Um dos mais experientes da bancada paranaense na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) não pretende mais se candidatar. Aos 74 anos, parlamentar, que não foi reeleito em 2022, diz que quer terminar seu quinto mandato da melhor maneira possível — em dezembro, votou favoravelmente para dar transparência ao orçamento secreto, que considera uma “vergonha da corrupção nacional”.

Nascido em Sertanópolis, Bueno foi deputado estadual por duas legislaturas, entre 1983 e 1991, e secretário estadual da Justiça de 1987 a 1990, durante o governo de Alvaro Dias. Eleito deputado federal em 1990, venceu a disputa pela prefeitura de Campo Mourão em 1992. Voltou à Câmara Federal nas eleições de 1998 e disputou o governo do estado em 2002 e 2006. Em 2004, concorreu à prefeitura de Curitiba. Foi novamente eleito deputado federal em 2010 e reeleito em 2014 e 2018. Neste ano, ficou de fora com 42.321 votos.

Rubens Bueno: " O Centrão não muda de lugar. Quem muda é o governo, não o Centrão"
Rubens Bueno: " O Centrão não muda de lugar. Quem muda é o governo, não o Centrão" | Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados

Ao longo de seus mandatos, Bueno foi responsável por 2.681 propostas na Câmara, entre projetos de lei, emendas à Constituição, requerimentos e outros tipos de iniciativas. Doze projetos se transformaram em leis, entre eles o que permitiu às mulheres registrarem o nascimento do filho e o que tornou obrigatório o uso de farol aceso durante o dia nas rodovias. Outros projetos de sua autoria são o que institui o Programa de Cultura do Trabalhador e o que criou o vale-cultura.

Uma de suas propostas, apresentada em 2012, nem chegou a tramitar. A PEC que acaba com o foro privilegiado não foi sequer apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. “Alguns falam e concordam, mas a grande maioria fica com o pé atrás e não ajuda na hora de votar”, diz o deputado.

O parlamentar paranaense também foi relator de projetos que geraram discussões no Congresso, entre eles o que tratava das pesquisas eleitorais (que acabou voltando à pauta após a eleição deste ano). Outra proposta relatada por ele estabelece o teto salarial no serviço público, a fim de barrar os chamados supersalários. O projeto foi aprovado na Câmara e aguarda apreciação do Senado.

FOLHA - O senhor foi prefeito e concorreu duas vezes ao governo, mas a última vez que disputou um cargo majoritário foi em 2006. O senhor diria que tem uma vocação para o Legislativo?

Rubens Bueno - Não me candidatei porque em 2010 eu me elegi deputado federal e repeti a votação até agora. Fui prefeito, fui secretário, é um misto. Uma coisa da vida pública é não ser exclusivamente de uma área, mas de qualquer maneira eu me encontrei mais no parlamento, dada a diversidade de ideias e de projetos que encaminhei. A política é o nosso dia a dia, quem não compreende a política não nada das relações humanas.

Um dos projetos que o senhor apresentou, e que ainda não foi apreciado, extingue o foro privilegiado. Como foi a aceitação da proposta na Câmara?

Está lá desde 2012. Não andou nada. Alguns falam e concordam, mas a grande maioria fica com o pé atrás e não ajuda na hora de votar. Tem que votar na CCJ para começar a caminhar, criar uma comissão específica para emitir um parecer antes de levado ao plenário. O problema é que não há receptividade. No mundo da política do Brasil, como ele está, não há receptividade.

Muitas lideranças tradicionais perderam espaço nas últimas eleições. O crescimento da extrema direita nos últimos anos atrapalhou essas candidaturas?

Tanto é verdade que houve uma polarização. O discurso do Bolsonaro era o PT e o Lula, o discurso do PT e do Lula era o Bolsonaro. Isso criou uma polarização e ao final uma radicalização que levou extremistas a tomarem conta do processo e eles tomam conta até hoje. É só ver o que aconteceu em Brasília. Quando a política se radicaliza e extremistas assumem o protagonismo desse processo, o que acontece são guerras. O mundo tem história nisso.

O senhor viveu o fim da ditadura e a volta da democracia, imaginava que uma parcela da sociedade pediria golpe de estado tanto tempo depois?

Não imaginava. Mas hoje é motivo de riso. Há dois meses leio que em 72 vai acontecer alguma coisa. Isso se deve muito ao avanço da internet. Eles souberam explorar isso pelo caminho da mentira e da desinformação, deseducando politicamente, e encontraram respaldo. As pessoas foram acreditando, montando grupos e reverberando isso. É um desserviço à política e ao país. Eles pegaram a cópia de tudo que já aconteceu, de Hitler a Mussolini. Andar de moto, andar a cavalo, mostrar o físico, nadar. É uma cópia fiel do que aconteceu em termos de nazismo e fascismo. Mas não há a mínima chance de uma ditadura, porque as instituições são muito fortes no Brasil. Com seus erros e pecados, mas elas são fortes exatamente para preservar a democracia.

O Congresso aprovou medidas para dar transparência ao chamado orçamento secreto, qual a sua opinião a respeito?

Sou contra o orçamento secreto e votei contra. É a vergonha da corrupção nacional a olho nu, por onde jorraram 20 bilhões de reais de dinheiro público sem saber para onde e para quem e sem saber quem destinou. É o emblema da corrupção do Brasil cristalizado. O que se buscou nas votações é dar transparência. A Câmara e o Senado aprovaram que 50% seja destinado para a área social, saúde e educação. Já é uma coisa boa carimbar esses 50%. É preciso saber se uma cidade comporta esse volume de recursos.

Qual a sua expectativa em relação ao próximo governo?

O governo (do PT) já pagou um preço alto lá atrás, eu votei pelo impeachment da Dilma Rousseff, era líder de bancada e trabalhei para esse impeachment acontecer. Pagaram um preço alto pelos desmandos nos fundos de pensão, na Petrobras e em vários lugares. Os economiários da Caixa Econômica têm descontos nos seus salários para cobrir o furo no fundo de pensão. Se o governo não estiver vacinado para que isso não se repita, aí não tem mais condição.

Pela sua experiência na Câmara, o Centrão, que deu sustentação ao governo de Bolsonaro, integrará a base do governo Lula?

Não tenho nenhuma dúvida. O Centrão não muda de lugar. Quem muda é o governo, não o Centrão.

O senhor pretende voltar a se candidatar?

No início do ano vamos discutir, agora estamos fazendo o balanço geral do partido no estado. Na sequência vamos conversar e saber. Minha vontade de disputar eleição não existe. Para quem tem tantos mandatos cumpridos, estou procurando cumprir este da melhor forma possível.