Curitiba - Produtores rurais promoveram ontem protestos em pelo menos nove Estados, com bloqueio de estradas e panfletagem, contra a política de demarcação de áreas indígenas. Não houve registro de confrontos nos atos, ocorridos em Roraima, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em faixas e adesivos, ruralistas pediram "justiça" e criticaram a Funai(Fundação Nacional do Índio), que hoje tem a palavra final sobre novas reservas. O governo prepara alterações que também darão poder a órgãos ligados à agricultura nessas decisões. Pressionado por ruralistas, o Planalto já havia suspendido as demarcações no Paraná e no Rio Grande do Sul.
Em Mato Grosso do Sul, principal foco dos conflitos, cerca de 4.000 pessoas participaram do protesto, em que foram distribuídos panfletos e sementes a motoristas que passavam pela BR-163.
Segundo a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS), há 66 propriedades invadidas por índios no Estado. "Pedimos socorro porque estamos sendo desalojados", diz o presidente da entidade, Eduardo Riedel.
Em Roraima, Estado da terra indígena Raposa Serra do Sol, os atos isolaram o Estado por oito horas, com o bloqueio da BR-174. A produtora rural Tatiana Faccio diz que os fazendeiros "sobrevivem" aos efeitos da demarcação, feita em 2005. "Muitas pessoas estão passando dificuldades."
Os ruralistas reivindicam também indenização a produtores afetados pela criação de reservas. Hoje, o dono recebe apenas pelas benfeitorias construídas, não pela terra.
Políticos como a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e os deputados federais Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Paulo César Quartiero (DEM-RR), participaram das manifestações.
Outras 3.000 pessoas também protestaram em Guaíra, no Oeste do Paraná, na fronteira com o Paraguai. Adesivos com os dizeres "Verdade, alimento e união: base de uma nação" e "Confisco, não. Fora Funai" foram distribuídos aos motoristas que seguem em direção à ponte Ayrton Senna, que liga o Paraná ao Mato Grosso do Sul. Pelo menos três parlamentares do Paraná participam do ato: os federais Dilceu Sperafico (PP-PR) e Osmar Serraglio (PMDB-PR) e o deputado estadual Elio Rusch (DEM-PR).
A bancada ruralista vem elevando o tom contra a política indigenista no país e liderou iniciativas como o pedido de uma CPI da Funai e a proposta que transfere do governo para o Congresso a homologação de novas reservas.
Ainda há ao menos 196 terras indígenas a serem demarcadas pelo governo. O Ministério da Justiça estuda comprar áreas para alocar fazendeiros afetados e indenizar quem tiver que deixar a terra.
Índios e ruralistas protagonizaram conflitos graves nas últimas semanas. Em Mato Grosso do Sul, um índio morreu durante uma operação de reintegração de posse coordenada pela Polícia Federal.