Vereadora diz que houve ‘confusão patrimonial’ em contas da ADA
Anne Moraes é investigada por suspeita de uso indevido de recursos de associação de proteção animal
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 23 de abril de 2025
Anne Moraes é investigada por suspeita de uso indevido de recursos de associação de proteção animal
Simoni Saris - Grupo Folha

A vereadora Anne Moraes (PL) admitiu “confusão patrimonial” entre as contas da ADA (Associação Defensora dos Animais) e suas contas pessoais, mas negou irregularidades financeiras na instituição que preside. A parlamentar falou à imprensa, nesta quarta-feira (23), após expedição de liminar pela Justiça determinando intervenção na ADA.
Acompanhada de advogados, Anne recebeu a imprensa na sede da associação, que ocupa o espaço de três chácaras no Distrito Warta, na zona rural de Londrina. Ela fez questão de mostrar as condições em que vivem os cerca de 600 cachorros e 50 gatos, e permitiu que os jornalistas entrassem no seu quarto, um pequeno cômodo mobiliado com uma cama de casal e uma arara onde estavam pendurados cabides com roupas. Por todos os aposentos, havia animais circulando.
“Nunca existiu desvio de dinheiro. Existiu uma confusão patrimonial porque existia uma necessidade emergencial e eu cobria essas necessidades da forma que eu podia fazer”, disse a vereadora.
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A liminar foi em resposta a uma ação civil pública movida pelo MPPR (Ministério Público do Paraná), segundo a qual Anne Moraes teria custeado despesas particulares, como gastos em restaurantes, planos de saúde para ela e para a mãe, serviços de táxi e tratamentos estéticos com dinheiro que deveria ser utilizado para a manutenção da associação.
NÃO NEGA GASTOS
A vereadora não negou nenhum dos gastos apontados pelo MP, mas afirmou que todos eles são justificáveis. Os planos de saúde, de acordo com a vereadora, eram oferecidos pela ADA como benefício aos seis funcionários, inclusive para ela e a mãe, que trabalhavam na associação. “Várias vezes fui atacada por animais. Fiquei doente aqui dentro. Nem todo mundo aceitou (o plano de saúde), mas quem aceitou teve esse benefício.”
As despesas com alimentos seriam referentes às confraternizações semanais feitas com os funcionários. “Se vocês puxarem esses recibos, vão ser todos os sábados e feriados em que eu sentava com os funcionários e conversava com eles para perguntar o que estava acontecendo, o que eles estavam achando e explicar para eles as dificuldades. Não tem nada de improbidade, não tem nada errado de desvio.”
Sobre os tratamentos estéticos, a parlamentar disse ter ficado “assustada” por esse questionamento ter sido feito por uma mulher, referindo-se à promotora Révia de Paula Luna. “Durante muito tempo eu me ignorei. Entrei em depressão, fiquei doente. Quando eu consegui reunir forças para me cuidar, para me tratar, para me recuperar, fiz um tratamento psicológico, fiz um tratamento médico, passei por uma (cirurgia) bariátrica, eu fiz tratamentos estéticas porque sou uma mulher. Não é porque sou presidente de uma ONG, não é porque eu sou uma protetora que tenho que viver vestida como uma mendiga.”
Mesmo admitindo as intervenções médicas e estéticas, Anne Moraes disse que nunca usou nesses procedimentos o dinheiro que deveria ser destinado ao bem-estar dos animais.
OMISSÃO DO PODER PÚBLICO
A vereadora ainda acusou o poder público de omissão e disse ter ficado satisfeita com o anúncio de submeter a ADA à intervenção por entender que a questão do abandono de animais deve ser uma responsabilidade de órgãos públicos e não de ONGs e nem da sociedade.
“Existe uma grande omissão do poder público. Sempre foi notório, sempre divulguei, sempre pedi ajuda. Estou totalmente tranquila com essa transição que vai acontecer porque foi pelo que lutei todos esses anos”, declarou. “Essa transição é muito importante para a ADA e para a causa animal. Fazer com que o poder público assuma o que é sua responsabilidade.”
Há anos a ADA enfrenta problemas para a manutenção do abrigo e com frequência a presidente da associação usava a mídia e as redes sociais para pedir ajuda financeira.
Segundo Anne, a associação tem hoje uma dívida de aproximadamente R$ 900 mil e a manutenção dos animais no abrigo, incluindo alimentos, medicamentos e despesas como água e luz, custa cerca de R$ 80 mil mensais. Além das doações, ela disse utilizar o dinheiro do aluguel de uma casa no conjunto Vivi Xavier (zona norte), de sua propriedade, para pagar o aluguel das chácaras onde estão abrigados os animais.
As contas bancárias da instituição estão bloqueadas pela Justiça, mas continuam recebendo doações. “Eu tenho acesso às contas. Posso, inclusive, passar para vocês os extratos. A ADA é um livro aberto.”
Embora não tenha dito abertamente, ela insinuou estar sendo vitima de perseguição. “É só vocês puxarem as pessoas que fizeram as denúncias ao MP. Hoje, essas pessoas têm vínculo com quem? Qual o intuito delas denunciarem? É para o bem-estar dos animais?”

