Problemas de áudio, imagens imperfeitas, conexão lenta, cortes abruptos. Além do confronto de ideias, os 10 candidatos a prefeito de Londrina vão ter que lidar com as armadilhas da tecnologia para acentuar pontos fortes e atenuar pontos fracos no esforço de se apresentar ao eleitorado. A atuação em lives - quem imaginaria? - passa a ser importante na guerra pelo voto.

Imagem ilustrativa da imagem Primeira reunião virtual de candidatos antecipa modelo de embate à distância
| Foto: Reprodução

Encontros entre postulantes sempre foram marcados por bastidores agitados, jogos psicológicos, incluindo manifestações calorosas dos correligionários, provocações com olhares. Mas a campanha eleitoral chegou antes da pandemia ir embora e as lives inauguraram um outro modelo de embate, as lives. Nelas, cada um no seu quadrado, tentam vencer a monotonia de um confronto não presencial.

O primeiro round deste embate ocorreu no evento “Sua Excelência, o Eleitor”, sabatina promovida na terça-feira (6) pela Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) com apoio das principais entidades do setor produtivo. De acordo com apuração da reportagem, é o único evento do gênero agendado para este mês. No dia 5 de novembro, outros dois encontros dos prefeituráveis devem ser realizados. De manhã, a convite do Fórum Desenvolve Londrina, eles vão falar com os eleitores sobre temas que estão na mira do movimento, voltado ao monitoramento de indicadores socioeconômicos e ao planejamento estratégico da cidade. À noite, o duelo será em um debate de fato, na TV Tarobá.

TEMAS

Na Acil, os candidatos abordaram três temas escolhidos em consenso pelas entidades: desenvolvimento, Plano Diretor e desburocratização. Cada intervenção teve o tempo máximo de dois minutos, além de um minuto para considerações finais. O mediador foi o jornalista Diogo Hutt, responsável também pelo sorteio da ordem de participação (Leia texto ao lado).

O painel da live mostrava desde candidatos que preferiram estúdios profissionais a outros em ambientes com características bem domésticas. A qualidade do áudio, da iluminação e o tempo de delay variou do adequado ao sofrível, o que certamente ajudou ou atrapalhou as mensagens. Um dos candidatos preferiu falar em pé, enquanto os outros permaneceram sentados. Nenhum deles usou terno e gravata. Apenas um optou pela formalidade do blazer. Dois deles preferiram o despojamento da camiseta. A interrupção automática das falas imposta pelo cronômetro, regra cumprida rigorosamente pelos organizadores, marcou boa parte da live, especialmente na primeira rodada. Um dos candidatos alegou não conseguir ver o relógio com a contagem regressiva, o que prejudicou seu desempenho.

Mas a sensação de quem acompanhou a íntegra da sabatina (que continua à disposição dos internautas no canal Acil Londrina do Youtube) é que a falta de intimidade da maioria dos participantes com eventos on-line reduziu a margem de confronto e a combatividade dos postulantes.

ESTÉTICA

O filósofo e comentarista político Elve Cenci acredita que as peculiaridades da campanha ainda estão em processo de assimilação pelas equipes de trabalho. “Há uma estética a ser desenvolvida. Não é como no programa eleitoral, onde há uma formatação da mensagem. Na live, o ritmo é diferente. Ser cativante exige outros atributos”, comenta.

De todo modo, não se pode dizer que o marketing político foi pego de surpresa com as exigências de novas qualidades da era digital. O ambiente político das últimas eleições já dava sinais de que a atuação no ambiente virtual é cada vez mais primordial para o sucesso das candidaturas.

Clodomiro Bannwart, outro pesquisador das ciências políticas, acredita que as lives, embora realizadas hoje por ser a única forma de encontro em tempos de isolamento social, são mais um degrau da escada que está levando a súmula do debate público para o ambiente digital. Ou seja, o aprendizado do uso destas ferramentas será cada vez mais um diferencial no jogo político.

“Mas vejo um aspecto também positivo na proliferação das lives”, destaca Bannwart. “Se um evento como este da Acil, por exemplo, fosse realizado de forma presencial teria uma limitação de plateia, com convidados. Claro que a cobertura da imprensa informaria o público sobre o que aconteceu. No entanto, a live está lá disponível para qualquer cidadão assistir e formar sua própria opinião, o que se transforma em mais uma oportunidade para ajudar a fazer sua escolha”, avalia.

O que eles disseram na sabatina

Para Boca Aberta (Pros), “a cidade está pobre, com um dos IPTUs mais caros do Brasil”. O candidato prometeu isenção total do IPTU em 2021 e 2022 para garantir empregos no comércio. Márcio Stamm (Podemos) aposta na implantação de um parque industrial e do Plano Diretor, além de tornar o ambiente para os investidores mais amigável. O Delegado Águila (MDB) ressaltou a importância da Cidade Industrial. O ex-prefeito Barbosa Neto (PDT) lembrou que quando esteve no cargo a cidade foi destaque na geração de empregos. Márcio Sanches (PCdoB) prometeu priorizar os pequenos empreendimentos e evitar a saída deles para os municípios vizinhos. Carlos Scalassara (PT) disse que dará ênfase na sua gestão no apoio aos microempreendedores individuais, ao turismo rural e à economia criativa. Junior Santos Rosa (Republicanos) disse acreditar que o desenvolvimento deva ser integral e que atinja todas as regiões da cidade. Alvaro Loureiro Jr. (PV) afirmou que vai levar riqueza e renda para os distritos. Já Tiago Amaral (PSB) prometeu que vai criar um centro de apoio ao empresário e que vai atrair indústria com base tecnológica. O prefeito Marcelo Belinati disse que pretende auxiliar as empresas com dificuldades com crédito acessível e que vai implantar o Masterplan.

Sobre outro tema, desburocratização, Delegado Águila afirmou que pretende qualificar os contadores. Scalassara aposta na inteligência artificial para auxiliar a produtividade do funcionalismo. Marcelo Belinati disse que a primeira gestão no Executivo foi de muitos avanços e que vai aprofundar o programa no segundo mandato. Já Tiago Amaral sugeriu que a cidade deve usar os ativos do ecossistema de inovação e avançar na digitalização dos processos.

Márcio Sanches afirmou que vai simplificar os trâmites e confiar no cidadão “até prova em contrário”. Junior Santos Rosa anunciou que vai investir em transparência, com regras e leis mais claras.

Boca Aberta garantiu que vai conceder alvará prévio, com a exigência de documentos depois que a empresa estiver funcionando por seis meses.

Márcio Stamm prometeu criar uma estrutura integrada e de atendimento exclusivo aos empresários. Já Barbosa Neto disse que vai implantar a Sala do Empresário e exaltou seu desempenho neste quesito quando exerceu o cargo. Alvaro Loureiro Junior afirmou que vai simplificar os processos com responsabilidade e que irá observar sempre a legalidade. (L.F.M.)