Brasília - Com a candidatura em leilão, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) passou dez dias tentando marcar uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Às vésperas do fim de semana prolongado, o senador tomou um avião para São Paulo sem conseguir ser sido recebido pelo presidente.
O silêncio de Lula é o mais novo lance de um convívio tumultuado entre Suplicy e o governo do PT, que se interessa por seus votos mas não gosta de suas idéias nem do seu comportamento. Na segunda-feira, 10 de abril, no fim de uma viagem no avião presidencial, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), um dos mais ilustres beneficiários da pizzaria do Congresso, lançou uma idéia para engordar o palanque presidencial de Lula a troca de Suplicy por Orestes Quércia na chapa majoritária do partido em São Paulo.
Conforme essa proposta, Suplicy, um dos mais populares políticos do PT, seria rebaixado a candidato a deputado federal, com a função de alavancar votos para eleger uma bancada que corre o risco de ser dizimada pela ressaca ética do mensalão. Em compensação, Quércia ganharia a vaga de senador.
O deputado sublinhou que tocava no assunto como uma hipótese que só poderia ser levada a sério se ganhasse apoio claro do presidente. Lula ficou em silêncio. Suplicy rejeitou a proposta na hora. Encarando Lula, disse: ''Na minha opinião, a melhor forma de ajudar a sua campanha é manter minha candidatura ao Senado.''
O grupo se dispersou em seguida, mas as conversas paralelas prosseguiram, ainda que o próprio PMDB de Quércia seja arredio a qualquer conversação, pois enfrenta questões internas de fundo para resolver antes de responder a qualquer oferta de aliança.
A idéia do rebaixamento tem aliados em Brasília. O próprio Lula ainda não disse o que pensa. Mas a operação guarda um inconveniente eleitoral quase intransponível, que é a imensa popularidade de Suplicy, preferido por mais de 40% nas pesquisas eleitorais. ''O povo não entenderia'', afirma o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi. ''Além disso, Suplicy é um político capaz de dialogar com a classe média, o que é útil para Lula.''
Nem Marta Suplicy nem Aloizio Mercadante, pré-candidatos ao governo de São Paulo, cogitam dispensar Suplicy de seus palanques. Nas plenárias feitas no Estado, onde os dois se digladiam, o nome de Suplicy é aprovado por aclamação. ''Quando pergunto a eleitores se eles gostariam de ter outro senador, eles dizem que não'', afirma ele. E diz que, na sua opinião, qualquer pessoa do partido pode se apresentar como candidato. ''Mas acho que a única forma de resolver isso é numa prévia, em decisões tomadas democraticamente.''
Aliados antigos, o presidente e o senador se afastaram pela primeira vez em 2002. Lula jamais perdoou a insistência de Suplicy em disputar uma prévia para escolher o candidato presidencial. Após a vitória na eleição de verdade, Suplicy se sentiu marginalizado das conversas para formar o novo governo, embora fosse o líder do PT no Senado e tivesse o direito de se dizer avô dos programas sociais de Lula, por causa do programa de renda mínima.
Sua situação se complicou de vez quando ele rompeu uma decisão da bancada do PT e assinou o requerimento para formar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que abriu a temporada de investigações sobre o mensalão.