Arquivo/Folha de LondrinaO ex-presidente do Senado, José Sarney: ‘‘Liderado e isolado’’BRASÍLIA - O ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que estava ‘‘levitando’’ após entregar ontem o cargo ao seu sucessor, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Sarney afirmou que, a partir de agora, será um senador ‘‘liderado e isolado’’ e vai dedicar-se a terminar o segundo volume de suas memórias e o novo romance - sobre garimpeiros do Amapá -, que já tem 90 páginas escritas.
Além disso, afirmou que vai ‘‘pintar e pescar’’. Sobre seus planos na política, negou que queira ocupar novamente a Presidência da República. ‘‘A Presidência a gente não deseja. Ela vem ou não vem. A única coisa que eu desejei na vida e não tive foi uma bicicleta’’, disse.
Sarney despediu-se da presidência do Senado discretamente. Fez um discurso curto, no qual agradeceu a ‘‘solidariedade integral’’ que recebeu dos senadores, e manifestou o que ele próprio chamou de ‘‘profissão de fé no Poder Legislativo’’. Fazendo uma comparação com a Presidência da República, que ocupou no período de 1985 a 1989, Sarney disse que ‘‘dirigir o Legislativo não é fácil’’.
Ele explicou que, na Presidência da República, as decisões tomadas são ‘‘monocráticas’’, enquanto no Congresso ‘‘não há hierarquia vertical e sim horizontal’’ - todos os parlamentares têm de ser ouvidos. Sarney disse que, durante sua gestão, o Senado ‘‘se afirmou como uma grande Casa do Legislativo, agiu com absoluta independência em relação aos outros Poderes e foi muito valorizado’’.
Todos os líderes partidários prestaram homenagens a Sarney, antes da eleição de ACM. Os maiores elogios partiram da oposição. O líder do PT, José Eduardo Dutra (SE), disse que o trabalho do ex-presidente nesses dois anos foi ‘‘brilhante’’. Dutra lembrou que, na administração de Sarney, os senadores passaram a conhecer a pauta de votações com um mês de antecedência. Elogiou a ‘‘transparência’’ que Sarney deu às atividades da Casa e o trabalho de ‘‘modernização’’ feito durante sua gestão.
O ex-presidente prepara-se para viajar para a Europa, onde fica durante cerca de um mês para lançar seu livro ‘‘O Dono do Mar’’. Há vários dias, ele já deixou a residência oficial e o gabinete da presidência do Senado. Ontem, logo após anunciar o resultado da eleição, deixou a cadeira de mogno que era do antigo Senado á- e que ele adotou em sua gestão - para ACM e foi imediatamente para seu lugar como simples senador, no plenário.