Parintins, AM e Salvador, BA - Um dia depois da Polícia Federal prender um fazendeiro no Pará suspeito de ameaçar dar um tiro no presidente, Lula (PT) afirmou nesta sexta-feira (4) em Parintins (AM) não temer ameaças de adversários e defendeu uma política com mais civilidade no país.

"Se eu tivesse medo, não tinha nascido. Se eu tivesse medo, não era presidente da República. Aprendi com minha mãe a não ter medo de cara feia. Cachorro que late não morde", afirmou o presidente em discurso para apoiadores na cidade amazonense.

Na quinta-feira (3), a Polícia Federal prendeu um fazendeiro em Santarém (PA) suspeito de afirmar em uma loja que daria um tiro no presidente Lula quando ele visitasse a cidade. A ameaça foi denunciada por uma testemunha que estava no local e que acionou a PF.

Antes da solenidade, o presidente assistiu a apresentações dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso e usou a rivalidade local como um exemplo para a classe política.

"Eu acho, senadores e deputados, vocês deveriam trazer a classe política para cá para aprender como o povo faz política de forma civilizada. Vocês perceberam que aqui quando o vermelho canta o azul se cala. E quando o azul canta o vermelho se cala. Lá em Brasília ninguém deixa ninguém falar", disse.

O presidente ainda defendeu uma política "sem ódio, sem mentira, sem provocação e sem ofender o adversário". Minutos antes, contudo, ele voltou a chamar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de genocida e o responsabilizou pelas mortes de brasileiros na pandemia.

AGENDA

Lula chegou por volta das 11h30 (horário local) na praça Cristo Redentor, na orla de Parintins, onde era aguardado por cerca de 10 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar. Participaram da cerimônia o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), e o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP) - ambos apoiaram Jair Bolsonaro (PL) em 2022.

O público vaiou o governador amazonense e gritou "fora, Wilson Lima", mas o presidente o cumprimentou e ficou ao seu lado durante o discurso.

Juntos, presidente e governadores participaram do relançamento do Luz para Todos, programa de eletrificação de localidades remotas lançado em 2003 que foi uma das principais marcas de seus dois primeiros mandatos.

REFORMA MINISTERIAL

Lula sinalizou a integrantes da cúpula de seu partido a disposição de que a reforma ministerial tenha como alvo pastas hoje de ministros sem padrinhos políticos e representantes de PSB e PT. Além do espaço ocupado pelo PT na Esplanada, a avaliação é que o tamanho do PSB - partido do vice Geraldo Alckmin - também não corresponde à bancada da sigla no Congresso. Com 15 deputados federais, o PSB conta atualmente com três ministérios.

Na nova configuração em discussão, o partido perderia um ministério. Esse novo desenho exigiria, no entanto, uma conversa entre Lula e Alckmin. O vice dá claros sinais de resistir à mudança. Até por isso, segundo aliados, a reunião com o comando petista foi inconclusa - para decepção dos articuladores do governo e irritação dos parlamentares do centrão.

A conversa de Lula com petistas se desenrolou na noite de quarta-feira (2) no Palácio da Alvorada, onde Lula recebeu os parlamentares. Estiveram com Lula os líderes do governo no Senado e na Câmara, Jaques Wagner (PT-BA) e José Guimarães (PT-CE), respectivamente, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

Segundo a Folha de S.Paulo apurou, Lula fez projeções de como pode ficar a Esplanada na dança das cadeiras que deve ocorrer nas próximas semanas, para acomodar aliados do PP e do Republicanos e, com isso, conseguir uma base ampliada no Congresso Nacional. Nem mesmo Ana Moser (Esportes) estaria imune à reforma. Também não está descartada a recriação do ministério das Micro e Pequenas Empresas com o intuito de ampliar o número de cadeiras no governo. (Com Catia Seabra e Marianna Holanda/Folhapress)