Curitiba - Depois de vender a Copel e a Copel Telecom em anos anteriores, em 2024 o governo de Ratinho Junior (PSD) deu sequência à sua política de privatizações, com a aprovação da desestatização da Celepar e da Ferroeste. Para analistas, as privatizações fazem parte de uma estratégia para apresentar Ratinho Júnior como uma opção viável à direita nas eleições presidenciais de 2026: um candidato próximo ao empresariado, que aposta em um estado enxuto e não tem grandes dificuldades para aprovar a venda de estatais.

Em junho, o governador foi protagonista do programa nacional do PSD no rádio e na televisão que apresentou um “método PSD” para o Brasil – redução da máquina pública, investimentos em obras de infraestrutura e crescimento econômico. Em outubro, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse que, se o partido tiver candidato à Presidência em 2026, o nome será o de Ratinho Júnior. Neste mês, o próprio Ratinho afirmou que o PSD tem obrigação de se colocar como protagonista em 2026.

As privatizações podem ajudar a moldar a imagem de Ratinho Junior no cenário nacional, em que ele terá que disputar terreno com outros nomes da direita, como os governadores de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos); de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO); e Ronaldo Caiado (União Brasil). Os dois primeiros têm políticas de privatização e são vistos pelo mercado como opções para a disputa presidencial. Além disso, a venda de estatais ajuda a encher o cofre do governo, que utiliza os recursos para obras no estado.

Para o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), as privatizações têm dois fatores positivos para o governador. “Privatizar tem um benefício duplo: o governador ganha apoio empresarial, inclusive de potenciais compradores dessas empresas, e tem uma receita para gastar e parecer um governo mais eficiente. Utilizando essas receitas extraordinárias, ele pode fazer mais coisas e aumentar o seu poder político e eleitoral”, diz o economista.

R$ 3 bilhões em obras

Segundo o secretário estadual do Planejamento, Guto Silva, R$ 3 bilhões provenientes da privatização da Copel serão investidos em obras estruturantes no estado. “Foi depositado um valor de R$ 3 bilhões nas contas do estado e nós temos feito o gerenciamento de recursos e projetos, sobretudo para dar transparência de como estão sendo utilizados esses recursos. O governador nos determinou que todo esse recurso deverá obrigatoriamente ser gasto em investimentos, não será utilizado dinheiro para custeio, pagar conta luz e água”.

De acordo com o governo, quase R$ 2 bilhões deste total já têm destino certo. Em novembro, o governo informou que R$ 257 milhões serão investidos em obras de restauração e ampliação da PR-151, entre Palmeira e Ponta Grossa, e R$ 65 milhões serão utilizados para a compra da área do antigo estádio do Pinheirão, no bairro Tarumã, em Curitiba – o projeto é construir um centro de eventos no local.

Neste mês, segundo Guto Silva, o governo destinou R$ 91 milhões para a restauração de trechos da PR-180 e da PR-281, entre Francisco Beltrão e Dois Vizinhos. “Teremos uma ampliação da infraestrutura para essa região, que precisa desses investimentos devido ao incremento de sua produção. Já foram R$ 91 milhões destinados para essa obra e estamos totalizando R$ 2 bilhões dos R$ 3 bilhões previstos”, afirmou o secretário. “São obras e investimentos que vão trazer melhorias para a população, com novas creches e escolas, pavimento asfáltico e muitas obras de infraestrutura.”

O balanço do governo informa que a maior parte dos recursos obtidos com a venda da Copel, no valor de R$ 1,2 bilhão, será investida em obras de infraestrutura. Em seguida vêm os investimentos em cidades (R$ 350 milhões), incentivo ao crédito (R$ 150 milhões), educação (R$ 102 milhões) e habitação (R$ 59 milhões). De acordo com o governo, até o início do mês de dezembro, 135 cidades do estado foram beneficiadas com algum dos 161 projetos desenvolvidos.

Doutor em Ciência Política, Breno Pacheco Leandro vê a política de privatizações como estratégica para Ratinho Junior. “Isso tende a ser uma característica no governo de Ratinho Júnior, até por uma questão estratégica. Isso afeta em uma série de eventos para uma possível eleição em 2026. Essa relação com o empresariado e com o agronegócio são articulações para além da política. Ele começa a articular uma costura para além das ligações com políticos. Isso importa se a gente colocar na balança.”

A próxima estatal a ser vendida pode ser a Sanepar. Segundo fontes ligadas ao Palácio Iguaçu, o projeto poderá ser enviado no primeiro semestre de 2025 à Alep (Assembleia Legislativa do Paraná). Líder da base governista na Alep, o deputado Hussein Bakri (PSD) negou que o tema tenha sido debatido nas reuniões com representantes da Casa Civil do governo.

Longo prazo

O grande risco das privatizações, afirma Eric Gil Dantas, é que seus efeitos só começam a ser sentidos em médio e longo prazos. O economista cita o caso do Rio Grande do Sul, atingido por uma cheia história em maio deste ano. “O Ratinho Junior está se aproveitando desse momento para ganhar os louros das receitas extraordinárias, mas o Paraná está rumando ao que Rio Grande do Sul e Porto Alegre fizeram: degradaram suas burocracias. A precarização do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre foi uma das causas do atraso na resposta às enchentes e da deficiência do monitoramento.”

Alguns dos efeitos já puderam ser sentidos neste ano no Paraná. Segundo pesquisa feita pela Faep (Federação da Agricultura do Paraná) em maio, 85% dos produtores rurais não estavam satisfeitos com os serviços prestados pela Copel privatizada: 38,7% relataram mais de 20 quedas no fornecimento de energia no período de 12 meses e 50 ficaram em média cinco horas sem energia a cada apagão.

“Não fazia nenhum sentido vender a Copel, era uma empresa de excelência, com números bem melhores que praticamente todas as outras do setor”, afirma Eric Gil Dantas. Para ele, com o passar do tempo há uma tendência de o eleitorado não relacionar a venda das estatais à queda na qualidade dos serviços ofertados. “As consequências dessas privatizações são diluídas, são de médio e longo prazos e não se refletem no ciclo eleitoral.”

Aprovação recorde

Pesquisa do instituto Quaest divulgada no início de dezembro mostrou que Ratinho Junior tem aprovação de 81% dos paranaenses e somente 15% de desaprovação (foram ouvidas 1,1 mil pessoas, com 16 anos ou mais, entre os dias 4 e 9 de dezembro). Em abril, o índice de aprovação era de 79%. Os números mostram que o governador do Paraná não terá dificuldades para se eleger senador em 2026, por exemplo.

“O número de melhorias que ele fez no interior é algo que chama a atenção, quando comparamos a outros governo. E deu muitos incentivos para o agronegócio”, analisa o cientista político Breno Pacheco. “Em Curitiba, ele não tem tanta aprovação, mas é só sair da capital que a aprovação aumenta. Ele vem diminuindo a máquina pública e utilizando os recursos.”

Balanço

No balanço de 2024, o governo do Paraná afirmou que investiu R$ 4 bilhões em obras rodoviárias; R$ 3,5 bilhões na melhoria da infraestrutura das cidades (337 municípios ainda têm obras em andamento, no valor aproximado de R$ 2,4 bilhões); R$ 400 milhões na área da Cultura; R$ 82 milhões na compra de equipamentos para as escolas estaduais; R$ 250 milhões em segurança alimentar; R$ 34 milhões em mais de 300 eventos turísticos no estado; e R$ 8 milhões em municípios que enfrentaram situações de emergência em decorrência das chuvas.

Outro destaque de 2024 foi a aprovação do projeto Parceiro da Escola, que prevê a terceirização da administração de escolas estaduais. Após a aprovação na Alep e a consulta à comunidade escolar, o governo anunciou no início do mês que 82 escolas serão terceirizadas, com o repasse de mais de R$ 1 bilhão para três grupos empresariais em quatro anos.