Curitiba - Das políticas sociais para o desenvolvimento industrial e tecnológico. A mudança nas prioridades neste primeiro ano de governo tucano no Paraná, depois de oito anos de uma gestão peemedebista, é um dos pontos que mais se destaca na administração de Beto Richa (PSDB), na análise do cientista político e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Emerson Cervi.
A mudança de prioridades vem junto com o perfil bem distinto de características pessoais entre Beto Richa (PSDB) e o ex-governador Roberto Requião (PMDB), o que se verifica, por exemplo, no tratamento dado à questão dos pedágios do Anel de Integração que cortam o Paraná. Depois de brigas judiciais e de silêncio durante dois mandatos, as concessionárias começaram a sentar para negociar com o governo estadual, o que por enquanto rendeu a antecipação de algumas obras importantes, sem que se saiba claramente, até o momento, qual seria a contrapartida definida às pedageiras para aceitarem os pedidos do Executivo.
''A grande avaliação que podemos fazer é que ele (o governador) de fato se posicionou num campo divergente do governo anterior. Não houve só mudança de personagem, mas de perfil administrativo e político. As prioridades mudaram. O que não avançava, agora passou a ter importância. No discurso do Requião percebia-se a prioridade de se gerar empregos e o tom de intervir diretamente em políticas sociais. Claramente o governo Beto não fez isso, focando em favorecer, promover ou estimular o desenvolvimento tecnológico industrial, o que é uma grande diferença'', compara Cervi.
Um dos carros-chefe do governo Beto durante este primeiro ano foi o lançamento do programa Paraná Competitivo, focado em atrair novos investimentos e empresas diversas para o Paraná, com a concessão de incentivos fiscais. Entre os investimentos anunciados nos últimos meses estão a empresa Caterpillar (de máquinas agrícolas), na cidade de Campo Largo; ampliação da Spaipa (de bebidas), em Maringá, e expansão da sede da Votorantim (cal e cimento), em Rio Branco do Sul.
Segundo Cervi, essa opção cria musculatura na economia, mas não necessariamente gera emprego. ''Essa diferença está clara. As consequências de cada um precisamos esperar um pouco mais para ver. Um não é melhor do que o outro, só são diferentes'', diz ele. Sobre ações do governo, Cervi opina que ainda é muito cedo para uma avaliação mais criteriosa. ''Não há tempo hábil, o governo não pode ser cobrado por realizações'', defende.
Características próprias e que definam claramente o governo Beto devem demorar um pouco mais para aparecer e, por enquanto, não se percebem alterações significativas, na interpretação do professor da UFPR e doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fabrício Tomio. ''As características próprias de governo começam a ficar mais claras a partir do segundo ou terceiro ano. Houve menos barulho, menos polêmica, até porque é difícil alguém que goste tanto de polêmica quanto o Requião, e uma mudança de estilo, um pouco mais discreto. Fora isso, como política pública, como efeito significativo de melhoras, nada que se diferencie do governo anterior'', avalia.
Nada de novo também na atração dos deputados do PMDB para a base de apoio. ''O PMDB continua o mesmo, é sempre governo'', diz Cervi. Para Tomio, a coalisão de apoio dentro da Assembleia Legislativa (AL) do Paraná foi formada de forma bem parecida como fez o governo anterior, que possuía o apoio de uma parcela dos tucanos dentro do Legislativo. Na gestão do Estado, outras semelhanças com o início do governo Requião, como a nomeação de parentes para secretarias de Estado (a esposa Fernanda Richa para a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social e o irmão José Richa Filho para a Secretaria de Infraestrutura e Logística) e a declaração de moratória nos primeiros 90 dias.
Ainda na briga entre os dois grupos políticos, Richa se apressou em tomar duas decisões que marcam seu posicionamento: o de realizar uma nova eleição para escolha de um conselheiro para o Tribunal de Contas (TC) do Estado, para a vaga que era destinada ao irmão de Requião, Maurício Requião, mas que há mais de dois anos é contestada judicialmente, pela acusação, entre outras coisas, de nepotismo. No lugar do parentesco, Beto conseguiu colocar uma pessoa de sua confiança, o até então procurador-geral do Estado Ivan Bonilha, que foi o mais votado entre os deputados estaduais para assumir o cargo. Além disso, outra medida que repercutiu durante o ano foi o corte nas aposentadorias de quatro ex-governadores que administraram o Estado após a Constituição Federal de 1988, três deles do grupo antagônico aos tucanos: Mário Pereira, Roberto Requião e Orlando Pessuti.