às ações. No entanto, como são necessárias duas doses para garantir a imunização, os mesmos contemplados receberão as vacinas.

Imagem ilustrativa da imagem Fio de esperança
| Foto: Roberto Custódio/16-3-2020

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, as duas doses devem ser aplicadas em um intervalo de 25 dias. Em entrevista à FOLHA, Machado comentou como foi o processo de escolha dos profissionais contemplados neste primeiro momento, a expectativa para a chegada de novos lotes da vacina e a possibilidade de imunização dos demais grupos a partir do segundo semestre.

Como foi feita a escolha dos profissionais que seriam imunizados neste primeiro momento? A secretaria tem recebido reclamações de servidores da saúde que não foram contemplados?

Os profissionais de saúde integram o primeiro grupo prioritário. Aqui na cidade temos 25 mil profissionais da saúde, contando inclusive os autônomos. Era sabido que nós não teríamos doses suficientes para todos. O Brasil começou a campanha com 6 milhões de doses. É um número bastante reduzido. Por isso, através de critérios técnicos, foi necessário que a gente estabelecesse essas priorizações. Dentro dessas priorizações de pessoas que estão atendendo diretamente em período integral do seu turno de trabalho os casos de coronavírus, nós remetemos aos hospitais para que eles pudessem fazer, de acordo com cada serviço, com cada logística e com cada particularidade, uma lista a ser preenchida com os nomes dos profissionais que seriam selecionados nessa primeira etapa. Cada hospital mandou essa lista dentro do número acordado entendendo que seria necessário fazer essa linha de corte.

Qual o prazo máximo para a aplicação da segunda dose para que não haja prejuízos à imunização?

Elencamos esses grupos prioritários, neste primeiro momento, e o acordo entre os municípios e o Estado é que seriam enviadas somente a primeira dose desse público. Daqui a 15 ou 20 dias o Estado deve fazer a complementação dessas doses para que a gente possa completar o protocolo e, consequentemente, vacinar essa semana.

Não temos isso ainda muito consolidado por ser uma vacina nova. É evidente que há aí um certo período de tempo curto de três ou quatro dias, por exemplo, que acaba não sendo relevante. Mas é importante que a gente siga rigorosamente, até mesmo por se tratar de uma vacina nova, de uma doença nova, essa questão dos 25 dias de intervalo. Inicialmente, foi colocado que poderia ser entre 14 e 28 dias. O Estado definiu esses 25 dias porque sabe que pode haver algumas eventualidades em relação à segunda data.

Como são feitos o controle e a fiscalização da aplicação dessas doses?

Montamos equipes volantes para estar em todos os locais de vacinação neste momento dada a necessidade de um controle efetivo da vacina e da coordenação de todo esse processo por parte do município de Londrina. Os grandes hospitais que têm estrutura e estão acostumados a fazer a vacinação têm nos auxiliado com equipes complementares para que a gente possa agilizar esse processo. No HU [Hospital Universitário], no primeiro dia, nós vacinamos quase 1.100 profissionais de saúde.

Quais são as etapas do Plano Municipal de Imunização?

O plano de Londrina está alinhado com o Plano Nacional de Imunização que é comandado pelo Ministério da Saúde. Dividimos em quatro grupos prioritários, a começar pelos profissionais de saúde e idosos e trabalhadores das instituições de longa permanência. Em um segundo momento, os idosos com mais de 60 anos. Entretanto, neste público nós vamos fazer um recorte para começar a vacinar primeiro os idosos com mais de 80 anos, depois os da faixa etária de 75 a 79 e assim até chegar nos idosos de 60 anos, independentemente da comorbidade.

Na terceira etapa serão vacinadas as pessoas com comorbidades, independentemente da idade. São pessoas que tenham comorbidades associadas definidas pelo Ministério da Saúde como diabetes, hipertensão, problemas do coração, doença pulmonar grave atestada pelo médico e pessoas com deficiência severa.

A quarta fase é para um grupo específico que são professores, profissionais das forças de segurança, profissionais da assistência social, funcionários do sistema prisional e as pessoas privadas de liberdade. Em Londrina, em todas essas quatro fases nós estimamos que sejam, aproximadamente, 170 mil pessoas. Para isso, seria necessário o dobro de doses de vacinas porque são duas doses para a imunização completa.

Quando essa quarta fase será concluída?

A expectativa da Secretaria de Estado da Saúde é que até maio isso tudo seja possível. Pela projeção deles, 4 milhões de paranaenses vão ser vacinados até maio. Aqui nós temos estrutura, logística, insumo, expertise e equipe para vacinar de forma muito rápida. Então a nossa capacidade de vacinação pensando em um cenário de guerra poderia chegar a 10 mil ou 15 mil pessoas por dia. Entretanto é necessário que nós tenhamos vacina disponível nessa mesma quantidade. Com essas primeiras vacinas, nosso objetivo é que entre quatro e cinco dias, no máximo, a gente consiga vacinar essas 9 mil pessoas, respeitando a logística de cada instituição.

Quem não pertence ao grupo prioritário será imunizado quando?

Acredito, mas são previsões porque não temos nada de concreto, que esse público consiga ser contemplado a partir do segundo semestre. Já vai ter se assentado essa produção de vacina. Muito provavelmente várias outras vacinas já vão ter conseguido a certificação da Anvisa, então isso vai se tornar mais tranquilo. O que é importante é já ter um compromisso do Ministério da Saúde que esta vacina vai ser disponibilizada para toda a população. Evidente para os que queiram tomar.

Quem foi diagnosticado com Covid-19 precisa aguardar quanto tempo para ser imunizado?

A orientação do Ministério da Saúde é que seja dado um tempo mínimo de quatro semanas após o término da infecção. Há uma lista de contraindicações de pessoas que têm alergia a componentes da vacina. Ainda não está muito consolidada a questão das gestantes. Inicialmente era contraindicado, mas agora desde que a gestante tenha alguma comorbidade e tenha recomendação médica a vacina pode ser feita. A vacina não é indicada para crianças e jovens com menos de 18 anos em razão da falta de estudos e pesquisas específicas para essa faixa etária.

Como está a adesão à campanha?

Pelo que a gente percebeu, a adesão à campanha está sendo boa e o termômetro é justamente a queixa de profissionais de saúde que gostariam de tomar, mas não estão contemplados nesta primeira etapa. Isso talvez dê um indicativo de que as pessoas tenham aumentado o nível de conscientização e entendido a importância da vacina, em especial, nesse contexto de pandemia que é o que vai trazer o fim de tudo isso.

Já houve algum caso em Londrina em que a pessoa contemplada nesta primeira fase tenha se recusado a receber a vacina?

Recebemos algumas ligações, mas ainda nada formal, isso talvez se concretize com a ida das equipes nas ILPIs [Instituições de Longa Permanência para Idosos]. Recebemos algumas ligações com pedidos de famílias para que a gente não vacine determinados idosos. Não conseguimos dizer ainda qual vai ser o percentual ou se isso realmente vai acontecer. Estamos pedindo uma orientação jurídica da Procuradoria para saber o que fazer nos casos de recusa. Muito provavelmente a gente vai disponibilizar um termo de recusa para que o servidor possa preencher dando ciência de todas as informações necessárias e vamos manter este documento arquivado. Aproximadamente, 600 idosos e 400 trabalhadores das 20 instituições de longa permanência serão imunizados.

Londrina ultrapassou a marca de 27 mil casos positivos de Covid-19 e já são mais de 500 mortes. Como está a capacidade de atendimento nas UTIs?

Neste momento, temos 96 leitos de UTI adulto, 96 leitos de enfermaria e 14 de UTI pediátrica. A taxa de ocupação está em torno de 70% a 75% nos últimos dias. Houve um aumento no número de casos em novembro e dezembro.

A vacina é um alento, um momento de esperança para nós, mas até que a gente chegue no fim de tudo isso há um caminho a ser percorrido. A população precisa estar atenta, precisa manter todas essas orientações, distanciamento social, máscara, álcool gel. Não é o momento para aglomerações, festas, comemorações. Se a gente analisar o cenário epidemiológico de Londrina, em números absolutos, nós estamos no pior momento, pior até que setembro, quando nós tínhamos enfrentado um grande número de casos. Nós temos hoje a nossa UPA atendendo quase 500 pessoas com síndromes respiratórias por dia. Então a população precisa ter o entendimento que nós temos a pandemia, o vírus está circulando e precisamos nos cuidar.

Como é feito o cálculo diário de casos considerados ativos e recuperados?

Quem é diagnosticado com Covid-19 é considerado "recuperado" dez dias após o isolamento e 24 horas sem a apresentação de sintomas. Nos casos em que o paciente está internado, a equipe médica é responsável por monitorar e informar se o paciente está fora do período de transmissão da doença. Esses prazos estão de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia.

O protocolo que nós tínhamos recente é que só se faz o exame a partir do terceiro dia de sintomas. Para o exame ficar pronto demora mais ou menos cinco dias. Aí já se passaram, pelo menos, oito dias. Se o laboratório não soltar o resultado no dia previsto, já ultrapassa o período de classificação como caso ativo e ele entra como recuperado. Por isso que, ao colher o exame de Swab, a orientação é que o paciente permaneça em isolamento.

Para quem teve contato direto com alguém diagnosticado com a doença e, por alguma razão, não fez o exame para comprovar ou descartar a Covid-19, é recomendável o isolamento pelo prazo de 14 dias. Os estudos mostram que, a partir do 8º dia da doença, ela não é mais transmitida. Ninguém transmite após esse período. Mas quem teve contato pode desenvolver os sintomas em até 14 dias. É muito raro acontecer isso porque, normalmente, o tempo de incubação tem sido de três dias, mas isso pode acontecer até 14 dias.

Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=3XX_xwU1D18