Os três senadores do Paraná se manifestaram contrários ao corte de 30% no orçamento das universidades federais, publicado pelo governo federal em Diário Oficial na semana passada. Sob a justificativa de alto custo e suposta baixa produtividade, a medida não leva em consideração dados como os obtidos no relatório “Research in Brazil” da americana Clarivate Analytics, que aponta as universidades públicas como responsáveis por 95% da produção científica do País.

Oriovisto Guimarães (PODE): “Há economia para se fazer no governo todo e educação e saúde deveriam ser as últimas coisas”
Oriovisto Guimarães (PODE): “Há economia para se fazer no governo todo e educação e saúde deveriam ser as últimas coisas” | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Em entrevista à FOLHA, Oriovisto Guimarães (PODE) e Flávio Arns (Rede), cujas trajetórias estão ligadas à área da educação, repudiaram o anúncio feito pelo MEC. Arns é professor licenciado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na manhã desta terça-feira (7) vai presidir a reunião da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado que deve contar com a presença do ministro Abraham Weintraub. O senador considera a postura do MEC completamente ideológica. “Eu diria que não há absolutamente nada de técnico”, afirmou.

Flávio Arns (Rede): “Eu diria que não há absolutamente nada de técnico (nos cortes)”
Flávio Arns (Rede): “Eu diria que não há absolutamente nada de técnico (nos cortes)” | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Questionado sobre o que a Comissão deve fazer caso o ministro não consiga convencer os senadores sobre a importância da medida, Flávio Arns lembrou que até já havia conversado com o chefe da pasta há cerca de duas semanas sobre a falta de consenso entre os Poderes. “Se o governo apontar que quando a reforma da Previdência for aprovada a situação vai mudar, uma coisa não tem nada a ver com a outra”, ressaltou.

“Nós precisamos ter objetivos adequados, planos claros, os senadores até já apontaram que querem ver isso do ministério, dizer quais são os caminhos para implantar alfabetização, profissionalização, escola em tempo integral, valorização do docente, formação inicial, continuada, Plano Nacional de Educação, Ideb, muitos desafios que não dá pra ser tratados sem passarmos por todos estes aspectos”, explicou.

GORDURAS

O fundador do Grupo Positivo, o empresário e senador Oriovisto Guimarães, considerou a medida como precipitada e também indicou que deve participar da reunião com o ministro. Em seguida apontou outras áreas que avalia possuírem “gorduras” para se economizar prioritariamente.

“Por exemplo, eu acho que nós temos vários gastos com subsídios a empresas que já não se justificam, vários gastos com Fundo Partidário, com o Poder Judiciário, Legislativo, dentro do próprio Executivo, existe economia para se fazer no governo todo e acho que educação e saúde deveriam ser as últimas coisas”, afirmou.

No caso da UFPR, segundo o reitor Ricardo Marcelo Fonseca, o corte representa uma redução de R$ 48,3 milhões neste ano para pagar contas de luz, água, telefone, vigilância, limpeza, entre outros setores. Medida que também vale para Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila) e o Instituto Federal do Paraná.

DIÁLOGO

Alvaro Dias (PODE): “É preciso identificar a área de desperdício para se estabelecer o corte sem comprometer a educação”
Alvaro Dias (PODE): “É preciso identificar a área de desperdício para se estabelecer o corte sem comprometer a educação” | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Já o senador Alvaro Dias (PODE) avaliou que economias são necessárias também na educação, mas de forma organizada e com diálogo. A FOLHA entrou em contato com a assessoria do senador, que enviou o vídeo da fala dele em plenária na manhã dessa segunda-feira (6).

“Nós sabemos que há desperdício em muitas universidades, então é preciso identificar a área de desperdício para se estabelecer o corte sem comprometer a educação”, disse.

Em seguida, Dias voltou a criticar o discurso do ministro da Educação de que as universidades federais seriam palco de “balbúrdias” e por isso mereceriam ter o orçamento reduzido. “Ao anunciar cortes em função de um ato de balbúrdia, estará se condenando, prejudicando, aqueles que são disciplinados, ordeiros e que não participam. Você não pode tomar a exceção como regra”, avaliou.