A saída dos senadores Alvaro e Osmar Dias e a entrega do comando do PSDB no Paraná ao deputado federal Luiz Carlos Hauly não foram suficientes para atrair o diretor brasileiro da Itaipu Binacional, Euclides Scalco, e o ex-governador José Richa, de volta ao partido. Scalco e Richa continuam decididos a não retornar à vida político-partidária, como tem articulado o presidente nacional do PSDB, José Anibal, desde que condenou a decisão dos senadores do Paraná de aderirem à CPI da Corrupção, para investigar irregularidades no governo Fernando Henrique Cardoso.
As mexidas no diretório estadual foram interpretadas pelos aliados de Scalco e de Richa como ‘‘maquiagem’’ para garantir o mando de Alvaro no ninho. Apesar de Hauly ter uma identidade com o governo federal e manter uma relação amistosa com Scalco e Richa, a maior parte da nova executiva tucana é vista como sendo do grupo político dos irmãos Dias. Entre eles, os ex-deputados Hélio Duque e Haroldo Ferreira; o ex-secretário da Fazenda Erasmo Garanhão e o empresário Luiz Forte Netto, candidato a prefeito de Curitiba em 2000.
Forte Netto assumiu a 1ª secretaria da executiva, no lugar do reitor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Jackson Proença Testa, afastado do partido por não comparecer, sem justificativa, às oito últimas reuniões. ‘‘O PSDB me cassou’’, admitiu ontem Testa, que na última eleição disputou com Hauly (e perdeu) as prévias para prefeito. Ele não acredita que o afastamento foi motivado pelas denúncias de corrupção na UEL.
Hélio Duque bateu de frente com Richa em maio de 1996, quando o ex-governador tentou, sem sucesso, emplacar a filiação do governado Jaime Lerner (PFL). A briga de Scalco com Garanhão é mais antiga. Foi travada durante o governo Richa (1983 a 1986). Scalco era o chefe da Casa Civil e trombou com Garanhão, o secretário da Fazenda na época. Garanhão foi acusado por outro secretário, Belmiro Valverde, que respondia pelo Planejamento, de pagar comissões indevidas em empréstimos internacionais. Scalco articulou o afastamento dos dois.
Para os aliados de Scalco e Richa, a cúpula nacional do PSDB ainda tem uma chance de atraí-los de volta para o partido: decretar a intervenção no diretório paranaense e promover uma limpeza, retirando o grupo alvarista do comando estadual. Na próxima terça-feira, a executiva nacional define se mantém ou não a proposta de intervenção no Paraná. Porém, a informação que circulava ontem em Brasília era que líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Juthay Magalhães Júnior (BA), já sinalizava intenção de arquivar o pedido de intervenção.
Para Hauly, a possibilidade de intervenção está afastada. Ele disse que o PSDB está de portas abertas para Scalco, Richa e ainda para o filho de Richa, o vice-prefeito de Curitiba, Beto Richa. Filiado no PTB, Beto tem pretensões de concorrer à sucessão de Lerner. Porém, Hauly salientou que tem posições político-partidárias e já avisou: ‘‘Quem pilota o PSDB sou eu’’. Para cativar a confiança do comando nacional, ele disse que vai seguir a cartilha do partido e condenar a tentativa de criação de uma CPI contra FHC.
Confirmando a tese dos aliados de Scalco e Richa, Hauly não acredita que haverá debandada no ninho. O PSDB elegeu no ano passado 100 prefeitos e cerca de mil vereadores. O novo presidente não criticou a postura assumida por Alvaro e Osmar, de subescreverem a CPI da Corrupção. ‘‘Eles são senadores maduros e experientes. São posições políticas tomadas por eles’’, classificou Hauly, que se reúne amanhã em Curitiba com a executiva estadual. O novo presidente do PSDB afirmou que continua oposição ao governo Lerner.
A Folha procurou Scalco e Richa ontem. Scalco estava em Brasília envolvido numa reunião sobre o racionamento de energia. Richa se encontrava em São Paulo tratando de negócios. Beto disse que ainda é muito cedo para se falar em futuro partidário. O vice-prefeito disse que tem até setembro para definir se sai ou não do PTB. Afirmou que a sua decisão está vinculada ao grupo político formado pelos deputados estaduais Hermas Brandão, Valdir Rossoni, Ademar Traiano e Tiago Amorim.
A saída dos irmãos Dias do PSDB será consumada hoje. Alvaro promete anunciar o seu desligamento num discurso no Senado, a exemplo do que fez ontem seu irmão. Alvaro e Osmar resolveram não esperar o resultado do Conselho de Ética que vai examinar o processo de expulsão deflagrado por Anibal. (Com agências)