O economista Roberto Macedo, doutor pela Universidade de Harvard e um dos mais respeitados especialistas em macroeconomia do País, vem defendendo em artigos e eventos empresariais que a economia do País “precisa ser repensada”, após o aprofundamento de uma crise que começou em meados da década e que ainda não dá sinais de que será vencida em breve.

Imagem ilustrativa da imagem Vinte mil empregos formais perdidos e muitas incertezas: novos mandatos sob pressão
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Como outros “papas” da área, ele acredita que a melhora será gradual e lenta, vinculada a um esforço continuado de longo prazo que envolva o incentivo à inovação, o aumento da produtividade dos trabalhadores e da competitividade global das empresas brasileiras.

Cenários nacionais hostis, no entanto, nunca paralisaram Londrina, conta a história, e os futuros ocupantes das cadeiras no Executivo e no Legislativo terão que conviver com a pressão dos eleitores para trabalhar por mais empregos e mais renda no município.

O dinamismo econômico costuma salvar mandatos, enquanto a pobreza e a falta de perspectiva têm o poder de arruiná-los.

Com a proteção social da carteira assinada, as famílias se sentem mais seguras para consumir, sonhar com a casa própria e até com a mobilidade social. Quanto mais trabalhadores deixarem a informalidade, menos demandas sociais recaem sobre os gestores públicos.

É por isso que a maioria dos líderes setoriais concorda que uma das principais prioridades para o quadriênio 2021-2024 é recuperar ao menos parte dos 20 mil empregos formais que o município perdeu nos últimos cinco anos. No período, o percentual de londrinenses com carteira assinada caiu de cerca de 30 para 25%.

“Cada emprego formal é criado a partir de um investimento médio de R$ 350 mil em capacidade produtiva. Ou seja, são necessários investimentos de R$ 1,4 bilhão por ano para obter este resultado na geração de empregos até 2030”, calcula Marcos Rambalducci, economista, professor e consultor da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), referindo-se ao rombo de vagas aberto com a sequência de recessão prolongada e pandemia.

TRANSIÇÃO

Os especialistas ouvidos pela FOLHA lembram que a nova gestão irá tomar posse em um momento de transição, de uma crise aguda - que levou muita gente à informalidade em decorrência da debacle no setor de serviços, o principal empregador da cidade - para uma crise moderada, com o retorno gradual das atividades na área de saúde, educação e de realização de eventos. Por outro lado, o agronegócio aquecido com o alto volume de exportações (além do dólar mais caro) equilibra um pouco a balança, compensando as perdas com a injeção de dinheiro na economia.

Contudo, o pós-pandemia preocupa e vai exigir ações efetivas do novo governo já no início do ano. Caso o Executivo municipal escolha uma ação a curto prazo para melhorar estes indicadores, há a recomendação para apoiar projetos habitacionais do setor privado e de infraestrutura viária pelo setor público, com a cautela de usar recursos próprios ou com financiamentos de longo prazo.

“A construção civil dá uma resposta mais rápida porque a mão de obra utilizada não requer muita qualificação. Além do que produzem resultados permanentes para a comunidade: reduz o déficit habitacional, inibe a degradação ambiental em fundos de vale, melhora a mobilidade e reduz custo de produção e consumo”, enumera.

“No entanto, é uma medida paliativa e efêmera. A movimentação dos setores de comércio e serviços provocada por estes investimentos tende a voltar a encolher após o fim do ciclo”, explica.

Para o médio prazo, o consultor recomenda uma política de atração de empresas de base tecnológica e o investimento no turismo. “A tecnologia absorve mão de obra qualificada, é ambientalmente amigável e atua no mercado global, o que dá mais solidez em caso de crises domésticas pontuais”, justifica.

“É menos difícil do que se imagina trazer pessoas para visitarem a cidade e gastarem dinheiro aqui. Há várias frentes, o turismo médico, o turismo de eventos, o turismo cultural, a gastronomia. A administração municipal tem o papel de incentivar estes setores e incrementar os cartões postais que já existem”, sugere.

GESTÃO MUNICIPAL

“O que falta aos municípios, via de regra, é que a gestão municipal lidere um processo de criação de empregos consistente a médio e longo prazo”, defende o consultor empresarial João Rezende

“Com as restrições orçamentárias em todas as esferas e o rigor das regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, há uma margem muito estreita para políticas agressivas de atração de empresas”, avisa.

“O Banco Mundial, por exemplo, orienta os gestores municipais a buscarem uma aglutinação do setor produtivo. É o melhor caminho para traçar estratégias viáveis e construir modelos duradouros de geração de postos de trabalho”, argumenta Rezende.

COMBATE À BUROCRACIA

Para o professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina Sidnei Pereira do Nascimento, a pandemia tornou ainda mais evidentes os riscos de uma dependência exagerada da cidade do setor de serviços, o mais afetado pelas restrições sanitárias. “A próxima gestão terá que criar condições para o crescimento das indústrias já instaladas e a atração de novas empresas neste setor”, opina. “Além de diversificar a economia e as oportunidades de emprego e renda, priorizar a indústria resulta em mais arrecadação de impostos e em mais recursos para melhorar o bem estar da população”. Para ele, um passo para facilitar os investimentos na indústria é melhorar o atendimento dos empresários pela prefeitura, simplificando os processos burocráticos.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Fabrício Pires Bianchi, gerente regional do Sebrae, concorda e acredita que o principal papel do governo municipal para gerar emprego formal é se concentrar em políticas públicas que facilitem o desenvolvimento das empresas na cidade, removendo entraves que dificultam a rotina de quem empreende. “O apoio às empresas de base tecnológica é realmente fundamental porque elas empregam profissionais com salário acima da média”, recomenda. “Neste contexto, a atenção à formação de profissionais qualificados também deve estar no radar dos gestores."

Bianchi também aposta que a elaboração do Masterplan (conjunto de diretrizes técnicas com prazos e metas para o desenvolvimento de diversos setores do município), já licitado e que deve estar concluído em 2021, pode ser um marco para o município entender suas verdadeiras vocações, o que impactaria diretamente no nível de confiança para investimentos e, consequentemente, para mais oferta de emprego e renda.

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INTEGRAÇÃO ACADEMIA-EMPRESA

O professor Leandro Magalhães, que coordenou estudos sobre retenção de talentos e geração de emprego e renda no Fórum Desenvolve Londrina, acredita que a cidade pode aproveitar melhor um dos seus principais diferenciais, a estrutura educacional, para alcançar novos ciclos de desenvolvimento. Para ele, o governo municipal do próximo quadriênio deve incentivar a integração da academia com o ambiente empresarial, fomentando a cultura empreendedora nas grades curriculares. “Acredito que os mandatários do próximo período devem se juntar aos esforços de disseminar a cultura da inovação nas empresas, viabilizar estruturas de incubação de novos negócios e incentivar a expansão de cursos técnicos, tornando-os cada vez mais atraentes”, propõe Magalhães.

Outro aspecto discutido no Fórum é a demanda crescente por profissionais que dominam a língua inglesa e, em menor escala, o espanhol. O desenvolvimento do polo de Tecnologia da Informação no município justificaria investimentos mais específicos em idiomas na rede pública, desde o ensino fundamental, ampliando no ensino médio e nos cursos técnicos.

“Para completar, eu diria que é muito importante que os gestores se atentem para a importância de campanhas institucionais que promovam os ativos da cidade. É uma ação muito importante para atrair investimentos e mais empregos.”, sugere. “Mas é claro que isso só vai fazer sentido se também houver um investimento em infraestrutura e logística”, pondera Magalhães. “Um complexo aeroportuário, uma cidade industrial, um centro de eventos de grande porte, rodovias duplicadas, enfim, tudo que gera uma conexão com o mundo é muito bem-vindo para a geração de mais empregos”.