Curitiba – O empresário paranaense Pedro Joanir Zonta, fundador e presidente da rede de supermercados Condor, elaborou uma carta pedindo que seus funcionários votem no candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. O documento vazou nas redes sociais na noite de segunda-feira (1º), um dia antes de ser entregue, gerando constrangimento e desconfiança por parte dos trabalhadores.

"Nestes tempos de crise econômica e de muitos boatos eleitorais venho até vocês para esclarecer os fatos desta eleição tão importante para todos nós brasileiros e para o futuro do nosso país (…) Ele [Bolsonaro] não tem medo de dizer o que pensa; protege os princípios da família, da moral e dos bons costumes; luta contra o aborto e contra a sexualização infantil; é a favor da redução da maioridade penal e segue os valores cristãos", escreveu Zonta.

O empresário também listou 11 motivos que justificariam sua escolha, como "preservação da família", "garantia de ordem e progresso; garantia de propriedade; país sem corrupção e liberdade para governar". Disse, ainda, que não vota na esquerda, sem citar nomes, porque os candidatos desse espectro político seriam favoráveis ao "fim da família, destruição das empresas brasileiras, aumento do desemprego e da criminalidade", entre outros pontos.

"Nesta carta, fica meu compromisso, com você meu colaborador hoje, de que não haverá de forma alguma, corte no 13º (décimo terceiro) e nas férias dos colaboradores do Grupo Condor. Acredito no Bolsonaro, votarei nele e peço que confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo", finaliza Zonta.

Procurada, a assessoria de imprensa do Condor confirmou a veracidade da carta e disse se tratar "de um documento interno do presidente da empresa a seus empregados, posicionando-se em relação à situação do país e das eleições".

Imagem ilustrativa da imagem Presidente do Condor envia carta pedindo que funcionários votem em Bolsonaro
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REAÇÃO
Após a divulgação da carta, a procuradora do Trabalho Cristiane Sbalqueiro Lopes notificou a direção da rede, para que o presidente compareça a uma audiência às 17 horas dessa terça-feira (2) na sede do MPT (Ministério Público do Trabalho), em Curitiba. O órgão pede que o empresário esclareça informações contidas no documento. O Condor informou que o jurídico do grupo está tomando ciência da situação.

O MPT também emitiu uma nota pública alertando as empresas e seus funcionários sobre a proibição de imposição, coação ou direcionamento nas escolhas políticas de empregados. Segundo o órgão, a prática pode caracterizar discriminação em razão de orientação política, o que configura irregularidade trabalhista e pode ser alvo de investigação e ação civil pública.

No mesmo dia, a Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná instaurou procedimento preparatório eleitoral contra o Grupo Condor e seu presidente. A intenção do Ministério Público Eleitoral é aferir se as declarações constantes na carta podem, de alguma forma, constranger os funcionários. "O voto universal, direto e secreto é um dos pilares da democracia brasileira. Assim, todos os eleitores devem ter a liberdade de escolher o candidato que melhor o representa", diz trecho do comunicado.

"Nas relações de trabalho existe o que, no direito, é chamado de ‘temor reverencial’, que consiste no receito de desagradar a certa pessoa de quem se é psicológica, social ou economicamente dependente. No caso dos empregados do Grupo Condor, existe a dependência econômica, pois seus salários são pagos por quem assinou a carta", prossegue o MP.

No entendimento da procuradora Eloisa Helena Machado, a coação é clara, pois, numa época de desemprego exacerbado, o funcionário pode temer a perda de seu emprego, seja pelas rezões políticas expostas na carta, seja por retaliação do empregador, caso venha a saber que seu "pedido" não foi atendido.

"Quando o dono de uma grande empresa divulga a seus funcionários em quem irá votar e, ao mesmo tempo, pede 'que confiem em mim e nele para colocar o Brasil no rumo certo', há clara ofensa ao direito de escolha desses empregados", afirmou. O órgão também informou que vai apurar se o Grupo Condor está, de alguma forma, financiando a campanha eleitoral do candidato ao qual declarou apoio. O financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas é vedado pela legislação.

Os empregados do Grupo Condor podem fazer denúncias sobre a situação na empresa pelos canais de atendimento do MPF (Ministério Público Federal), pelo e-mail do Núcleo de Atendimento ao Cidadão ([email protected]) ou pela sala de atendimento ao cidadão disponível no portal do MPF (www.mpf.mp.br/para-o-cidadao/sac).

HAVAN
O posicionamento de Pedro Joanir Zonta começou a circular logo após um vídeo de outro empresário ser divulgado nas redes sociais. Luciano Hang, dono das lojas Havan, aparece ameaçando sair do país e, consequentemente, demitir 15 mil funcionários, caso Bolsonaro perca as eleições. Ele disse ter feito uma pesquisa de intenção de voto com os trabalhadores da Havan e descobriu que 30% pretendem votar branco ou nulo.

"Você está preparado para ganhar a conta da Havan? Você, que sonha em ser líder, gerente, crescer com a Havan, já imaginou que tudo isso pode acabar no dia 7 de outubro e a Havan pode no 1º dia fechar as portas", declarou.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Hang negou ter intimidado os funcionários e alegou que não seria democrático obrigar alguém a votar em determinada pessoa. Por outro lado, reforçou a tese de que, se não for voto no Bolsonaro, os brasileiros terão apenas outra opção, o PT, e que, sim, caso Fernando Haddad (PT) ganhe, vai rever o plano estratégico da rede de logas e se preparar para deixar o Brasil.