Brasília - O grupo estratégico da PGR (Procuradoria-Geral da República) criado após a depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília já vê elementos suficientes para denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por incitação a atos antidemocráticos.

Na ultima sexta-feira (13) a PGR pediu e o STF (Supremo Tribunal Federal) aceitou incluir Bolsonaro no inquérito que apura a instigação e autoria intelectual dos ataques golpistas por ter publicado um vídeo em sua conta no Facebook questionando sem provas a validade das eleições. A mensagem foi apagada depois.

Os investigadores aguardam informações que foram solicitadas ao ministro Alexandre de Moraes sobre a publicação para avaliar o alcance e as circunstâncias da postagem no Facebook.

Caso a denúncia se confirme e o STF aceite, será a primeira vez que Bolsonaro será considerado réu em um processo criminal por ameaça às instituições enquanto presidente.

O subprocurador-geral da República Carlos Frederico, que assina a representação, pediu que seja determinado à Meta (dona do Facebook) a preservação do vídeo apagado e os metadados referentes à postagem, como data e IP, para "melhor auferir sua autoria". Também quer saber informações a respeito do alcance do vídeo, como o número de compartilhamentos e comentários.

O pedido da PGR para incluir Bolsonaro no inquérito foi feito a partir da representação de 80 procuradores.

TORNOZELEIRA ELETRÔNICA
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu nesta quarta (18) soltar 220 acusados de participar dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ele também transformou a prisão temporária de 354 acusados em preventiva, por tempo indeterminado, para garantir a ordem pública e a efetividade das investigações. Os investigados devem usar tornozeleira eletrônica e estão proibidos de sair de suas cidades e de usar redes sociais. Além disso, eles terão os passaportes cancelados e os documentos de posse de arma suspensos.
Moraes considerou que os acusados tentaram impedir o funcionamento dos poderes constitucionais constituídos por meio de violência e grave ameaça.Ele apontou haver evidências sobre o cometimento de atos terroristas, inclusive preparatórios, e outros crimes previstos no Código Penal, como: tentar abolir o Estado Democrático de Direito mediante violência; associação criminosa; tentativa de golpe de estado; e ameaça, perseguição e incitação ao crime
O juiz também apontou a necessidade de investigar os financiadores dos atos golpistas, a exemplo do pagamento de passagens e manutenção dos extremistas na capital federal.
ASSESSOR PRESO
Carlos Victor de Carvalho é assessor parlamentar do deputado estadual bolsonarista do RJ Filippe Poubel (PL). Ele é o último dos três presos pela Polícia Federal por suspeita de financiar os atos golpistas em Brasília no último dia 8. CVC, como é conhecido, é líder do grupo "Direita Campos", na cidade de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Considerado até então foragido, ele foi encontrado nesta quinta-feira (19) em uma pousada em Guaçuí (ES). Na segunda-feira (16), Poubel divulgou nota dizendo que "sempre repudiou atos ilegais e evidenciou respeito aos valores democráticos". O salário líquido de Carvalho como assessor parlamentar é de R$ 5.588. Nas redes sociais, CVC criticou o vandalismo em Brasília.
Com a prisão, a PF finaliza os três mandados de prisão que recebeu na chamada Operação Ulysses. Antes, já tinham sido presos o subtenente Roberto Henrique de Souza Júnior e a doceira Elizângela Cunha Pimentel Braga. (Colaboraram Anna Satie e Lola Ferreira/Folhapress)