Testemunha de CEI diz que corre risco
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2000
Valmir Denardin
De Foz do Iguaçu
Uma das principais testemunhas do envolvimento de policiais paranaenses com o crime organizado hoje se diz abandonada pela Comissão Especial de Investigação (CEI) da Assembléia Legislativa e sofrendo ameaças de morte. Rafael Leandro Walenga, 22 anos, deu depoimento aos deputados da CEI no dia 20 de dezembro e acusou um grupo de dez policiais civis e um juiz de menores de Cascavel de integrar uma quadrilha de tráfico de drogas, roubo e desmanche de carros, extorsão e assassinatos por encomenda.
Walenga, que já foi membro da quadrilha, diz que, para obter seu depoimento, os deputados prometeram dar proteção a ele e tentar incluir seu nome no programa federal de proteção a testemunhas de crimes, em que os beneficiados recebem moradia, alimentação e até emprego em um lugar desconhecido, com as despesas custeadas pelo governo federal.
Hoje, minha cabeça está a prêmio e sou ameaçado de morte, disse Walenga ontem à tarde, ao ser localizado, em Foz do Iguaçu, pela reportagem da Folha. Com uma camiseta e calção sujos e chinelos, ele afirmou que estava tentando obter uma passagem junto à Assembléia Legislativa para viajar para outra cidade.
Até o início da noite, não havia conseguido. Eu ligo no gabinete do Vanhoni (Ângelo Vanhoni, PT, presidente da comissão) e desligam o telefone na minha cara. A Folha também não consegui localizar Vanhoni no final da tarde de ontem. Os telefones de seu gabinete na Assembléia não atendiam e o celular estava desligado.
O deputado Algaci Túlio (PTB), vice-presidente da CEI, disse desconhecer a situação atual de Walenga. Recordo que foi dada cobertura a ele durante o período do depoimento. Até tivemos de transferí-lo de hotel porque ele falou o nome do estabelecimento onde estava durante a sessão, afirmou Algaci.
De acordo com o deputado petebista, o que aconteceu depois somente Vanhoni poderia informar. Só lembro que esse rapaz era muito exibicionista. Walenga confirmou que a Assembléia pagou suas despesas de viagem e hospedagem para prestar depoimento em Curitiba.
No dia 30 de dezembro, depois de deixar o hotel que era pago pela Assembléia, Walenga afirma que foi espancado por dois homens um deles policial militar que o teriam sequestrado na Praça Osório, centro de Curitiba, e o levado para um estacionamento perto dali. Ao voltar para Cascavel, onde mora, o rapaz diz que recebeu recados e bilhetes supostamente enviados pelos homens que denunciou, ameaçando-o de morte.
Walenga responde em liberdade a 11 processos por crimes como furto, estelionato e arrombamento. Quando menor de idade, teve registradas 15 passagens pela Polícia Civil de Cascavel e passou um tempo em uma instituição para recuperação de menores.
Na quadrilha que hoje denuncia, afirma que vendia equipamentos eletrônicos furtados e atuava no transporte de drogas. Eu vendia a mesma mercadoria quatro ou cinco vezes, porque a Polícia recuperava e me dava para vender de novo. Ele afirma ter provas como fitas gravadas e outros documentos contra os policiais.