SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diagnosticado há quase um ano com um câncer na cárdia, localizado na transição entre o estômago e o esôfago, o prefeito Bruno Covas (PSDB) está com a doença controlada. Ele segue com o tratamento imunoterápico e não há previsão de término.

As afirmações são do oncologista Tulio Eduardo Flesch Pfiffer, que acompanha Covas desde o início do diagnóstico, em 28 de outubro de 2019. Além dele, integram a equipe que o assiste no Hospital Sírio-Libanês os médicos David Uip, Roberto Kalil Filho e Artur Katz, todos do Hospital Sírio-Libanês.

No último dia 14, Covas, que está em campanha para a reeleição, fez a 12ª aplicação de imunoterapia. "Eu examinei ele de ponta-cabeça. Está clinicamente ótimo", afirma Pfiffer.

Embora a literatura médica aponte um prognóstico ruim para a doença, o tratamento avançou muito nos últimos anos. No caso de Covas, além do tumor na cárdia, foram detectadas lesões no fígado e nos linfonodos ao lado do estômago.

Entre outubro e fevereiro último, o prefeito fez oito sessões de quimioterapia. As lesões cancerígenas regrediram, mas não desapareceram. Desde fevereiro, ele passou a fazer uso da imunoterapia.

O tratamento é inovador e usa anticorpos monoclonais para estimular o sistema imunológico.

As drogas não visam atacar as células do tumor, como na quimioterapia convencional, mas sim estimular as células de defesa do organismo para que elas combatam a doença. As aplicações duram cerca de 30 minutos e ocorrem a cada três semanas.

"Uma outra vantagem é que tem menos efeito colateral do que a quimioterapia. Depois que a gente mudou para a imunoterapia, ele está muito melhor clinicamente, mais bem-disposto. É um cara jovem, forte."

A cada três ciclos de imunoterapia, dois meses aproximadamente, Covas faz exames laboratoriais e de imagem (endoscopia, ressonância magnética e PET/Scan). "Eles têm mostrado que a doença está muito bem controlada", diz Pfiffer.

Segundo o oncologista, não há um prazo para a duração das aplicações. "É um tratamento promissor. Para essa doença [do prefeito], começamos [no Sírio] neste ano. Ele tem uma chance grande de uma resposta duradoura [regressão do câncer]."

Estudos apontam que o tratamento imunoterápico dura dois anos, em média.

Pfiffer diz que a forma como Covas tem reagido ao enfrentamento da doença surpreende a todos. "Não apenas no aspecto do tumor, mas em relação a toda condição clínica. Teve Covid, foi praticamente assintomático. Fisicamente, está tirando tudo de letra. Emocionalmente, nunca se deixou abater."

Em junho deste ano, Covas foi diagnosticado com Covid-19, afastou-se e retornou ao cargo duas semanas depois.

Segundo Pfiffer, Covas tem sido transparente desde o início do diagnóstico, o que diminui as chances de rumores, mas, ainda assim, eles se intensificaram nesse período eleitoral. "Desde a primeira coletiva de imprensa, ele pediu para gente ser sincero e transparente com as informações."

O oncologista diz que o prefeito está apto a realizar suas atividades pessoais e profissionais sem maiores restrições.

Sob a condição de anonimato, a reportagem conversou com outros cinco oncologistas (Sírio-Libanês, A.C. Camargo, Albert Einstein, Icesp e Rede D´Or) que ratificam o avanço da imunoterapia nesse tipo de câncer, mas deixam claro que, por ora, não há garantias de que tumor não voltará a progredir mesmo com o tratamento.

Um deles diz que, anos atrás, essa doença evoluiria em meses, no máximo dois anos, de maneira fatal. Mas que hoje não é assim, segundo ele, pois essas novas drogas personalizadas possibilitam respostas duradouras, de médio e longo prazo.

Esse mesmo médico diz que vai da resposta de cada indivíduo, já que é o próprio organismo que conduz a batalha contra o tumor

Ainda de acordo com esse médico, não é possível saber se o tumor de Covas continuará regredindo até ocorrer uma "resposta completa" ou se voltará a progredir, piorando o quadro.

Para um outro especialista, essa é uma resposta que ninguém tem, nem o médico de Covas. As respostas, completa, são duradoras enquanto duram.

Um cirurgião oncológico conta um caso ilustrativo sobre a experiência com imunoterapia.

Há cinco anos ele diz ter operado uma moça de 36 anos. Ela já tinha feito diferentes cirurgias, quimio e estava com a barriga obstruída, cheia de tumores. Ele conta que abriu e fechou a barriga da paciente, não tento condições de fazer absolutamente nada. O médico pensou que ela morreria em dois ou três meses.

Como a imunoterapia para o câncer da paciente já se mostrava promissora, ela passou a usá-la como último recurso. Em três meses, diz o médico, uma ressonância apontou que os tumores no abdome haviam diminuído pela metade.

Em seis meses, a doença tinha sumido, e a explicação é que, com a droga, houve uma ativação imunológica duradoura contra o tumor.