Até às 12 horas deste sábado (7), urna na barragem do Igapó recebeu 21 votos, organizadores levaram mil cédulas
Até às 12 horas deste sábado (7), urna na barragem do Igapó recebeu 21 votos, organizadores levaram mil cédulas | Foto: Luís Fernando Wiltemburg



O mau tempo registrado desde a noite desta sexta-feira (6) prejudicou em Londrina as votações no plebiscito que questiona a possibilidade de o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul serem separados do resto do Brasil e tornarem-se outro país. A votação é promovida neste sábado (7) pelo grupo "O Sul é Meu País" . Duas urnas que deveriam ficar no Calçadão não foram instaladas pela manhã. Na barragem do lago Igapó, uma tenda precisou ser improvisada por volta das 12h para garantir que os votos fossem depositados. Entretanto, os organizadores acreditam que a adesão foi bem menor que o esperado devido às precipitações.

Até as 12h deste sábado, a urna localizada na barragem recebeu 21 votos, mas os organizadores levaram mil cédulas. A consulta popular não tem valor legal, mas os organizadores também angariam assinaturas a um projeto de lei de iniciativa popular para que o Congresso Nacional vote um plebiscito forma para questionar a separação dos estados do sul. Segundo o presidente a urna, Fernando Ferreira das Neves, a instalação da tenda foi fundamental para o seguimento dos trabalhos.

Letícia Antunes foi uma das pessoas que votou na barragem, depois de não encontrar a urna no Calçadão. Ela e o servidor público Eduardo Antunes consideram que o plebiscito é uma forma interessante de se manifestar "em relação à realidade política" do Brasil. Para Eduardo, as dimensões do Brasil prejudicam a representatividade da população, já que a capital federal é muito distante, e o retorno em investimentos em comparação aos impostos recolhidos pela União é muito pequeno. "Num país menor, é possível fiscalizar melhor, ficar em cima de nossos representantes", opina. Ele, entretanto, reconhece que a classe política tem maus representantes também no Sul. "Isso é consequência do grande número de partidos. não é possível fazer uma coalizão que agrade todo mundo e, no fim, acaba prejudicando a votação de propostas interessantes para a população", afirma Eduardo.

Cláudio e Lúcia Rosa também votaram na manhã deste sábado e dizem conhecer o movimento separatista "há bastante tempo". Para eles, a principal justificativa para tornar os países do sul independentes econômica. "Acredito que os três estados, juntos, tornariam-se uma potência", afirma Lúcia. "Também tem uma questão cultural e as facilidades de administração de um país pequeno", complementa Cláudio. Ele compara com a Europa, onde as nações têm extensões territoriais menores e que, para ele, têm administrações mais viáveis. "Nosso problema é a falta de autonomia para os estados", argumenta.
Para Fernando Neves, apesar de a separação do território ser impossibilitada por uma cláusula pétrea da Constituição Federal - ou seja, é imutável -, não permitir a separação seria ir contra os desejos do povo. "O primeiro parágrafo da constituição diz que 'todo poder emana do povo', que exerce pela voz ou pelos seus representantes. E somos um povo diferente do restante do Brasil, tanto culturalmente quanto por seus valores", diz.

Para Eduardo Antunes, dimensões territoriais do Brasil dificultam representatividade da população
Para Eduardo Antunes, dimensões territoriais do Brasil dificultam representatividade da população | Foto: Luís Fernando Wiltemburg





Sem urnas
Populares compareceram em frente ao Teatro Ouro Verde na manhã deste sábado (7) para participar do plebiscito informal que seria realizado pelo movimento "O Sul é meu País". No entanto, no local não havia urna para votação e nem integrantes do movimento para orientar os que manifestavam interesse em registrar a opinião.
No final da manhã deste sábado, quem procurou pela urna que seria colocada em frente o Teatro Ouro Verde era favorável à separação. Para o advogado Acácio Fernandes Tozzini, seria necessário dividir o Brasil em cinco países. "O país é muito grande. É impossível administrar com a cultura do povo que nós temos hoje. A nação atingiu um grau tão violento de desordem no poder público que não tem mais como consertar. A gente tem que se livrar de Brasília. Brasília atingiu o ápice da corrupção", lamentou. Questionado sobre o possível retorno dos políticos às cidades de origem com o fim de Brasília, Tozzini explicou que aposta em um "choque de cultura" na população. "Aí o pessoal de cada região, se organiza novamente. Nós at ingimos um grau de desordem que não tem como consertar mais", avaliou.

O aposentado Paulo Maurício Acquarole criticou os políticos do nordeste e também defendeu a separação do Sul. "A divisão do nosso Estado está incorreta. Se você pegar lá no canto do Brasil, lá em cima, existem seis ou sete Estados que juntos não dão nem um dos três Estados do Sul nem em arrecadação e nem em tamanho. Proporcionalmente, eles têm os mesmos votos que têm no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Se você pegar o sotaque do poder legislativo no Brasil, ele é Nordestino. Desde que eu sou criança vejo políticos mandando dinheiro para o Nordeste para acabar com a seca. Lá estão os maiores feudos políticos do Brasil", argumentou. "Eles não estão sendo orientados a sair da miséria. Aqui a gente trabalha, produz e o dinheiro vai para lá. A divisão vai ser salutar para os dois lados", completou.

O engenheiro civil Gelson dos Santos chegou a ir duas vezes até o local de votação durante a manhã para participar. A expectativa dele é que haja uma nova data. "Nós temos tudo no Sul. Os três Estados dariam um país de primeiro mundo. Não tem nada de separatismo e de desprezo pelo resto do país. É uma coisa lógica. A gente tem indústria, produção, transporte, porto, temos tudo o que um bom país teria que ter", defendeu. Segundo ele, o Sul possui pouca representatividade no Congresso Nacional. Questionado sobre qual seria a avaliação dele sobre os políticos do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina, Santos garantiu: "Se aqui fosse um país, o nosso quadro político seria bom. O problema é que nós vamos para Brasília e quem manda lá é o Nordeste".
Ao perceber a falta de informações sobre a votação, uma mulher que esteve no local rapidamente para participar apenas comentou: "Se for para o Sul do país começar desse jeito, é melhor deixar como está".
A reportagem também esteve em frente ao Banco do Brasil, no Calçadão, local em que seria colocada outra urna para votação, mas não havia placas ou integrantes do movimento durante a manhã.