A eleição de vereadoras negras e mulheres trans, em 15 de novembro, desencadeou uma onda de ataques racistas e ameaças virtuais de morte contra estas futuras parlamentares em municípios como Belo Horizonte (MG) e Joinville (SC). No entanto, neste domingo (6), mais uma vereadora recém-eleita divulgou em suas redes sociais uma mensagem que recebeu com o mesmo teor. Em nota, Ana Carolina Dartora (PT), 37, primeira mulher negra eleita na Câmara Municipal de Curitiba, disse que o caso já está aos cuidados do delegado Pedro Felipe, do 1ª Distrito Policial de Curitiba, que contará com o apoio do Nuciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes) na condução do inquérito.

Imagem ilustrativa da imagem Primeira vereadora negra eleita em Curitiba é alvo de ataques
| Foto: Joka Madruga

O texto foi recebido por e-mail neste sábado e possui a mesma estrutura dos que foram enviados às vereadoras Ana Lúcia Martins (PT), primeira mulher negra a ser eleita em Joinville, e Duda Salabert (PDT), primeira mulher trans e vereadora mais votada da história da Câmara Municipal de Belo Horizonte, com 37 mil votos. No entanto, o fato de terem sido eleitas com expressiva votação - Carol Dartora teve 8.874 votos e Martins 3.126 - não é a única simultaneidade entre elas. Dartora e Salabert são professoras da rede pública de ensino e Martins é servidora pública aposentada da educação.

O agressor se refere à vereadora com adjetivos que não serão reproduzidos pela reportagem. Em seguida, diz que passa por dificuldades financeiras enquanto a vereadora recebe um bom salário, até dar da início às ameaças. “Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho aqui no Rio de Janeiro e uma passagem só de ida para Curitiba e vou te matar. Eu já tenho todos os seus dados e vou ai na sua casa (endereço omitido)”, diz.

Antes de ameaçar disparar contra a vereadora novamente, o autor da mensagem diz que cometerá suicídio da mesma maneira e chega a citar o endereço da parlamentar “Depois de meter uma bala na sua cara e matar qualquer que estiver junto com você, vou meter uma bala na minha cabeça. Não adianta avisar a polícia ou andar com seguranças. Nada no mundo vai me impedir de te matar e me matar em seguida. Até breve”, concluiu.

Ainda na noite deste domingo, a vereadora ameaçada informou à FOLHA que iria formalizar a ocorrência na Polícia Civil ao longo desta segunda-feira. “Esperamos sensibilidade da segurança pública aqui em Curitiba para apurar o mais rápido possível e não chegarmos em uma situação mais grave. É realmente o meu endereço que está ali e isso me deixou muito assustada”, lamentou por telefone a professora da rede estadual do Paraná e integrante do núcleo de diretores da APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná).

Em outras oportunidades a vereadora petista disse que seu destino não seria o mesmo de Marielle Franco, cujo assassinato ao lado do motorista, Anderson Gomes, completará 1000 dias nesta terça-feira ainda sem os mandantes do crime terem sido punidos.

ASSINATURA FALSA

Questionada sobre o nome que assina a mensagem, Carol Dartora lembrou trata-se uma assinatura falsa, uma pessoa que também está sendo vítima possivelmente de um grupo com aspirações "neonazistas", afirmou. “Esse nome que está sendo utilizado não condiz e inclusive a estrutura do e-mail é semelhante, o que nos faz acreditar que é uma rede de neonazistas, pessoas de extrema-direita que estão fazendo isso”, avaliou.

Enquanto muitas pessoas acreditam que casos como este não merecem investigações mais aprofundadas, um relatório obtido pelo projeto Fiquem Sabendo junto ao Departamento de Polícia Federal, prova o contrário. Os dados, obtidos através da Lei de Acesso à Informação, mostram que até novembro deste ano, 93 inquéritos foram abertos para investigar o crime de apologia ao nazismo.

Ao todo, 302 inquéritos policiais foram abertos entre 2003 e novembro deste ano em todo o País, sendo 2020 (93), 2019 (66), 2010 (22) e 2018 (17) os anos com mais denúncias apuradas. O Paraná aparece em terceiro lugar, com 23 inquéritos, atrás de Rio de Janeiro (64) e São Paulo (86). A lista segue com Rio Grande do Sul (21), Santa Catarina (16) e Minas Gerais (14).