"Ele conseguiu surpreender a todos com seu discurso, que foi muito além do tema corrupção. Eu tenho me surpreendido com a garra e capacidade desse homem chamado Sergio Moro. Uma repercussão que sem dúvida mexeu com o mundo político nos últimos dias." A avaliação foi feita pela presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu, em Londrina na sexta-feira (10) durante evento com lideranças da legenda no Estado, dois dias após ato de filiação do ex-ministro e ex-juiz federal ao partido.

Imagem ilustrativa da imagem Presidente do Podemos crê que Moro possa romper polarização
| Foto: Gustavo Carneiro

Renata veio a Londrina para participar de encontro partidário com lideranças locais e estaduais do Podemos para estruturar candidaturas a deputados estaduais e federais. O presidente estadual do partido, o ex-prefeito de Guarapuava Cesar Silvestri Filho, também recebeu a parlamentar na reunião no Hotel Crystal (centro). À noite, Renata Abreu participou de um simpósio sobre direito eleitoral em que debateria a PEC da Reforma Eleitoral, da qual foi relatora na Câmara

Questionada sobre a viabilidade da terceira via, a presidente do Podemos disse acreditar que há um vácuo a ser preenchido diante da polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Tem um campo a ser explorado. O ex-presidente Lula está com essa vantagem porque está quieto e silencioso e não está apanhando. É natural que durante o processo eleitoral tudo o que aconteceu em relação à corrupção venha à tona e tenha uma queda. A gente acredita neste diálogo pela terceira via, que representa o sentimento da maioria dos brasileiros."

Outra análise é que ao se lançar candidato Moro terá que responder a ataques dos dois principais oponentes. Ou seja, para defender seu legado à frente da Operação Lava Jato terá que explicar as anulações dos processos no STF (Supremo Tribunal Federal), que o julgou parcial, sobre os áudios vazados, e explicar suas escolhas políticas, como o ingresso no governo de Jair Bolsonaro, em 2018. "Sergio Moro é um homem de muita coragem, quando ele largou o cargo de juiz e decidiu sair do Ministério da Justiça justamente por seguir seus princípios ele já foi alvo de muita gente. Ele está preparado e decidido para enfrentar os polos que vêm dividindo o Brasil nos últimos anos."

COMPOSIÇÕES

A presidente do Podemos não descarta a composição com outros partidos para viabilizar essa terceira via para as eleições 2022, mas disse que o partido trabalha por Moro como cabeça de chapa. "É natural que a terceira via se converse, mas se existir um candidato com um potencial eleitoral, melhor que ele nas pesquisas, que eu acho difícil, não teria problema em compor. Mas o projeto é de Moro presidente da República." Renata ainda pontuou que existem diálogos com outros candidatos da terceira via como tucanos, com o MDB da senadora Simone Tebet e com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM). "Nós só comporíamos num cenário onde o candidato deles estivesse melhor, o que hoje eu acho difícil."

Além do mote anticorrupção, a presidente do Podemos avaliou que o ex-ministro trouxe ao seu discurso de filiação outros temas para poder ampliar seu leque aos eleitores para sair da "bolha lava-jatista". "O Podemos sempre liderou outros movimentos, que não é só o combate à corrupção. O projeto de violência contra a mulher é uma bandeira do Podemos, a educação como grande ferramenta de transformação social e o principal ponto de defesa no discurso de Moro foi a força-tarefa no combate à pobreza. O pior problema do país é desigualdade social."

A deputada disse que pesquisas internas do partido demonstram que Moro mexeu no tabuleiro eleitoral e é o único pré-candidato que larga com dois dígitos, atrás de Lula e Bolsonaro. "O momento é outro. Agora Moro poderá de fato esclarecer como as coisas realmente aconteceram. O centro quer um candidato com potencial de ir para o segundo turno."

REFORMA ELEITORAL
Relatora da PEC da Reforma Eleitoral na Câmara, Renata Abreu voltou a defender a volta das coligações nas eleições proporcionais aprovada na Casa e que ficou de "stand by" no Senado. Segundo ela, o projeto de sua relatoria era pelo sistema distrital e distrital misto, mas sem apoio dos demais partidos a solução foi a volta ao passado. "Foi um acordo feito em plenário. Mas acho ainda que é melhor a volta das coligações do que esse sistema que aumenta significativamente o número de candidatos. Imagina 30 partidos tendo que montar chapa pura e quanto isso irá custar de recursos. O sistema atual confunde o eleitor e as pessoas não compreendem o sistema proporcional, onde ela vota em um candidato e elege outro." A volta das coligações foi criticada pelos três senadores paranaenses do Podemos: Alvaro Dias, Oriovisto Guimarães e Flávio Arns.