SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A desistência do apresentador José Luiz Datena de participar das eleições municipais deste ano embolou a disputa pela vaga de vice na chapa do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).

Filiado ao MDB, Datena era o nome de convergência de aliados importantes do tucano para integrar a disputa.

Agora, o jogo zera. Entre aliados do tucano, três nomes despontaram nas bolsas de apostas internas.

Primeiro, o da senadora Mara Gabrilli (PSDB), na hipótese de ser montada uma chapa puro-sangue que não melindre eventuais aliados para um eventual segundo turno.

Em favor de Mara, há a densidade eleitoral: ela teve 6,5 milhões de votos em 2018, numa campanha calcada em sua defesa dos direitos das mulheres e das pessoas com deficiência (ela é tetraplégica).

Contra, por outro lado, há o fato de ela transitar numa faixa de eleitorado não muito diferente da de Covas, mais ao centro do espectro político e com algum apelo a estratos da centro-esquerda.

Como os estrategistas tucanos creem que Covas confirmará o favoritismo das pesquisas pré-campanha, isso poderia ter um peso menor.

Entre aqueles mais preocupados em angariar apoio nas periferias, volta à baila o nome da ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade), cujo legado dos Centros de Educação Unificados é um ativo sempre citado por ambos os lados.

Ela foi cortejada como vice pela ala do PT contrária à candidatura de Jilmar Tatto, mas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis impor Fernando Haddad no jogo, por ora seu nome segue no mercado eleitoral.

Nome que sempre sai com razoável intenção de votos e que chegou a ser especulado no começo do ano, Celso Russomanno (Republicanos) hoje é visto como pouco provável por sua ligação umbilical com a Igreja Universal -aliada de Jair Bolsonaro, inimigo declarado do PSDB paulista.

Por fim, há na cúpula tucana uma hipótese nova: atrair o coronel Marcelo Vieira Salles, ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo, que será candidato a vereador.

O problema central é que ele integra o PSD, partido que já tem como pré-candidato na disputa Andrea Matarazzo. O ex-vereador era o favorito para disputar a eleição pelo PSDB em 2016, mas foi atropelado por João Doria, com a ajuda do então governador Geraldo Alckmin.

Matarazzo assim saiu do PSDB após 25 anos e acabou como vice de Marta, à época no MDB, que ficou em quarto lugar no pleito vencido pelo hoje governador Doria.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, descarta a hipótese a interlocutores, e diz que considera Matarazzo não só viável, mas como uma provável surpresa na eleição. Eles estiveram juntos nesta semana, adiantando planos para a convenção do partido, marcada para 31 de agosto.

Com sua reunião de definição marcada para 12 de setembro, o PSDB tem um mês para resolver seu problema.

Ele já foi mais agudo. Na virada do ano, a candidatura de Covas balançava devido a diversas pesquisas mostrando que ele teria dificuldades sérias na disputa. Tudo mudou com dois fatores.

Primeiro, o prefeito foi diagnosticado com um câncer agressivo, que enfrenta com transparência pública. Sua aprovação começou a subir, em pesquisas internas, quase que imediatamente, e ele asseverou sua palavra nas decisões do partido.

Além disso, posicionou-se de forma bastante ativa no combate à pandemia, ainda que esse seja um flanco usual de ataque de seus adversários.

A possibilidade de que ele tenha de ausentar-se por vezes da prefeitura por questões de saúde segue sendo uma preocupação da escolha da vaga de vice, mas a boa disposição demonstrada por Covas durante o tratamento retirou um pouco dessa pressão.

No mais, ele virou favorito na pré-campanha, com a pulverização de concorrentes a seu redor. O PT está abatido, tendo protagonismo roubado pelo PSOL, e o bolsonarismo orgânico não encontrou nenhum candidato com aspecto viável até aqui.

Datena trazia densidade inerente a um comunicador popular e, principalmente, atendia a um acerto maior entre partidos aliados.

Um acerto tripartite, visando a criação de um núcleo alternativo de poder no centro e na centro-direita com Doria como figura de proa por ora, foi estabelecido entre PSDB, DEM e MDB.

Nele, os democratas manteriam sua influência no Congresso, hoje dominado pela figura de Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara.

O fariam, caso o Supremo Tribunal Federal venha a permitir, pela manutenção de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na chefia do Senado e com o MDB, na figura provável de seu presidente, deputado Baleia Rossi (SP), como sucessor e aliado de Maia.

Nesse arranjo, o MDB ganharia poder em São Paulo por um novo vetor, Datena, esvaziando Paulo Skaf, o presidente da Fiesp e maior aliado de Bolsonaro no estado.

Ainda no estado, o DEM permanece com a perspectiva de lançar o vice de Doria, Rodrigo Garcia, candidato ao governo em 2022 --se o tucano sair à Presidência mesmo.

Por fim, hoje numa órbita que ora passa pelo governo Bolsonaro, onde tem ministério, e ora pela associação com antigos aliados tucanos, está o PSD de Kassab, ainda solto no jogo.

O abandono de Datena, novamente creditado a questões financeiras por seus correligionários, complicou o arranjo.

Todas as opções na mesa trazem riscos para Covas e, principalmente, para o planos de Doria de estabelecer uma aliança nacional a partir dos níveis de capitais e estados.