O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, e outras quatro pessoas viraram réus por cobrança de propina, lavagem de dinheiro e tráfico de influência em transações realizadas pela Copel – companhia estatal de energia do Paraná. As informações foram publicadas pelo site Plural de Curitiba e confirmadas pela reportagem da FOLHA. A denúncia foi protocolada no início do mês pelo Ministério Público do Paraná.

Trata-se da investigação que envolve suposto crime de cobrança de propina e lavagem de ativos na aquisição de duas empresas do setor eólico, ambas da Galvão Engenharia, a um custo de R$ 196,9 milhões. A denúncia assinada pela promotora Michelle Ribeiro Morrone Fontana aponta que o parlamentar teria recebido da empreiteira cerca de R$ 5,1 milhões para facilitar os negócios.

A negociação teria ocorrido entre 2011 e 2014, quando Barros comandava a extinta Secretaria da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul do Paraná no governo Beto Richa (PSDB). Entre os réus estão ainda os executivos da Galvão Eduardo Queiroz Galvão e Jean Alberto Luscher de Castro, delatores do esquema, e dois empresários próximos ao político.

Ainda segundo a ação revelada pelo site Plural, o MP apontou que há indícios de que a maior parte da propina recebida pelo parlamentar por ter articulado a venda dos empreendimentos eólicos à Copel tenha sido repassada ilegalmente por executivos da Galvão Engenharia como doação eleitoral, motivo pelo qual as investigações foram conduzidas pela Promotoria de Justiça Eleitoral e tramitam na 3ª Zona Eleitoral de Curitiba.

A denúncia ainda apura que Barros teria usado dinheiro de propina para fazer transações imobiliárias em conjunto com a empreiteira em Maringá para lavar ativos. Segundo o MP, havia sido direcionado R$ 1,2 milhão do dinheiro pago pela Galvão Engenharia, mas em modo oficial o empreendimento foi encabeçado por uma imobiliária maringaense. No entanto, documentos colhidos durante mandado de busca e apreensão cumprido em setembro do ano passado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado revelaram a existência de “acordo de gaveta” que garantiria a Barros cerca de 18,57% dos lucros do negócio.

A assessoria de imprensa do MP e TRE (Tribunal Regional Eleitoral) confirmaram o trâmite do processo, mas não repassaram informações sobre a ação, que corre em sigilo.

Imagem ilustrativa da imagem Ricardo Barros vira réu por suposto esquema de propina em contrato com a Copel
| Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados

O QUE DIZ O DEPUTADO

Barros, em nota , diz que irá provar sua inocência e que a denúncia seria uma retaliação dos promotores. Ele acusou o Ministério Público de fazer ativismo político, pois considerou "estranho o fato de ter sido protocolada exatamente no dia 3/11, quando estava na pauta a votação na Câmara da PEC 5 que desinteressa o Ministério Público pois alterava a composição do Conselho Nacional do Ministério Público."

Segundo o parlamentar, auditorias independentes realizadas mostraram ausência de dano ao erário na compra do parque eólico pela Copel. "O próprio delator reconhece que a venda foi abaixo do preço. Não houve tráfico de influência".

Ainda segundo o pepista, não há irregularidades em aquisições feitas por ele e suas empresas. "Os depósitos citados pelo MP são lícitos e estão declarados no meu imposto de renda ou das minhas empresas. As aquisições também estão declaradas."


Sobre as suspeitas de crime eleitoral, o líder de Bolsonaro diz que a doação eleitoral oficial da Galvão ao diretório nacional do PP foi lícita e espontânea. "Os valores foram distribuídos a vários candidatos que concorreram na eleição de 2014. A mim, foi destinado menos de 20% do valor total, como reconhece o próprio MP eleitoral."

COPEL

Ao portal G1, a Copel informou que a propósito de processo instalado no Supremo Tribunal Federal (STF) – e seus eventuais desdobramentos em outras esferas do Poder Judiciário – recebeu, em 9 de agosto de 2019, carta de ordem expedida pela Corte referente a fatos ocorridos nos anos de 2011 e 2013.

"A Copel não foi citada nem cientificada por nenhuma outra esfera da Justiça a respeito do caso e segue monitorando o andamento do processo e mantendo interações constantes com as autoridades competentes a fim de preservar o melhor interesse da empresa e da sociedade paranaense. O processo, no qual a Copel é vítima, corre sob sigilo no STF", disse a empresa por meio de nota.