Pela primeira vez participando da disputa à presidência do PT (Partido dos Trabalhadores) no Paraná, o deputado federal Zeca Dirceu levanta a mudança e a renovação na legenda como bandeiras de sua campanha. Ao mesmo tempo em que nega a existência de richas entre os companheiros de partido e tece elogios à figura do presidente atual, o deputado estadual Arilson Chiorato, Dirceu critica o que classifica como “fragilidades” desta gestão. No PED 2025 (Processo de Eleição Direta), que tem o primeiro turno marcado para o próximo dia 6 de julho, ele encabeça a chapa "O PT Mais Perto de Você". Os dirigentes serão eleitos para o período de 2026 a 2029.

Em entrevista concedida à FOLHA nesta semana durante uma visita a Londrina para cumprimento de agenda de campanha, Dirceu defendeu sua proposta de aumentar a participação da base partidária nas decisões do diretório estadual e retomar as organizações micro e macrorregionais como forma de fazer crescer a mobilização e o poder de influência e de ação do PT no Estado. “São coisas que deram muito certo no passado e que essa direção deixou muito aquém do necessário”, disse o candidato.

O resultado da maior movimentação e participação da base, afirmou Dirceu, não deve se refletir apenas nas urnas, nos processos eleitorais, mas também na implementação das políticas públicas. “A compreensão da população do Paraná sobre o que são essas políticas públicas, muitas vezes tem fragilidades aqui em razão da forma como a nossa direção se comporta. A maneira como ela dialoga com a sociedade, com a imprensa, o posicionamento que ela adota”, avaliou o deputado federal.

'Sem grandes diferenças'

Na disputa pela presidência do PT paranaense, Dirceu tem ao lado, além de Chiorato, candidato à reeleição, o também deputado federal Tadeu Veneri e o ex-presidente da APP-Sindicato Hermes Leão.

Com os companheiros de disputa, Dirceu diz não ter “grandes diferenças de ordem pessoal, talvez nenhuma” nem de ordem política. Independente do resultado do PED, frisou o candidato, o PT no Paraná seguirá com suas pautas em defesa e apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de oposição ao governador do Estado, Ratinho Junior, e manterá a luta contra qualquer tipo de anistia para os manifestantes que apoiaram a tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília (DF), e para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Os quatro candidatos têm essa mesma posição política. Acho que a grande mudança é no jeito de executar a política, o método, o formato, não é uma questão de gestão, apenas.”

Trazer a base partidária para o centro das discussões seria uma forma de valorização dos filiados à legenda, mas também um meio de evitar divergências como a que ocorreu no ano passado, durante o processo eleitoral à Prefeitura de Curitiba. Enquanto parte da legenda defendia o lançamento de uma candidatura própria, a direção estadual apoiou uma frente ampla da esquerda, junto com o PSB e o PDT, na chapa encabeçada pelo ex-prefeito Luciano Ducci (PSB). Ducci não chegou a ir para o segundo turno e terminou a disputa em terceiro lugar.

Esse modelo de gestão, destacou Dirceu, ressoa com o modelo proposto pelo candidato à presidência nacional do partido Edinho Silva. Apontado como o favorito do presidente Lula, Silva concorre com Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira. “Essa vai ser a grande mudança. O partido vai estar vivo, vai ter atividades o tempo todo, presenciais, virtuais, vai consultar os seus filiados em momentos polêmicos, em momentos muito decisivos, como foi o caso (da candidatura a prefeito) de Curitiba e tantos outros que os filiados, além de não serem consultados, foram proibidos de exercer o que o estatuto e o que a regra eleitoral preveem.”

Dirceu lembrou que há uma “insatisfação muito grande” dentro do partido em relação à distribuição do fundo partidário no Estado no processo eleitoral de 2024. “Foram R$ 15 milhões aqui no Paraná para um resultado muito aquém dessas condições.”

Prefeituras

Uma de suas metas, caso seja eleito, será aumentar a participação do PT nas prefeituras paranaenses. No pleito do ano passado, o partido conseguiu eleger apenas três prefeitos no Estado, em São João do Triunfo, Santa Maria do Oeste e Paraíso do Norte, municípios que, somados, têm cerca de 45 mil habitantes. “O partido aqui no Paraná vai ser grande, forte, vitorioso. Mas ele vai ter incidência sobre as relações humanas e políticas. Os segmentos organizados da população do Paraná vão ter um espaço dentro do partido para dialogar, mesmo quem não gosta da gente. O Lula faz política assim e eu também não faço política de exclusão e de preconceito.”

O PT no Paraná tem 115 mil filiados, mas no último PED, em 2019, apenas 6,9 mil votaram. Com base em um manifesto em apoio a sua candidatura que contabiliza quase três mil assinaturas, segundo Dirceu, ele estabeleceu como meta somar dez mil votos na eleição para conquistar o primeiro lugar e, quem sabe, encerrar a disputa já no primeiro turno.

“A gente imagina um quórum um pouco mais alto nesse PED porque tem mais filiados, saímos de 80 mil para 115 mil, e também porque tem disputa nacional, com voto nominal no presidente, diferente da eleição passada. Quando é voto nominal em presidente nacional, acaba chamando mais a atenção.”

Imagem ilustrativa da imagem Zeca Dirceu fala em acabar com 'fragilidades' do PT no Paraná
| Foto: Ricardo Chicarelli/Divulgação
mockup