"É papel do Estado cobrar pelo menos tudo o que está no contrato, e é o que nós fizemos, até antecipamos algumas obras", disse o governador
"É papel do Estado cobrar pelo menos tudo o que está no contrato, e é o que nós fizemos, até antecipamos algumas obras", disse o governador | Foto: Marcos Zanutto



O pedágio no Paraná é caro, e o lucro das concessionárias, altíssimo. A avaliação é do governador Beto Richa (PSDB), que ao mesmo tempo em que diz reconhecer que os contratos assinados em 1997 para a concessão do Anel de Integração à iniciativa privada são onerosos, defende também a postura de seu governo em agir com legalidade no cumprimento do acordo e na exigência de que as empresas cumpram com as obrigações previstas até 2021. Essa é a data de término da vigência das concessões.

O governador cumpriu agenda em Londrina e região nessa sexta-feira (23), um dia após a deflagração da Operação Integração, 48ª fase da Lava Jato, que investiga supostos crimes de corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro na concessão de rodovias do Paraná que formam o Anel de Integração. Entre as seis pessoas presas temporariamente por determinação do juiz Sérgio Moro está o diretor-geral do DER-PR (Departamento de Estradas de Rodagem), Nelson Leal Júnior. Ele e o assessor da Casa Civil, Carlos Nasser, que teve o pedido de prisão negado por Moro devido à idade avançada, foram afastados de seus cargos pelo governo. Também estão entre os detidos o diretor-presidente da Triunfo Econorte em Londrina, Hélio Ogama. A concessionária opera três praças de pedágio no Norte Pioneiro, uma delas, a de Jataizinho, com a tarifa mais cara do Estado em média (R$ 22).

Richa esteve pela manhã em Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), onde assinou a ordem de serviços para início das obras de duplicação da BR-369, no trecho entre Jataizinho e Cornélio. A obra será executada pela Econorte, subsidiária da Triunfo, em um investimento de cerca de R$ 226,7 milhões em 34,3 quilômetros da rodovia. À tarde, o governador visitou a FOLHA, onde foi recebido pelo superintendente, Nicolás Mejía, e à noite participaria do coquetel de lançamento da 48ª ExpoLondrina. O governador concedeu entrevista à reportagem sobre a Operação Integração.

Confira os principais trechos:

Como o senhor avalia a Operação Integração, que resultou na prisão do diretor-geral do DER?
Ficou muito claro na exposição dos procuradores da República que o governador não tem envolvimento algum, não tem nenhuma investigação conosco. São coisas pessoais que eles alegam do diretor do DER (Nelson Leal Júnior) e de um funcionário que está lotado na Casa Civil (Carlos Nasser). O Nasser participou de quatro governos, não tem ligação próxima alguma, como alguns quiseram fazer a conotação. Não tem ligação nenhuma com meu gabinete, nunca defendeu nenhuma empresa lá no governo. Ele tem uma relação pessoal antiga com um dos proprietários dessa concessão antiga. Agora, é minha obrigação tomar medidas. Ambos foram afastados, pedi à Controladoria Geral do Estado providências no sentido de apurar eventuais irregularidades apontadas pelo Ministério Público e a Polícia Federal. Que a tarifa de pedágio é cara, eu nunca deixei de reconhecer. Ela foi cara desde a sua instituição, em 1997.

O senhor acha que a investigação pode gerar desconfiança na população quanto ao cumprimento das obrigações previstas em contrato pelas concessionárias e também quanto ao valor cobrado nas tarifas?
Aí sim é papel do Estado cobrar pelo menos tudo o que está no contrato, e é o que nós fizemos, até antecipamos algumas obras. Importante destacar também que no meu governo chamei as concessionárias para uma conversa, sempre fazendo prevalecer o interesse público. Quando assumi o governo, demorou alguns anos pra começar a retomar as obras porque ficamos nesse período todo negociando com as concessionárias. Fizemos a redução da TIR (taxa interna de retorno), que chegava a 20%, praticamos 8 a 9%, fizemos prevalecer a tabela de custos da planilha do DER para as obras realizadas, não mais a das empresas. É inquestionável tudo o que fizemos. Quem garantiu todos os reajustes foi o governo anterior, quando a tarifa foi judicializada e a Justiça Federal deu ganho de causa a todas as ações para as concessionárias. E ainda com multa aplicada por não cumprimento de contrato. Passa de 6 bilhões de reais de passivo que as concessionárias estão cobrando na Justiça.

Pessoalmente, como o senhor vê o contrato de concessão vigente até 2021?
Foi muito alto. Sou contra. Nunca deixei de reconhecer que a tarifa do pedágio era alta, mas nunca fiz exploração demagógica. Está aí, tem que esperar acabar. Já tentaram acabar várias vezes, a Justiça sempre deu ganho de causa, por que vou bater nessa tecla e ficar enganando a população, ludibriando as pessoas e as obras não acontecendo? Todas as obras estão aí, obras de qualidade, boas, mas o contrato é de 1997 e foi feito num valor alto. E tem que ver que a realidade do Paraná mudou. Hoje o fluxo de veículos que passam nas praças de pedágio é muito maior do que quando foi feito o levantamento para tarifas que eram fixadas. O lucro das empresas, não há dúvida, é altíssimo.