A inclusão das cidades que compõem 17ª Regional de Saúde no rol da quarentena mais rigorosa imposta pelo decreto estadual publicado pelo governador Ratinho Junior (PSD) vai além do debate sobre os dados da Covid-19 e dos efeitos na economia de Londrina e municípios da região. As divergências de alguns prefeitos e vereadores da região norte do Paraná crescem sobretudo com a aproximação das eleições municipais programadas para novembro, e com isso, o tom político acaba se sobressaindo ao debate técnico.

Imagem ilustrativa da imagem Tom político cresce no debate sobre a quarentena que inclui região de Londrina
| Foto: Rodrigo Felix Leal / ANP

Em reunião nesta quinta-feira (2), os prefeitos da Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema) decidiram oficiar o governo do Estado pedindo a revisão do decreto. O entendimento é que, tendo como base os dados fornecidos pela prefeitura de Londrina, os indicadores – com exceção do de óbitos – apresentam um quadro de controle e não justificam o endurecimento generalizado decorrente do decreto. "Cada município tem suas particularidades e todas as informações que temos evidenciam que estão com a situação sob controle”, disse o presidente da Amepar, Hugo Manueira, prefeito de Sabáudia (Região Metropolitana de Londrina). Ele acrescentou que os prefeitos das cidades que tiveram aumentos de casos já tinham tomado providências para o fechamento ou endurecimento das restrições.

Já o ex-vereador Jamil Janene (PP), aliado de primeiro hora do prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, divulgou nas redes sociais áudio afirmando que a inclusão da cidade no recrudescimento das medidas seria de responsabilidade do deputado Tiago Amaral, vice líder do governo na AL (Assembleia Legislativa), que é dado como pré-candidato a prefeito em Londrina pelo grupo de Ratinho Jr. "É um jogo político, a decisão é completamente política. Como é que manda fechar Londrina e não fecha Maringá?", disparou Janene. A comparação dos dados de Londrina e Maringá já havia aparecido na fala de Belinati em live na quarta-feira (1) na qual ele classificou de "estranheza" a inclusão da cidade no decreto estadual.

Já o líder do prefeito na Câmara, Jairo Tamura (PL), não quis relacionar a pré-campanha ao debate sobre a quarentena, mas questionou a interferência do governador no planejamento feito pelo município para preparar leitos e controlar a pandemia . "Tudo que fizemos até agora para garantir número de leitos não foi suficiente?". Segundo ele, a Câmara Municipal irá encaminhar um requerimento, assinado por todos os 19 vereadores, em apoio ao recurso do prefeito contra a suspensão das atividades comerciais. "Onde estava a 17ª Regional de Saúde quando precisaram do dinheiro e a Câmara Municipal destinou recursos para leitos no HU (Hospital Universitário)? É preocupante quando o governo vem interferir no município que já fez o dever de casa."

CRITÉRIO TÉCNICO

A FOLHA não conseguiu contato com o deputado estadual Tiago Amaral sobre alegações políticas no decreto do governo. Entretanto, em debate transmitido pelo Youtube na quarta-feira (1), o diretor geral da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Nestor Werner, negou interferência política na decisão que, segundo ele, é estritamente técnica. "O governo nunca quis politizar o caso. O que diz a pandemia são os números concretos e reais. O que está posto é a realidade dos números. Não faz sentido comparar cidades, mas temos que pensar é em ficar bem", disse. Entretanto, Werner citou o índice de incidência de Covid-19 em Maringá que é de 0,85, ou seja, abaixo do dado de Londrina, que está com 1,22, taxa referencial acima da média do Paraná, que é de 1,08. Os indicadores da Sesa levam em conta três itens: incidência de casos; taxa de mortalidade; e taxa de ocupação de leitos de UTI.