Na saída do IML, algumas pessoas gritaram "tchau, querido" e sugeriram que Eduardo Cunha "entregue todo mundo"
Na saída do IML, algumas pessoas gritaram "tchau, querido" e sugeriram que Eduardo Cunha "entregue todo mundo" | Foto: Heuler Andrey/AFP



Brasília - O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deixou a carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, na manhã dessa quinta-feira (20), para fazer o exame de corpo de delito. O procedimento é padrão, e foi feito no Instituto Médico Legal (IML) da capital paranaense. Ele foi escoltado por policiais federais, sem algemas. Na entrada, por volta das 10h, deu apenas "bom dia" ao batalhão de repórteres que o esperava. Alguns curiosos espiavam em prédios vizinhos e das janelas do próprio IML. "Trata-se de uma decisão absurda, sem nenhuma motivação e utilizando-se dos argumentos de uma ação cautelar extinta pelo Supremo Tribunal Federal. A referida ação cautelar do Supremo, que pedia minha prisão preventiva, foi extinta e o juiz, nos fundamentos da decretação de prisão, utiliza os fundamentos dessa ação cautelar, bem como de fatos atinentes a outros inquéritos que não estão sob sua jurisdição, não sendo ele juiz competente para deliberar", afirmou Cunha.
Na saída, algumas pessoas gritaram "tchau, querido" e sugeriram que ele "entregue todo mundo". Após o exame, Cunha retornou para a Superintendência da PF. Segundo a PF, Cunha está em uma cela individual, separada dos demais presos da Operação Lava Jato. A corporação informou ainda que não há previsão de tomada de depoimento do ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Cunha foi preso quarta-feira (19), em Brasília, pela Polícia Federal, depois que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, emitiu a ordem de prisão preventiva. A prisão foi decretada na ação penal em que o deputado cassado é acusado de receber R$ 5 milhões, que foram depositados em contas não declaradas, na Suíça. O valor seria oriundo de vantagens indevidas, obtidas com a compra de um campo de petróleo pela Petrobras em Benin, na África, segundo a PF.

VISITAS
Eduardo Cunha não irá receber tão logo a visita da mulher Claudia Cruz e dos filhos. Segundo o advogado Marlus Arns, o próprio Cunha considera um desgaste desnecessário a presença de parentes na carceragem da superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba. Ontem houve protestos em frente à sede da PF e advogados de Cunha foram hostilizados. "Os ânimos estão muito exaltados na sociedade", diz Arns.
Claudia, que também é ré na Lava Jato sob suspeita de se beneficiar de dinheiro de corrupção, falou na quarta (19) com o advogado Pierpaolo Bottini, que a aconselhou a não ir para Curitiba no momento.
As visitas na superintendência acontecem às quartas-feiras, mas em casos excepcionais já houve permissão para a entrada de parentes em outros dias.
A defesa deve entrar com pedido de habeas corpus para a soltura do ex-deputado, segundo Arns.

PRIMEIRA NOITE
Cunha está sozinho numa cela vizinha à do ex-ministro Antonio Palocci. Um de seus primeiros pedidos aos advogados foi uma cópia do processo de prisão. Ele está estudando ponto a ponto as alegações do Ministério Público, fazendo anotações e sublinhando os trechos que considera mais frágeis. Segundo Arns, Cunha permanece calmo. Os relatos na carceragem são de que o ex-deputado mantém uma postura quase impassível: não sua, não treme e não demonstra nervosismo. O ex-parlamentar não fez nenhum pedido especial de alimentação, e comeu a mesma refeição servida aos outros presos: arroz, feijão e frango. Na carceragem, ele ainda tem direito a duas horas de banho de sol por dia.
A rotina do ex-deputado tem se resumido, nessas primeiras horas de cárcere, a reuniões com advogados. Na quarta (19), Cunha se reuniu na PF com cinco advogados de quatro bancas que fazem a defesa dele nos processos da Lava Jato. Nessa quinta (20), passou a manhã reunido com outros três defensores.