Em um anfiteatro quase lotado, os candidatos ao governo do Paraná Ângela Machado (PSOL), Ricardo Gomyde (PDT) e Roberto Requião (PT) participaram, nesta quinta-feira (1), de um debate promovido pelo Coletivo de Sindicatos de Londrina. O evento, mediado pelo jornalista Fábio Silveira e sem a presença do governador Ratinho Junior (PSD), candidato à reeleição, aconteceu no Anfiteatro Cyro Grossi, na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Por mais de duas horas, os postulantes ao cargo no Palácio Iguaçu apresentaram suas propostas sobre temas como saúde, educação, segurança pública e trabalho e emprego.

Conforme determina a lei, o convite para estar presente ao debate foi feito aos candidatos cujos partidos têm representação no Congresso Nacional. Ratinho Jr. teve lugar reservado à mesa, mas não compareceu, alegando conflito de agenda. Mesmo ausente, foi ele o candidato mais atacado pelos adversários durante toda a sabatina. Ratinho também foi alvo de manifestações contrárias da plateia.

O debate foi dividido em três blocos. No primeiro, os candidatos responderam e comentavam as perguntas elaboradas pelo Coletivo de Sindicatos. No segundo bloco, responderam às questões formuladas pelo público e, na última parte, fizeram perguntas entre eles.

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EDUCAÇÃO

A educação foi o primeiro tema colocado em discussão e os candidatos foram questionados sobre os salários dos professores do ensino básico e superior que, segundo a categoria, estão há seis anos sem reajuste e com defasagem de 36,5%. Requião firmou o compromisso de respeitar a data-base e rever os R$ 17 bilhões em isenções fiscais concedidas pelo atual governo em 2022. "A reposição salarial dos professores custaria R$ 4,5 milhões”, calculou. Ele também defendeu o fim das terceirizações no setor e a formação continuada de todos os agentes educacionais desde o primeiro dia de trabalho.

A professora e candidata pelo PSOL Ângela Machado lembrou que a desvalorização está levando ao adoecimento dos profissionais da educação do Estado e falou em “apagão na educação”. “Temos que rever os salários, investir em educação e acabar com a terceirização e a militarização nas escolas.”

PRIVATIZAÇÃO

Na discussão sobre a privatização das estatais, Gomyde disse que “falta governo forte” e que o governo é quem deve indicar a diretoria e o conselho e criticou a distribuição de dividendos aos fundos estrangeiros, sócios minoritários de estatais paranaenses.

Requião afirmou que, se eleito, irá “pôr na rua”, “na primeira semana”, todos os presidentes e diretores da Copel e da Sanepar e colocará as empresas a serviço da população. “Estamos pagando uma tarifa que é um roubo para engordar os fundos estrangeiros, acionistas minoritários.” Ele atacou o atual governador, a quem se referiu durante todo o debate como “Rato”, e criticou a política de privatização do Executivo estadual, a qual classificou de “liberalismo econômico selvagem”.

Machado apresentou como proposta recomprar as ações que hoje estão nas mãos desses acionistas. “O dinheiro da Sanepar e da Copel não é para dar lucro aos investidores.”

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PEDÁGIO

O debate correu pacífico durante quase todo o tempo. O único momento de maior tensão foi no bloco final, quando os candidatos faziam perguntas entre si e um dos temas escolhidos foi a cobrança de pedágio nas rodovias do Paraná. Após Requião dizer que não conseguiu acabar com a cobrança de tarifas no Estado durante seus mandatos como governador em razão de entraves com o sistema judiciário e por falta de apoio de alguns partidos, como o PDT, foi criticado por Gomyde, que lembrou que sua proposta de campanha era “abaixa ou acaba” e não “abaixa ou acaba se tiver apoio do PDT”.

Requião, então, contra atacou, mantendo-se fiel ao seu velho estilo de alfinetar oponentes. “Eu conheço o ‘Gomydinho’. Eu o nomeei secretário no meu governo, mas não o nomearia de novo porque foi um secretário fraco”, cutucou.

O pedetista, que presidiu a Paraná Esporte de 2002 a 2009, rebateu: “Ele diz que sou fraco, mas me elogiava para todo mundo enquanto eu fui secretário.”

Como proposta para o pedágio, Requião disse que na atual situação econômica do Estado, que perdeu receitas tributárias, não seria possível acabar com o pedágio, mas defendeu a cobrança de uma tarifa mínima “para manutenção”. O mesmo fez Gomyde, cuja proposta é a de “pedágio mínimo”, citando como exemplo outros estados, como Santa Catarina.

Machado disse acreditar ser possível um “Paraná sem pedágio” e que os recursos para a manutenção das estradas poderiam vir da taxação de grandes transportadoras e do agronegócio.

TRABALHO

Para aumentar o número de empregos e a geração de vagas de trabalho, Gomyde apontou que é preciso diálogo para conseguir atrair investimentos, unir o setor produtivo, ofertar mais empregos e melhorar a renda do trabalhador. Além de atrelar as empresas ao salário mínimo regional, que hoje é de R$ 1.870, a aposta do pedetista é investir em ensino profissionalizante para qualificar os profissionais para as novas oportunidades. “Temos um salário mínimo regional mais elevado do país, mas as empresas não estão atreladas a ele. Vamos obrigar as empresas a praticarem o salário mínimo regional.”

Lembrando a todo tempo de todas as suas ações enquanto governador do Paraná, Requião disse que deverá repetir a fórmula de reduzir impostos de pequenas e médias empresas e incentivar a instalação de empresas especialmente em cidades do interior, onde há pouca oferta de trabalho.

“A nossa principal proposta é de pleno emprego aos paranaenses. Mais de 50% da população paranaense ganha até um salário mínimo, mas não basta ter emprego, mas tem que ter emprego digno”, disse Machado, que também defendeu as isenções fiscais para pequenas empresas.

SAÚDE PÚBLICA

Questionados sobre suas propostas para a saúde pública, Gomyde apontou a qualidade de gestão como um caminho para aprimorar o atendimento e afirmou que irá apoiar os consórcios regionais para fazer andar a fila das cirurgias eletivas.

Requião, mais uma vez, afirmou que é preciso acabar com a privatização e que o caminho é “o caminho da medicina pública”, para atender a população mais pobre.

Machado ressaltou o sucateamento do SAS, serviço de atendimento em saúde dos servidores do Estado, defendeu a atenção primária a 100% dos municípios e disse que sua proposta é prestar atendimento diferenciado às minorias, como os LGBTQIA+, quilombolas, indígenas e ribeirinhos.

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